Topo

Esse conteúdo é antigo

Estudante envia mensagens nazistas e homofóbicas em grupo da escola no DF

Alunos recebem mensagens nazistas e homofóbicas em grupo da escola no DF -  Reprodução
Alunos recebem mensagens nazistas e homofóbicas em grupo da escola no DF Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

05/11/2022 20h49Atualizada em 06/11/2022 10h46

Alunos do ensino médio de uma escola particular de Brasília receberam imagens e mensagens com ameaças, ofensas homofóbicas e apologia ao nazismo em um grupo de WhatsApp. O caso —que aconteceu na última segunda-feira (31), no dia seguinte ao segundo turno das eleições — envolveu ofensas a eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e referências de apoio ao presidente derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro (PL).

As mensagens às quais o UOL teve acesso incluem figurinhas de armas e símbolos do nazismo, além de violência contra LGBTs e imagens de Bolsonaro. Uma delas traz um "kit de volta às aulas" composto por botas, uma capa, óculos escuros e uma arma.

O conteúdo foi enviado por um aluno e por outras quatro pessoas que não têm relação com a turma e possuem números de telefone de outros estados. Essas quatro pessoas não foram identificadas pelos estudantes e por seus pais. O UOL procurou a polícia - onde o caso foi registrado -, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.

Ao ser confrontado por uma das alunas —que pontuou que aquele era um grupo escolar, que as mensagens eram "crime" e que ela os denunciaria para a diretoria da escola —, um dos participantes disse que "mulher não tem respeito e direto a nada". A mesma pessoa chama a jovem de "feminista de merda" e critica a aparência dela.

Outro dos envolvidos disse que já foi para a direção "por tentar jogar um coquetel molotov de madrugada na escola e tentar aplicar um golpe de estado contra a representante [da turma]" —não fica claro a quem ele se refere.

Alunos recebem mensagens nazistas e homofóbicas em grupo da escola no DF - Reprodução - Reprodução
Alunos recebem mensagens nazistas e homofóbicas em grupo da escola no DF
Imagem: Reprodução

Uma das adolescentes ofendidas nas mensagens acabou sendo ameaçada também no chat privado. Um dos homens desconhecidos que entrou no grupo disse a ela que "preste mais atenção no que faz ou no que apoia" e afirmou que ela deve estar atenta "quando estiver andando pela escola". Na conversa, ele também mandou uma mensagem em russo que, traduzida, diz: "ideias erradas".

Pais procuraram direção da escola e polícia. Um dos alunos contou sobre as mensagens para a mãe, que entrou em contato com os pais dos demais estudantes. Juntos, decidiram procurar a escola e a polícia, registrando um boletim de ocorrência eletrônico.

A mãe de uma das alunas, que pediu para não ser identificada, disse acreditar que os adolescentes muitas vezes "não entendem a gravidade dessa apologia ao nazismo, ataques homofóbicos". Ela mostrou apreensão com relação à segurança da filha e das amigas, que têm na faixa dos 17 anos, e disse que os alunos também estão apreensivos.

"Eu, como mãe, fiquei muito mais apreensiva com as pessoas de fora. Acho bem estranho e gostaria de saber quem são essas pessoas, que nitidamente pelas conversas, são pessoas mais velhas. Isso é um risco para as meninas. Quantos anos têm esses caras, o que fazem da vida? Podem ser só uns babacas, mas a gente não sabe", disse.

A mãe de outro aluno disse que os estudantes conversaram entre si antes de concluir que o colega estava passando dos limites e resolveram procurar ajuda dos pais. De acordo com ela, o filho relatou que o adolescente já tinha um "comportamento estranho", mas que, "depois das eleições, ele perdeu muito a noção".

O UOL entrou em contato com a PCDF (Polícia Civil do Distrito Federal) e com a Secretaria de Segurança Pública para saber quais providências estão sendo tomadas em relação ao caso. Quando houver resposta, a reportagem será atualizada.

A reportagem também procurou a escola onde os envolvidos estudam e aguarda posicionamento.

Casos semelhantes aconteceram em SC e no RS. A UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) informou ter recebido uma carta com ameaças de cunho nazista e assinada com as iniciais "SS" —alusão a uma organização paramilitar ligada ao partido nazista. Nela, pessoas LGBTQIA+, gordas e negras são insultadas e ameaçadas de morte. Foi o segundo caso registrado em duas semanas.

Na carta, os suspeitos dizem que a polícia não os "intimida". "Iremos limpar a universidade e fazer um mundo melhor para os nossos filhos e netos. Mulheres gordas nem para serem estupradas servem. Mulher preta nem para carregar filho serve. Lugar de preto é trabalhando na roça, não em faculdade. Mulher em casa cuidando e esperando o marido", diz um trecho da carta, compartilhada nas redes sociais.

A carta foi encaminhada para a Polícia Civil, que apura em sigilo a identificação de células neonazistas em SC. A universidade ainda afirma que encaminha à investigação "todos os casos de nazismo e racismo que ocorrem nas dependências da instituição, uma vez que se tratam de crimes". "Internamente, a Universidade está registrando e mapeando todos esses episódios."

No Rio Grande do Sul, o MP (Ministério Público) instaurou uma investigação sobre vídeos e mensagens de alunos de dois colégios particulares de Porto Alegre com falas discriminatórias e discurso de ódio contra apoiadores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As gravações envolvem estudantes do Colégio Farroupilha e do Colégio Israelita.

Alunos ofenderam nordestinos em live no TikTok - Reprodução - Reprodução
Alunos ofenderam nordestinos em vídeo no TikTok
Imagem: Reprodução

No Israelita, os estudantes fizeram uma transmissão com falas classistas, ofensas a nordestinos e ironias ao que dizem ser o estilo de vida de pessoas "pobres". No caso do Farroupilha, os alunos xingaram uma estudante bolsista que declarou apoio a Lula em um grupo de WhatsApp.

Em nota, o MP informou que expediu ofício cobrando dos dois colégios que informem, em até 48 horas, se têm conhecimento dos fatos e das medidas adotadas sobre o episódio. A promotoria também cobrou a identificação dos alunos envolvidos.

O Ministério Público encaminhou os casos ao Núcleo de Ato Infracional para ciência e adoção de medidas cabíveis das infrações cometidas pelos adolescentes. Também foram enviados ofícios para a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude para providências na esfera cível em relação à exposição das imagens dos alunos e responsabilização dos pais ou responsáveis.