Piloto morre após cerol cortar asa de paratrike em SP; mulher fica ferida
Um homem morreu e uma turista ficou gravemente ferida em um acidente de paratrike ocorrido no domingo (25) na praia de Indaiá, em Bertioga, litoral sul de São Paulo.
O piloto, de 61 anos, levava uma turista, de 23, para um passeio à beira-mar quando as cordas que sustentam as asas do aeromotor foram cortadas por linha com cerol de uma pipa, causando a queda de uma altura de 15 metros sobre a calçada da orla, dizem testemunhas.
José Hélio da Rocha, professor de educação física e instrutor de voo, e Lorrana Fernanda Rodrigues, auxiliar de produção, foram levados para o Hospital Municipal de Bertioga. O instrutor sofreu uma hemorragia severa e, por isso, foi transferido ao Hospital Santo Amaro, em Guarujá, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na tarde de ontem. Lorrana segue internada, com fraturas nos pés e na coluna vertebral.
O acidente ocorreu por volta das 13h de domingo, dia de Natal, na avenida Tomé de Souza, na Vila Claís. Segundo a SSP-SP, policiais militares estavam em patrulhamento na região quando foram acionados para o atendimento da ocorrência.
"De acordo com informações de testemunhas, um paraglider havia caído na calçada da praia da Indaiá. Os PMs iniciaram as diligências e, já no local dos fatos, encontraram as vítimas sendo socorridas por uma equipe do Samu. O equipamento foi apreendido e encaminhado para a perícia e o caso foi registrado como lesão corporal na Delegacia de Bertioga", informou o órgão, em nota.
O paratrike é a combinação do parapente com um trike (veículo motorizado), que proporciona ao piloto e ao passageiro realizar todos os procedimentos de voo (decolagem, voo e pouso), sem depender de uma plataforma de salto.
Turista passava Natal com a família no litoral paulista. Em entrevista ao UOL, o pai de Lorrana, Adão da Silva Felipe, 45, contou que a família, que vive em Americana, interior de São Paulo, alugou uma casa no bairro Vista Linda, em Bertioga, para passar o Natal. Eles chegaram na manhã de sábado, véspera da celebração.
"Meu cunhado e a Lorrana viram o pessoal voando e quiseram experimentar. O passeio custava R$ 100 por pessoa. Meu cunhado foi, e gostou muito. Depois um rapazinho que estava na praia e, por último, minha filha. E foi aí que tudo aconteceu", disse Adão.
Minha outra filha ficou lá no lugar de pouso esperando para gravar com o celular a Lorrana chegando. Quando eles estavam se aproximando da praia, ela ouviu o piloto falar com o ajudante, em terra, que alguma coisa tinha dado errado. Foi aí que minha filha começou a ouvir os gritos de desespero da Lorrana.
Lesão grave na coluna
Adão e a esposa não viram o momento da queda. Mas correram para o local assim que a outra filha veio dar o alerta. Segundo a família, Lorrana fez vários exames, entre tomografia e ressonância magnética. Ela fraturou os dois calcanhares e está com uma lesão grave na coluna vertebral, na L1 — região da cintura.
Por conta das fortes dores, a jovem está tomando medicamentos que a deixam dopada, apesar de estar consciente. "Ela está falando, hoje vimos que ela consegue mexer os pés, os braços e também um pouco o pescoço. Isso para nós foi um grande alívio, mas mesmo assim ela vai precisar de uma cirurgia de emergência", declarou o pai.
A família locou a casa até 29 de dezembro e tenta a transferência para hospitais da região de Americana com condições de realizar cirurgias na jovem.
Associação alerta para riscos
Segundo a Associação Aerodesportiva de Bertioga, voar sobre a praia ou qualquer zona considerada urbana é proibido pela Anac e também pela prefeitura municipal.
O RBAC (Regulamento Brasileiro da Aviação Civil) número 103, que versa sobre veículos com até 200 kg, proíbe a operação de veículo ultraleve ou balão livre tripulado sobre áreas densamente povoadas, aglomerados rurais, aglomeração de pessoas e áreas proibidas ou restritas.
Além disso, as atividades regidas pelo RBAC-103 não são elegíveis como SAE (Serviço Aéreo Especializado) e não podem ser comercializadas. Pela legislação vigente (CBAer), a oferta de voos panorâmicos remunerados sem finalidade de instrução é considerada infração ao Código Brasileiro de Aeronáutica.
O presidente da associação, José Maria Souza, informou que o piloto José Hélio da Rocha não fazia mais parte do grupo e que, por conta disso, seus voos já não eram mais monitorados. Ele diz que, mesmo assim, o grupo ficou surpreso ao saber que ele estava cobrando por voos panorâmicos nas praias da cidade.
"Esse tipo de voo não é permitido. A única remuneração permitida para essa atividade é a instrução de voo. Ensinar outras pessoas a pilotar. Achávamos que a jovem que se feriu era conhecida dele, não uma turista. A Anac é bem clara com as regras e a prefeitura também editou um decreto para regularizar isso. Mesmo assim, acidentes acabam acontecendo e, infelizmente, agora tivemos o primeiro acidente fatal envolvendo um paratrike em 40 anos de associação em Bertioga", afirmou José Maria.
O UOL não conseguiu contato com a família do piloto que morreu.
A lei nº270, de 22 de abril de 1998, também proíbe o uso de material cortante - conhecido como cerol - nas linhas das chamadas pipas, empinadas como atividade de lazer em Bertioga. Cabe à Guarda Municipal a fiscalização e apreensão do material utilizado de forma indevida, notificando o responsável.
Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente de Bertioga informou que o município não tem legislação específica sobre operação aerodesportiva e voo livre. Segundo a pasta, a fiscalização e regulação são de competência da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
"A fiscalização na faixa de areia da praia de voo livre e atividades desportivas, bem como a fiscalização e apreensão de linhas de pipa que utilizam cerol e linha chilena acontecem através do Departamento de Operações Ambientais (DOA). As equipes monitoram e orientam os praticantes das atividades como forma de coibir a prática", informou a pasta.
A Secretaria ressaltou, ainda que "o assunto já foi levado e está sendo discutido com o promotor de Justiça local, que está estudando o caso".
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