Policia pede prisão preventiva de aluna de medicina da USP
A polícia pediu a prisão preventiva da estudante Alicia Müller, que confessou ter desviado R$ 937 mil da comissão de formatura de uma turma da Faculdade de Medicina da USP. No inquérito enviado na sexta-feira (27) ao Ministério Público, os delegados pediram que ela seja julgada por apropriação indébita. A defesa contesta.
Concluímos que ela é culpada e encerramos o caso."
Guilherme Santos Azevedo, delegado do 16ºDP de São Paulo
Segundo Azevedo, a investigação colheu provas que indicam Alicia agindo sozinha para desviar o montante e usar parte da verba em benefício próprio —como em aluguéis de flat e carro—, além de apostar o restante em uma casa lotérica.
Como a estudante efetuou nove desvios, a Polícia Civil sugere que Alicia responda nove vezes por apropriação indébita. Com pena prevista de um a quatro anos por cada crime, a estudante pode ser condenada a até 36 anos de prisão.
"Ela também deve pagar multa estipulada pelo juiz", disse o delegado, para quem a pena máxima é "improvável porque ela é ré primária".
No relatório do inquérito, o delegado pediu a prisão preventiva de Alicia, solicitada "em nome da ordem pública". O delegado já havia dito que o caso provocou forte comoção social.
O procedimento foi relatado ao Poder Judiciário na última sexta-feira (27) com o indiciamento da autora por nove apropriações em concurso material. A autoridade policial representou pela prisão preventiva da autora, que está sob análise da Justiça."
Secretaria Estadual da Segurança Publica, em nota
Advogado de Alicia contesta
O advogado de Alicia, Sérgio Ricardo Stocco Giolo, afirmou que a prisão preventiva só pode ser solicitada em caso "excepcional" e aplicada apenas "em casos de extrema necessidade".
"Os fundamentos apresentados são vagos e por isso não são válidos para justificar o pedido da prisão preventiva, porque nada dizem sobre a real periculosidade da acusada, que somente pode ser decifrada à luz de elementos concretos", disse ele ao alegar jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
A jurisprudência do STJ também estabelece que a presença de condições pessoais favoráveis, como primariedade e bons antecedentes, impede, por si só, a decretação da prisão preventiva. A defesa está confiante no indeferimento de referido pedido."
Sérgio Ricardo Stocco Giolo, advogado de Alicia, em nota
Sobre o tamanho da pena ele afirmou que "pouco importa se houve uma, duas ou nove apropriações".
Se houve apropriação dos valores da comissão de formatura nove vezes, em vez de haver punição por nove crimes, haverá punição por um, com aumento de pena", afirmo ao UOL.
Agora o MP tem até a próxima quinta-feira (2) para se manifestar. Para isso, deverá decidir se:
- Repete a denúncia da polícia e pede na Justiça a condenação pelos noves desvios;
- Denuncia Alicia por outro crime;
- Devolve à delegacia pedindo mais provas;
- Arquiva o caso e não apresenta denúncia.
Quebra de sigilo
A investigação quebrou o sigilo bancário da estudante, mas até agora não recebeu os extratos —uma vez que os bancos têm até dois meses para enviar as informações. "Enquanto o MP estiver com o caso, podemos remeter as informações que nos chegam", diz Azevedo.
Os depósitos deveriam ter sido feitos na conta da Ás Eventos —contratada para arrecadar o dinheiro—, mas acabaram desviados pela aluna, que também presidia a comissão de formatura.
Foi durante a confissão que Alicia levou os nove extratos comprovando as transferências para alguma de suas três contas pessoais:
- Novembro de 2021: R$ 604 mil
- Junho de 2022: R$ 144 mil
- Junho de 2022: R$ 3.000
- Agosto 2022: R$ 60 mil
- Setembro de 2022: R$ 24 mil
- Outubro de 2022: R$ 24 mil
- Novembro de 2022: R$ 2.800
- Novembro de 2022: R$ 27 mil
- Dezembro de 2022: R$ 20 mil
A polícia afirma que Alicia apostou cerca de R$ 500 mil e ganhou 17 vezes na Lotofácil, embolsando R$ 170 mil e perdendo R$ 330 mil.
A estudante também viu seus gastos com cartão de crédito dispararem de R$ 2.000 para R$ 7.000 por mês, dinheiro que serviu para comprar um iPad de R$ 6.000 e alugar um Iphone, além de outros gastos pessoais, especialmente com iFood.
Ela também alugava um carro avaliado em R$ 120 mil e um flat de R$ 3.700, possivelmente mobiliado com o dinheiro desviado.
Alicia confirmou ter feito diversas dívidas nos últimos meses e agora amarga um rombo de aproximadamente R$ 20 mil apenas no cartão de crédito. As contas estão todas sem saldo.
"Investigamos se o dinheiro foi passado para outras contas e onde podem estar os resquícios dessas quantias", disse a delegada-chefe Zuleika Gonzalez Araújo.
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