Topo

Esse conteúdo é antigo

Mineiro 'sósia de Mr Bean' faz sucesso internacional ensinando matemática

Do UOL, em São Paulo

24/10/2022 04h00Atualizada em 24/10/2022 06h09

Com mímicas e praticidade em vídeos curtos, o doutor em estatística Rafael Bastos, 33, virou sucesso internacional resolvendo problemas e equações matemáticas em vídeos que correm o mundo. Em apenas uma de suas publicações, o professor teve 130 milhões de visualizações, explicando como fazer uma multiplicação.

O mineiro começou a fazer vídeos explicativos da matéria ainda na pandemia, em 2020, mas aproveitou a semelhança física com o personagem britânico Mr. Bean para "mudar a fórmula" e alcançar um número de pessoas ainda maior.

Os trejeitos do Mr. Bean, criado e interpretado por Rowan Atkinson em 1990, conferem aos conteúdos de Bastos um ar cômico, com direito a caretas ao término de vários dos vídeos. Para o professor, no entanto, a semelhança não seria suficiente para explicar o engajamento que obtém nas redes sociais. "Isso é um toque especial, o que faz sucesso é a forma de ensinar", afirma.

Hoje, somando o perfil do Mr. Bean brasileiro no TikTok, Instagram e Youtube, ele tem mais de 9 milhões de seguidores.

"Muitas pessoas não imaginam que o Mr. Bean da Matemática é brasileiro, justamente por eu adotar o método de mímicas para resolver os exercícios. Não tem uma linguagem como o português ou inglês em destaque, e sim uma forma universal, porque a mímica e a matemática são linguagens universais", explica o professor em entrevista ao UOL.

Paixão pela matemática

O professor fala da matemática como quem trata de um amor de longa data. "Sempre fui fascinado nesse mundo dos números, de realizar cálculo rápido, tanto é que meu apelido era 'calculadora ambulante' na escola, porque eu amava fazer cálculos com raciocínio rápido", conta.

Assim que concluiu o ensino médio em uma escola da rede pública de Divisa Nova, município de seis mil habitantes em Minas Gerais, Rafael ingressou na graduação em matemática pela Universidade Federal de Alfenas.

Ele engatou a formação com um mestrado e um doutorado na área de estatística, dando aulas em uma escola particular, em um Instituto Federal e em uma universidade mineira.

Com redes sociais somadas, professor tem mais de nove milhões de seguidores - Mr. Bean da Matemática/Reprodução de vídeo - Mr. Bean da Matemática/Reprodução de vídeo
Com redes sociais somadas, professor tem mais de nove milhões de seguidores
Imagem: Mr. Bean da Matemática/Reprodução de vídeo

Há dois meses, porém, o professor deixou todos os empregos que tinha como docente para se dedicar exclusivamente às redes sociais.

Hoje, ele diz ganhar menos do que antes, recebendo retorno financeiro apenas de vídeos no YouTube (plataforma na qual tem mais de 400 mil inscritos) e em ações publicitárias pontuais no Instagram.

"Meu trabalho nas redes sociais é 100% voluntário. Tenho o objetivo de criar meu curso, meus materiais, futuramente. Mas, no momento, o meu trabalho visa ajudar milhões de pessoas. Para mim, o meu grande salário é o amor, o carinho que eu recebo em todo lugar que vou. Meu grande objetivo não é ficar milionário, é ensinar milhões", conta.

Outra missão do professor, que estudou toda a vida em escola pública, é a de desmistificar a ideia de que a matemática é um monstro.

Muitos professores de matemática têm aquela imagem de serem carrascos, de sentirem prazer em aterrorizar os alunos, em reprovar e dificultar o ensino. Tenho a missão de fazer o oposto: quero mostrar que a matemática é algo saboroso e importante na vida de todos.
Rafael Bastos, o Mr. Bean da Matemática

Rotina

Hoje, dedicado totalmente para a produção nas redes, o professor "dorme e acorda" pensando em matemática. "Se estou navegando na internet e já surge uma ideia, eu paro na mesma hora e já me visto para gravar. Tem vezes que eu passo o dia inteiro com a roupa no estilo do Mr. Bean, para facilitar", afirma.

O professor estima que 95% das questões que traz para resolução nos vídeos sejam criações da cabeça dele. Os métodos de resolução, por sua vez, são criados por ele, mas também aprendidos com outros professores ao redor do mundo.

"Prefiro muito mais mostrar para meus alunos nas redes sociais uma matemática mais fácil do que querer mostrar para eles exercícios muito difíceis, porque estarei atingindo um público bem menor", afirma.

Ele gosta de lembrar que não precisou de uma estrutura milionária para alcançar seguidores nas redes sociais, usando um aparelho de celular de R$ 500 como câmera e sendo a "única pessoa" da sua equipe.

Apesar de ter a própria independência, ele lembra que conta com a ajuda dos pais, também passando parte do tempo na casa deles.

Por mais de um ano, Rafael usou uma caneca em cima de uma cadeira para apoiar o celular e fazer gravações, acompanhado de uma lâmpada, usada como um holofote. Hoje, ele comprou um tripé para investir na carreira.

Hoje, ele garante que o personagem diferente não causa estranhamento em colegas, e sim admiração de muitos, até mesmo na pequena cidade em que nasceu, que visita com frequência e onde grava vídeos em locais públicos, como na praça ou em uma horta. "Para mim, o maior valor são as mensagens que recebo de agradecimento", afirma.