Aluna de medicina confessa à polícia golpe em formandos da USP
Em depoimento na tarde desta quinta-feira (19) à delegada Zuleika Gonzalez Araújo, a estudante de medicina da USP Alicia Dudy Müller Veiga, 25, confessou o desvio de R$ 937 mil arrecadados pelos alunos da faculdade para pagar a formatura e o crime de apropriação indébita de parte desse valor.
Antes, a informação era de que ela havia desviado R$ 927 mil —a diferença de valores não foi explicada.
O que ela relatou à polícia:
- Alicia admitiu que tirou o valor da empresa contratada para arrecadar o dinheiro para a festa.
- Alegou que o dinheiro não estava sendo bem administrado pela Ás Formaturas e resolveu administrar por conta própria, fazendo "péssimas aplicações" e perdendo dinheiro.
- Disse que tentou recuperar os valores fazendo apostas em uma lotérica.
- Também afirmou que usou parte "para benefício próprio", comprovando o crime de apropriação de valores -- revelou ter usado o dinheiro para bancar aluguel de apartamento e de carro.
O que disse a delegada?
"A Alicia foi interrogada e indiciada pelo crime de apropriação indébita", afirmou Zuleika em coletiva de imprensa. A pena máxima para esse tipo de crime é de quatro anos de prisão e multa.
"Ela narrou que, num primeiro momento, teria sacado os valores porque começou a desconfiar da administração da empresa", continuou. "Sacou num primeiro momento R$ 604 mil porque pensou que poderia investir."
Quando a aluna começou a perder dinheiro com as supostas aplicações, decidiu "retirar todo o valor aplicado [para a formatura] e fazer apostas em casas lotéricas, mas continuou perdendo", contou a delegada.
"Angustiada", Alicia "confessou a apropriação" e passou a usar as quantias em proveito próprio, "tendo uma vida incompatível com a renda que tinha":
- Comprou um iPad Pro de R$ 6 mil.
- Alugou por cinco meses um apartamento por R$ 3.700 (com condomínio).
- Alugou carro por R$ 2 mil.
Ainda segundo o depoimento, Alicia disse que agiu sozinha, mas a delegada vai ouvir a namorada da jovem e estuda interrogar os pais. "Ela disse que não abre a vida pessoal para a família e que só ela tinha conhecimento dessas ações."
A princípio, Alicia vai responder em liberdade. "Agora vamos seguir com as investigações e apurar se há mais fatos delituosos", disse a policial.
São 110 alunos que se esforçaram para entrar na faculdade de medicina da USP e agora estão vendo esse sonho correndo risco."
Zuleika Gonzalez Araújo, delegada
Quebra de sigilo
A investigação quebrou o sigilo bancário da estudante e conseguiu rastrear parte do dinheiro desviado da comissão de formatura em nove transferências em três contas bancárias:
- Novembro de 2021: R$ 604 mil
- Junho de 2022: R$ 144 mil
- Junho de 2022: R$ 3.000
- Agosto 2022: R$ 60 mil
- Setembro de 2022: R$ 24 mil
- Outubro de 2022: R$ 24 mil
- Novembro de 2022: R$ 2.800
- Novembro de 2022: R$ 27 mil
- Dezembro de 2022: R$ 20 mil
Segundo a investigação, os depósitos deveriam ter sido feitos na conta da Ás Formaturas, mas acabaram desviados pela aluna, que também presidia a comissão de formatura.
Alicia pode ser condenada pelos seguintes crimes:
- Apropriação indébita.
- Lavagem de dinheiro por suspeita de usar a verba da formatura em apostas em uma lotérica na zona sul de São Paulo.
- Estelionato, após dar um calote de R$ 193 mil nessa mesma lotérica.
O depoimento estava previsto para acontecer na segunda-feira (23), mas Alicia se apresentou hoje, por volta das 15h, quando chegou abraçada ao advogado.
O depoimento durou quase quatro horas. Ela deixou a delegacia às 19h20 em uma viatura de polícia
O golpe
Alicia usou o WhatsApp no início do mês para dizer aos colegas que desviou os R$ 927 mil arrecadados por eles, durante quatro anos, para a formatura marcada para janeiro de 2024.
Conforme essa versão, a estudante disse aos colegas que, na tentativa de fazer o dinheiro render, sacou o dinheiro depositado na Ás Formaturas e investiu em uma corretora, que teria sumido com o valor.
Um dos estudantes lesados registrou um boletim de ocorrência, que acabou se transformando em investigação do 16º DP (Vila Clementino).
A diretoria da Faculdade de Medicina disse, em nota, que "os fatos estão sendo apurados e busca-se identificar os responsáveis pela fraude. A diretoria está apoiando com orientação aos alunos envolvidos".
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