Aluno denuncia assédio de professor no WhatsApp: 'Ver as notas e algo mais'
Um professor é investigado suspeito de assediar sexualmente um adolescente de 14 anos, seu aluno em uma escola pública de Beberibe, no litoral do Ceará. O homem de 40 anos manteve uma conversa com o menino por uma rede social depois de receber uma mensagem da vítima em 12 de outubro desejando um bom Dia dos Professores a ele e outros docentes.
O suspeito respondeu o "parabéns" no dia seguinte, agradecendo, mas seguiu interagindo com o menino sobre assuntos extraclasse, questionando se ele estava sozinho em casa e o que estava fazendo com seu tempo livre no final de semana. Ele ainda questionou o menino se ele tinha curiosidade de saber em primeira mão a nota de um trabalho que tinha entregado alguns dias antes, aproveitando para insinuar que também poderia mostrar "algo a mais" se o estudante estivesse interessado.
O aluno afirmou que gostaria de ver "só as coisas da escola", mas o professor insistiu algumas vezes na oferta: "Além da nota, não quer ver mais nada?". Prints enviados à TV Verdes Mares pela mãe da vítima, mostram que o adolescente ainda questionou o adulto sobre o que ele estava insinuando, perguntando "o que tinha mais para ver", mas o suspeito continuou com indiretas, respondendo apenas: "Imagina".
Sem se contentar com as negativas do garoto, o professor chegou a pedir para fazer uma chamada de vídeo com ele, mas mudou de tom ao perceber que o estudante estava irritado com a situação, pedindo calma e que a vítima apagasse as mensagens entre os dois.
Mas em vez de manter o caso no sigilo, o estudante do 8° ano do Ensino Fundamental levou o caso para a direção da escola. Em um primeiro momento, o profissional não sofreu nenhuma sanção e continuou dando aulas, inclusive para a turma do menino.
O caso só ganhou repercussão na comunidade escolar depois que o menino teve uma crise de ansiedade em sala, com estudantes e a família do jovem se mobilizando para que o suspeito fosse afastado do trabalho.
A mãe da vítima afirma que não foi procurada pela escola e que conversou com a direção apenas após tomar a iniciativa, momento em que os responsáveis decidiram levar o caso à delegacia da cidade, contando com a conversa — não apagada pelo adolescente, apesar dos pedidos do professor — como provas. Questionado sobre a interação, o suspeito afirmou que a situação é um mal-entendido.
"Se ele não tivesse coragem de dizer, o que ia acontecer? Será que ia partir para outra coisa ou iria ficar só nessa conversa? Por que o que dói mais é a todo momento ele querer culpar meu filho, ele disse pra delegada que foi só uma brincadeira, quem brinca com um negócio desses? Com um conteúdo desses?", questionou a mãe do aluno à afiliada da Globo no estado, em entrevista anônima.
Ainda segundo a mulher, o adolescente está se sentindo culpado pela situação, enquanto o suspeito afirmou estar sendo alvo de perseguição.
"Eu não tenho direito de chegar e falar para qualquer pessoa que seja o absurdo que ele falou meu filho. Meu filho ele é vítima, mas virou o culpado de tudo, ele está carregando nas costas uma culpa, como se ele estivesse errado, e ele não está. O professor chegou a mandar um áudio para o grupo da sala do meu filho, dizendo que ele entendeu tudo errado, que está exagerando. A escola está sendo vítima, o professor está sendo vítima, e o meu filho? Está sendo o quê? O causador de tudo isso?", criticou ela.
Em nota ao UOL, a Secretaria Municipal de Educação de Beberibe, responsável pela escola, afirmou que "foi comunicada a respeito do caso e realizou os devidos encaminhamentos às autoridades competentes, para que as mesmas tomassem as providências necessárias".
"Informamos que o profissional de educação foi preventivamente afastado de todas as suas atividades laborais desde que a Secretaria de Educação tomou ciência do ocorrido, uma vez que será necessário aguardar as investigações das autoridades competentes", concluiu o comunicado, destacando que os detalhes serão protegidos, já que o caso agora corre em segredo de Justiça.
O inquérito, sob responsabilidade da Delegacia de Beberibe, foi instaurado depois de uma denúncia do Conselho Municipal de Proteção da Criança e do Adolescente à Polícia Civil. Procurada pela reportagem a SSPDS (Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social), que engloba a corporação, não respondeu ao contato até o momento da publicação.
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