Topo

Esse conteúdo é antigo

Falsa biomédica é presa após mulher ter lesões em procedimento de R$ 3 mil

Jéssica foi presa por se apresentar como biomédica; ela alega ser estudante - Reprodução/Instagram
Jéssica foi presa por se apresentar como biomédica; ela alega ser estudante Imagem: Reprodução/Instagram

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

24/11/2022 12h16

A Polícia Civil prendeu em Botafogo, na zona sul do Rio, uma mulher que se apresentava como biomédica e realizava procedimentos estéticos sem formação. Jéssica da Silva Andrade é estudante de biomedicina, atendia em um consultório em Ipanema e deixou ao menos uma vítima. Com ela foram apreendidos produtos fora da validade.

A prisão aconteceu nesta quarta (23), mas Jessica pagou fiança e foi liberada. Sua defesa não comentou as acusações.

Policiais da Decon (Delegacia Especial de Crimes contra o Consumidor) identificaram que Jéssica se identificava em redes sociais como profissional de biomedicina estética e realizava os atendimentos em um endereço da avenida Vieira Souto, no bairro de Ipanema. No mês passado, ela passou para outro espaço, em Botafogo, onde os policiais fizeram a prisão.

O funcionamento da clínica clandestina acontecia nos fundos de uma loja de venda de motocicletas.

No local, Jessica se identificou como biomédica, e aos agentes, assumiu que, na verdade, estaria cursando o primeiro período de biomedicina. Segundo a Policia Civil, ela também afirmou não possuir autorização junto à Vigilância Sanitária e Prefeitura e foram apreendidos medicamentos e substâncias fora da validade.

Jéssica foi presa em flagrante pela prática de crime contra as relações de consumo, além do exercício ilegal da profissão de biomédica.

Ao UOL, a defesa confirmou a soltura mediante pagamento de fiança e não comentou sobre o caso da mulher que se diz vítima da suspeita.

"Não há manifestações a serem feitas (...), repudiando veemente qualquer desinformação prestada por terceiros, certo de que os fatos não foram expostos em sua total verdade. Os esclarecimentos cabíveis (...) serão manifestados e discutidos exclusivamente nos autos do processo, sendo a defesa da acusada, totalmente contrária aos atos de divulgações indevidas e sem qualquer lastro probatório", diz a nota enviada pelo advogado Claudio Soares.

'Barriga trincada' por R$ 3.300

Uma das pacientes de Jéssica, que pediu para não ser identificada, procurou a delegacia para registrar queixa contra a falsa biomédica. A vítima realizou o procedimento chamado "barriga trincada" e teve diversas complicações.

paciente - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Paciente de Jéssica mostra lesões após procedimento para 'trincar barriga'
Imagem: Arquivo Pessoal

O procedimento foi realizado em 10 de outubro, quando Jéssica ainda atendia em Ipanema, dentro de um condomínio. A vítima conta que foi recebida pelo marido de Jéssica, que seria chefe da portaria.

"Ela enfiou uma cânula [espécie de mangueira usada em procedimentos cirúrgicos, como lipoaspiração] dentro da minha barriga. Após esse procedimento, passei muito mal, pedi para retirar a cânula, mas ela disse que não poderia porque precisava dar continuidade ao procedimento e retirar o excesso de soro fisiológico que ficou dentro de mim. Fui para casa, fiquei com a barriga muito inchada, sentindo muitas dores, parei em diversos hospitais e fiquei com muito medo de pegar uma infecção", disse a vítima, ao UOL.

O procedimento custou R$ 3.300, valor que chegou a ser devolvido à paciente após as complicações. No dia 23 de outubro a mulher voltou no consultório de Jéssica para fazer um procedimento chamado Carbox, que segundo a falsa biomédica, iria desinflamar e aliviar as dores no abdômen. No mesmo dia, a vítima voltou a sentir fortes dores e mal-estar.

Após esse segundo procedimento, Jéssica não prestou mais nenhum tipo de auxílio, segundo a paciente. A vítima procurou o Hospital Municipal Souza Aguiar com fortes dores abdominais, passou por uma tomografia computadorizada, que identificou uma perfuração na primeira camada de seu abdômen. A vítima segue com a barriga inflamada e tomando os medicamentos prescritos pelos médicos.

"Ela está traumatizada, assustada e com muito medo. Minha cliente está se sentindo humilhada pela absoluta ausência de amparo por parte da Jessica, sentindo dores fortíssimas e temeu muito pela própria vida. Um verdadeiro horror", disseram João Henrique Tristão e Maria Farme D'Amoed, que fazem a defesa da vítima.

Além de Jéssica, os advogados vão entrar também com uma ação judicial contra o condomínio: "Jessica é casada com o porteiro do condomínio, sendo certo que ambos moram ali, não havendo dúvidas que, no mínimo, houve negligência do condomínio em permitir esse tipo de atividade ilícita nas suas dependências", afirmou João Henrique.

A reportagem tentou contato através de um telefone fixo com a administradora do condomínio, mas até o momento, não houve retorno.