Sanguinário e debochado: quem é Celsinho da Vila Vintém, rival de Beira-Mar
Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, 61, foi solto na tarde desta quarta-feira (19) após 20 anos de prisão. Fundador e chefe da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), Celsinho é considerado um dos traficantes mais influentes do Rio e tem histórico de afrontas à polícia, fugas cinematográficas e brutalidade.
Rival das facções Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP) no tráfico de drogas, também é considerado o principal inimigo de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que cumpre pena na penitenciária federal de Mossoró (RN).
A saída de Celsinho da cadeia é vista como um sinal de alerta: o traficante pode alterar a dinâmica do crime organizado no estado do Rio, onde exerce mais influência. Entre as possíveis consequências da liberdade do traficante, estão o fortalecimento de milícias, do CV ou a sobrevida do grupo criminoso de Celsinho.
A fundação da facção criminosa ADA por Celsinho ocorreu nos anos 1990, quando ele estava preso por tráfico, roubo e organização de quadrilha. A ADA passou a exercer forte influência na favela da Vila Vintém, em Padre Miguel, e dominava outras regiões da zona oeste do Rio. O avanço da organização criminosa fez com que a facção disputasse o poder do tráfico com o CV e TCP.
O grupo criminoso de Celsinho também era conhecido pela brutalidade de seus ataques. Um dos membros de sua quadrilha, chamado supostamente de "Machadinha", esquartejava as vítimas sob comando de Celsinho — motivo pelo qual o traficante chegou a ser chamado de sanguinário pela polícia, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.
Fuga com disfarce
O traficante também era influente entre as forças de segurança: oito anos após ser preso, Celsinho conseguiu escapar da prisão, em 1998, vestindo-se de policial militar.
Suspeita-se que ele tenha saído pela porta da frente do Hospital Penitenciário Fábio Macedo Soares, onde estava internado para a extração de uma bala alojada no braço, com a conivência de agentes penitenciários, que teriam recebido R$ 1 milhão.
Na época, cinco suspeitos foram afastados de suas funções.
Celsinho também foi investigado por supostamente ter uma rede de policiais informantes. Em 2002, policiais militares foram punidos sob acusação de fazer a segurança do traficante na festa de aniversário da filha dele, em um clube em Realengo.
Visão 'empresarial'
O traficante tornou-se o mais procurado do Rio no início dos anos 2000 e era visto como um criminoso diferente dos demais porque tinha uma "visão empresarial" do tráfico.
"Celsinho é um comprador em potencial e um varejista. Sabe onde está a droga de qualidade", disse a inspetora Marina Maggessi, chefe de investigações da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) à época, em reportagem da Folha de S.Paulo, de 2001.
Naquela época, a inspetora também atribuiu a manutenção de Celsinho no poder ao que ela chamava de "assistencialismo safado" na Vila Vintém: em troca de silêncio, a população da área recebia do traficante alimentação, cesta básica e assistência médica.
"Talvez Celsinho seja o único que ainda se utilize desde artifício para não ser cagoetado pela população", disse a inspetora. Ele dominava o tráfico em 90% das favelas da zona oeste do Rio.
'Merreca' e foto sorrindo
Em 2002, o traficante foi recapturado e adquiriu a fama de debochado ao ser fotografado sorrindo com as mãos algemadas. Em entrevista após a prisão, disse que o tráfico nem era tão lucrativo.
Afirmou, à época, que faturava R$ 50 mil por semana, o que considerava "uma merreca". Segundo a polícia, porém, ele lucrava cerca de US$ 10 milhões por mês com o comércio de drogas.
O criminoso também desafiou a polícia dizendo que controlaria o tráfico dentro do presídio.
No mesmo ano em que foi preso, Celsinho foi poupado por Beira-Mar, em um ataque no presídio que terminou com a morte de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, integrante do CV que tinha se unido à ADA. Outros três presos também foram mortos.
O traficante da Vila Vintém disse ter escapado porque a família de Beira-Mar passou a ter amizade com a sua no setor de visitas do presídio. Em 2005, ele foi testemunha de defesa de Beira-Mar, condenado a 120 anos pelas mortes. "Vim aqui, como testemunha dele, para pagar a dívida, por terem me deixado vivo", disse à época.
Por que Celsinho da Vila Vintém foi solto?
Em maio de 2017, Celsinho foi transferido do presídio federal de segurança máxima em Porto Velho, Rondônia, para a Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino, Bangu I, no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio.
Pesava contra ele era uma acusação de ter tramado e comandado o cerco à favela da Rocinha, onde duas pessoas morreram, e cinco ficaram feridas durante uma disputa entre traficantes de facções rivais em 2017.
A participação dele na ação, no entanto, foi colocada em xeque depois que o Ministério Público do Rio de Janeiro levantou indícios de armação.
A desembargadora Suimei Meira Cavalieri, da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, concedeu na semana passada um alvará de soltura.
Celsinho permaneceu preso até que a Vara de Execuções Penais verificasse pendências. Essa análise foi feita, e na segunda-feira (17), o juiz Marcello Rubioli concedeu a liberdade.
Celsinho agora responderá em liberdade à acusação de ter comandado uma invasão à Rocinha.
Ao UOL, o advogado de Celsinho, Max Marques, negou qualquer reaproximação do seu cliente com o crime. "O que ele quer agora é ter uma nova vida e recuperar o tempo perdido junto à família. O passado é passado", disse o defensor.
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