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Médica recebe encomenda com cobra presa à embalagem: 'Minha pressão caiu'

Cobra estava entre o papelão e a fita adesiva - Arquivo pessoal
Cobra estava entre o papelão e a fita adesiva Imagem: Arquivo pessoal

Luiz Fernando Figliagi

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

27/09/2022 22h47

Uma médica ginecologista da cidade de Oliveira, município na região central de Minas Gerais, encontrou uma cobra-coral dentro de uma encomenda enviada após uma compra na internet, na última segunda-feira (26).

Gilma de Fátima conta que comprou os papéis de presente por um site de compras e, antes do pacote chegar até ela, ele teria passado por pelo menos outras duas pessoas: um entregador e a secretária de seu consultório.

A cobra se manteve quieta e só foi aparecer quando a ginecologista resolveu abrir o pacote. "Eu cheguei com a tesoura para cortar a fita adesiva, mas vi uma coisa colorida que estava mexendo", explica.

Segundo Gilma, ela chegou a ligar para o Corpo de Bombeiros, mas não conseguiu o retorno. "Foram chegando os pacientes e a gente apavorada. Minha pressão caiu e eu em pânico".

Como não sabia o que fazer com a cobra, ela telefonou para o marido e pediu ajuda. "A cobra foi retirada com a ajuda de uma pinça. Ele é muito cuidadoso levou para soltar em um local distante", comenta.

A ginecologista também entrou em contato com a empresa que fez a entrega, mas a companhia disse que não havia o que fazer para ajudá-la.

O UOL entrou em contato por e-mail para tentar entender se a empresa tem algum posicionamento sobre o caso, mas não obteve resposta.

Verdadeira ou falsa?

Segundo o biólogo, doutor em zoologia e especialista em répteis da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), Henrique Caldeira Costa, 38, a cobra-coral encontrada pela moradora da cidade de 40 mil habitantes, é falsa.

Conforme o biólogo, existem cerca de 40 espécies de corais-verdadeiras no Brasil e quase a mesma quantidade de corais-falsas. "Como são muitas espécies, cada uma com suas características, a diferenciação geralmente não é simples", afirma.

Costa também ressalta que a soltura destes animais em lugares inapropriados pode gerar um desequilíbrio ambiental.

"Para ser mais específico, a cobra em questão é do gênero científico Oxyrhopus. Tem duas espécies comuns no sudeste do Brasil deste gênero, e são muito parecidas: a Oxyrhopus guibei e a Oxyrhopus trigeminus", completa.

Elas costumam se alimentar de lagartixas e roedores, e segundo o pesquisador, se a encomenda tiver sido enviada de uma cidade do sudeste, seria quase impossível saber quando ela entrou no pacote.

"Quem mais correu perigo foi a própria cobrinha, que poderia ter sido morta pelas pessoas por medo e falta de conhecimento", comenta.

Como distinguir?

No Brasil, existem 430 tipos de serpentes e atualmente, 21 estão em risco de extinção. "Esta espécie é típica de áreas abertas e não de florestas e consegue sobreviver mesmo em ambientes alterados, como resquícios de vegetação que ainda existem nas cidades", fala o zoologista.

Para ele, uma pessoa normal não conseguiria distinguir de forma fácil uma cobra-coral verdadeira de uma falsa: "A identificação por leigos é difícil, até a gente que trabalha com o bicho e os especialistas podem confundir".

A recomendação, nestes casos, é nunca manusear o bicho - conforme o biólogo, o mais correto a se fazer é chamar as autoridades responsáveis.

Picadas

Por sorte, Gilma não foi picada. "A cobra não tentou me picar, porque uma parte do corpo dela estava grudada na fita da embalagem. Ela não conseguia sair de lá sozinha, meu marido teve que descolar ela", diz a mineira.

Em situações de uma possível mordida de serpente, o professor da UFJF diz que é necessário lavar o local com água e sabão e procurar uma equipe médica.

"Beber água, se manter hidratado e ir o mais rápido possível para o pronto-socorro, para poder ser avaliado por uma equipe médica e caso seja necessário, ser administrado o soro antiofídico", diz.