O que se sabe sobre o caso da estudante estuprada e morta na UFPI
Estupros, fotos, filmagem e sangue. Os requintes de crueldade descobertos durante a investigação da morte da estudante de jornalismo da Universidade Federal do Piauí Janaína da Silva Bezerra, 21, surpreenderam a Polícia Civil, que pediu o indiciamento de Thiago Mayson Barbosa, 28.
A brutalidade empreendida pelo autor chamou a atenção no caso. Ele simplesmente não se importou com a vida da vítima, somente com o desejo sexual dele."
Nathália Figueiredo, delegada titular do Núcleo Policial e Investigativo de Feminicídios do DHPP
O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa) concluiu o inquérito no domingo (5), um dia antes do encerramento do prazo legal. Agora, o caso entra na fase processual e o Ministério Público pode ou não fazer a denúncia à Justiça.
Os crimes
Durante uma festa conhecida como "calourada", Thiago Barbosa teria "reconhecido" Janaína de outros eventos universitários e ambos teriam se beijado. Momentos depois, foram para uma sala que Thiago costumava usar para estudar.
Naquele local, segundo a polícia, Thiago estuprou e matou a jovem —e ainda repetiu o ato de violência sexual.
No inquérito, a polícia enumerou quatro crimes: homicídio duplamente qualificado (por emprego de meio cruel e por feminicídio, que é desprezo à condição de mulher da vítima), estupro, fraude processual e vilipêndio a cadáver (violência sexual depois da morte).
Os laudos ainda precisam apontar se a vítima estava sob efeito de "substâncias entorpecentes" —o que pode caracterizar o crime de estupro de vulnerável.
O inquérito
O documento de 42 páginas que investigou o crime foi concluído dentro do prazo legal e encaminhado à promotoria. O indiciamento, afirma a delegada, foi resultado de uma análise técnica dos laudos e do perfil do autor por meio de relatos de testemunhas.
"Recebi o laudo cadavérico e o laudo do local do crime. Não receberia mais provas técnicas, estava com tudo que era necessário para o indiciamento", diz Nathália.
Segundo a delegada, os indícios e os testemunhos coletados foram determinantes para a conclusão do inquérito dentro do prazo.
Ele é dissimulado e demonstrou frieza. Pelo que foi relatado por testemunhas, quando contrariado, ele demonstrava agressividade."
A sala de estudo
Thiago costumava estudar na sala para a qual levou Janaína. Por isso, segundo a defesa, ele teria a chave do local.
Ambos teriam entrado no espaço entre 2h30 e 3h do sábado (28). Do lado de fora da sala, de acordo com a polícia, não havia câmera de segurança para precisar o horário.
O espaço tinha um colchão que, segundo a defesa, era utilizado por Thiago para descansar nos intervalos do estudo. "Havia muito sangue lá", diz a delegada.
Violência física e psicológica
A polícia afirma que Janaína foi vítima de intensa violência física e psicológica. Thiago relatou aos investigadores que ocorreram dois atos sexuais. A delegada afirma que fotos e vídeos mostram a presença de sangue na sala, no corpo da vítima e na mão do agressor.
A polícia confirmou que Thiago teve a segunda relação sexual com Janaína com ela já sem vida —ele foi indiciado pelo crime de vilipêndio de cadáver.
Morte e laudos
A morte de Janaína foi causada pela luxação da coluna cervical durante o ato sexual com extrema violência, segundo o laudo conclusivo do IML, que saiu no domingo. O primeiro laudo da polícia apontava que a causa da morte foi trauma raquimedular [lesão na medula] por ação contundente.
A causa da morte foi luxação da coluna cervical causada pelo uso da violência, concluiu a polícia. "Ela era uma jovem de 1,50 m de altura e ele tem cerca de 1,80 m, 1,90 m", afirma Nathália.
Fotos e vídeo íntimos
A polícia descobriu que Thiago fez vídeos da vítima durante os atos sexuais e tentou apagar. As imagens, recuperadas pela investigação, mostravam ambos sujos de sangue. A primeira foto que a polícia teve acesso mostrava Janaína desacordada com sangue nas pernas e nos genitais.
Por volta das 4h, entre o primeiro e o segundo ato, um vídeo mostra ela comendo uma banana, "em extrema vulnerabilidade", segundo a delegada.
"A segunda foto feita entre 5h e 5h15, mostrava muito sangue e ela deitada de bruços com muito sangue no colchão. Acreditamos que o óbito ocorreu durante a segunda relação."
Ainda conforme a polícia, Thiago fez uma foto da própria mão com sangue às 5h15.
O que falta descobrir
A polícia afirma que ainda falta saber se a vítima estava sob efeito de substâncias entorpecentes. A delegada afirma que o laudo toxicológico será concluído nos próximos dias.
Há uma desconfiança porque o vídeo mostra a jovem em uma situação de alta vulnerabilidade. Não apresentava sinais de que teria entrado em luta corporal. Segundo testemunhas, sabemos que ela havia feito uso leve de álcool."
Prisão
Thiago foi preso em flagrante e teve a prisão em flagrante convertida para preventiva. Após a prisão, a defesa de Thiago disse que ele relatou ter sido uma "relação consensual" e que o que ocorreu foi uma "fatalidade".
Em princípio, a polícia descarta a possibilidade de mais pessoas envolvidas no crime. Mas espera o resultado de um laudo de DNA, que coleta amostras de sangue do corpo da vítima, para confirmar se houve ou não a participação de outras pessoas.
A vítima
A estudante de jornalismo foi a primeira pessoa da família a entrar na faculdade e tinha o sonho de se formar e trabalhar na televisão, conta a irmã, Janiele Silva. No início de janeiro, ela publicou uma poesia em que dizia ansiar pelo futuro.
Janaína entrou na universidade no segundo semestre de 2020. No início do curso, vendeu bolos de pote, com a ajuda da mãe e da família, para comprar um computador para estudar. A previsão era que ela concluísse a graduação em dois anos.
A universidade
Após o crime, a UFPI decretou luto oficial pela morte da estudante e suspendeu as atividades na segunda-feira após o crime (30 de janeiro). Na semana seguinte ao crime, alunos protestaram e relataram más condições de segurança no campus.
Ontem (6), o reitor Gildásio Guedes recebeu a equipe da Secretaria de Estado da Mulher para a criação de um protocolo de enfrentamento à violência de gênero.
A polícia interrogou professores, coordenadores e estudantes. A delegada afirma que como o uso da sala era proibido para terceiros, o fato de ele ter levado Janaína no local é considerado uma transgressão.
O que diz a defesa
Questionada pela reportagem, a defesa de Thiago disse que vai se posicionar na terça-feira (7), após ter conhecimento do laudo e do inquérito.
Na semana passada, a defesa de Thiago havia sustentado a versão de "sexo consensual" e que a morte teria sido uma "fatalidade". A advogada disse também que ele estava abalado após a prisão e preocupado com os familiares.
Não é a intenção de defesa posicionar a vítima como culpada pela fatalidade, isso jamais será nossa bandeira nessa batalha processual. O que temos a declarar é que houve uma fatalidade, tivemos uma vítima e duas famílias sofrendo nesse momento."
Defesa de Thiago Barbosa
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