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Estudante de direito denuncia agressão em estação de trem de SP: 'favelado'

Sandro alega ter sido agredido a caminho da faculdade após ter sido acusado de pichar um muro por transeunte - Arquivo pessoal
Sandro alega ter sido agredido a caminho da faculdade após ter sido acusado de pichar um muro por transeunte Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

13/10/2022 20h31

Um estudante de 29 anos denuncia ter sido agredido a caminho da faculdade na estação Presidente Altino, em São Paulo, na noite de terça-feira (11). Sandro Irineu de Lira Filho tinha acabado de deixar a estação de trem quando um homem o abordou ainda na passarela, dando voz de prisão, o acusando de pichação e o levando de volta à estação, onde o estudante afirma ter sido vítima de agressões novamente, desta vez com auxílio de seguranças da estação. A ViaMobilidade, responsável pela estação, e o suposto agressor, negam as agressões dos profissionais de segurança.

Apesar do universitário negar a pichação, o pedestre que o abordou, identificado como Robert Roney Guimarães, teria atacado o jovem, além de chamá-lo de "neguinho", "favelado" e ter dito que o país não era "Cuba" para que ele fazer "o que quisesse".

Em entrevista ao UOL, Sandro contou que foi segurado pelos braços e pelo pescoço. "Acho que ele me confundiu com alguém e me deu voz de prisão. Eu estava a caminho da faculdade quando ele me abordou. Eu disse isso para ele e ele me respondeu: 'mas quem disse que neguinho favelado faz faculdade? Você não faz faculdade coisa nenhuma'", relembra o estudante, que cursa a faculdade de direito na UNIFIEO (Centro Universidade Fieo).

O jovem conta que foi arrastado pelo agressor de volta à estação, onde foi acusado novamente de ter pichado um muro, desta vez em frente aos seguranças.

"Eles não me perguntaram nada, me colocaram com os braços para trás, me jogaram no chão e não deixaram eu pegar o meu celular para ligar para a polícia."

Segundo consta no boletim de ocorrência, os homens teriam feito um cordão humano em volta do estudante, com a intenção de impedi-lo de fugir do local.

Eu fui deslegitimado, não tive como me defender. O cara podia ter me acusado de qualquer coisa e ninguém ia me ouvir. Eles não me deixaram explicar nada. Me agrediram, ficaram me tratando como se fosse um marginal, como se fosse um bicho. Me jogaram no chão sem direito de defesa. Não me deixaram pegar minha bolsa para pegar meu celular, eu queria ligar para a polícia e não deixaram. Eles fizeram um cordão para não me deixar ir nem no banheiro. Não sei o que passa na cabeça para colocar o patrimônio acima de uma vida sabe? Um dos guardas me disse que se eu passasse lá de novo ele ia me matar.
Sandro Irineu de Lira Filho, estudante universitário

sandro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Estudante relatou que foi agredido por um pedestre e pelos seguranças da ViaMobilidade
Imagem: Arquivo pessoal

Sandro registrou um boletim de ocorrência no 5º DP de Osasco. A reportagem entrou em contato com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) para questionar sobre os próximos passos da investigação e sobre um possível indiciamento. Em nota, a pasta informou que "as partes já foram ouvidas e foi requisitado exame de corpo de delito para a vítima, que está em elaboração e será analisado pela autoridade policial tão logo for concluído" e que "as investigações prosseguem pelo 9º Distrito Policial de Osasco".

Procurado pelo UOL, Robert Guimarães afirmou que o estudante não foi agredido. "Nenhuma dessas marcas ou machucado foi feito por mim ou pelos seguranças do trem. Até o momento que eu registrei o meu boletim, Sandro estava andando para todo o lado com a calça levantada, sem nenhum corte ou raspão. Isto é mentira".

Continuidade difícil

Sandro afirma que retornou às aulas ontem e acabou encontrando os guardas, que ainda não foram identificados, na estação que usa para seguir até a faculdade.

Eles ficaram de risadinha, me seguindo. Eu vou ter que começar a ir de ônibus para a faculdade porque não quero passar pelas ameaças que já passei, pelo constrangimento, pelas agressões. O melhor caminho agora é mudar a minha rota.

O estudante diz que passou por um abalo psicológico forte e que se sente inseguro desde o ocorrido. "Acho que eu vou precisar até de terapia pra poder ver se eu se eu volto pra minha vida normal, pra dar conta da minha vida normal. Porque estou tendo várias crises de ansiedade, crise de pânico, do nada começar a chorar", afirmou.

Procurada, a ViaMobilidade, responsável pela operação e segurança da estação, negou as agressões.

"A ViaMobilidade informa que não houve agressão por parte dos agentes da Estação Presidente Altino. Os funcionários realizaram apenas o acionamento da Polícia Militar para a condução do evento. Os envolvidos foram encaminhados ao 5º Distrito Policial de Osasco, onde foi registrado Boletim de Ocorrência."