Topo

Família diz que PM atirou e matou menino de 11 anos na noite de Natal em SP

Do UOL, em São Paulo

07/01/2023 04h00

Luiz Miguel Matias Caje dos Santos foi morto com um tiro na nuca na noite de Natal em Itaquaquecetuba, região metropolitana de São Paulo. Segundo a família, quem atirou foi o cabo da Polícia Militar Oziro Nonato de Oliveira, 48. Na delegacia, o PM negou.

Naquela noite, Miguel andou de moto pela primeira vez. Ele estava na garupa da moto do primo, Alexandre Santos do Nascimento, 23, quando foi baleado.

A gente estava andando e Miguel falou para não irmos muito longe, para a mãe dele não ficar preocupada, aí eu falei que só iríamos descer e voltar. Quando chegamos na rua Serra do Mar, vi que tinha três motos paradas."
Alexandre, primo de Miguel

Segundo testemunhas, durante o dia, parentes do PM estavam em um sobrado na rua onde Miguel foi baleado e jogaram garrafas de vidro em pessoas andando de moto. Por volta das 23h, um dos motociclistas decidiu tirar satisfações com Oziro.

"Quando passamos ali, um cara de vermelho veio querendo agredir a gente e eu desviei dele. Fui para o canto da rua. Aí foi quando apareceu o outro [o policial]. Fui mais para frente, mas ouvi o disparo antes de chegar lá. Ele deu uma coronhada em mim e no Miguel antes de atirar", disse Alexandre.

Aí um pouco mais para frente, o Miguel falou 'eu levei um tiro, eu levei um tiro'. Aí um menino com outra moto me disse que ele estava sangrando. Desci da moto e peguei ele no colo."
Alexandre, primo de Miguel

O que o PM diz

Em depoimento, Oziro, que integra o 32º Batalhão de Suzano, disse que estava no bairro onde a filha mora quando viu sua esposa cercada por cerca de dez motocicletas. Ele alegou que ouviu alguém dizer "perdeu, perdeu". Afirmou que não atirou, apesar de estar com a arma no local, e que não viu ninguém atirando. A arma dele, uma pistola glock .40, foi apreendida.

O que a SSP e a PM dizem

A SSP disse que o caso está sendo investigado Setor de Homicídios de Mogi das Cruzes e que a "autoridade policial aguarda pelo resultado dos laudos periciais".

A reportagem também solicitou entrevista com o policial —à SSP e à PM—, mas não teve retorno.

O que diz quem estava no local

Além da família de Miguel, uma testemunha ouvida pelo UOL, que pediu para não ser identificada, confirma que o disparo foi feito pelo PM. A irmã do policial tem um bar na mesma rua onde a criança foi baleada —e os vizinhos têm medo de retaliação.

A testemunha diz que o PM "já estava bêbado, tinha bebido a tarde toda".

Família quer mudar de cidade

Miguel morava com dois irmãos, a mãe diarista e o pai pedreiro. As crianças nasceram em Itaquaquecetuba e mudaram para Cachoeira Paulista, interior de São Paulo. Foi a pandemia de covid-19 que fez a família voltar para a Grande São Paulo.

Segundo a família, Miguel (de boné amarelo) só brincava na rua para jogar futebol com os primos - Caê Vasconcelos/UOL - Caê Vasconcelos/UOL
Segundo a família, Miguel (de boné amarelo) só brincava na rua para jogar futebol com os primos
Imagem: Caê Vasconcelos/UOL

Agora, os pais querem se mudar. "Tudo lembra ele. Eu sei que qualquer lugar vai lembrar, mas aqui são muitas lembranças", diz mãe Ana Clecia Matias Caje, 36.

Miguel ficou o mês todo riscando o calendário, até chegar o dia da morte dele."

Naquele sábado, Ana Clecia acordou cedo e saiu de casa às 5h da manhã para ir ao Brás, região central da cidade de São Paulo, para comprar a roupa que Miguel tanto queria para aquele Natal. "Ele queria um look preto da Nike. Aí ele ficou: 'o pai tá chavoso?'".

Trecho da rua Serra do Mar, em Itaquaquecetuba, onde Miguel foi baleado e morreu - Caê Vasconcelos/UOL - Caê Vasconcelos/UOL
Trecho da rua Serra do Mar, em Itaquaquecetuba, onde Miguel foi baleado e morreu
Imagem: Caê Vasconcelos/UOL

De noite, a família participou da ceia, por volta das 21h, e continuou a confraternização na porta de casa. Eles acompanhar a queima de fogos à meia-noite. Ana Clecia entrou para pegar a sobremesa —e diz que foi nesse momento que Miguel saiu com o primo para dar uma volta de moto. Ela só viu o filho novamente no hospital.

Meu filho não teve nenhuma chance de sobreviver. O tiro foi fatal, entrou pelas costas e saiu pela garganta."