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'Tragédia que poderia ser evitada', diz advogada de ONG em São Sebastião

Fabíola Perez

Do UOL, em São Paulo

20/02/2023 04h00

A advogada e moradora de São Sebastião, Fernanda Carbonelli, acordou às 3h30 do domingo (19) com um alerta da Defesa Civil no celular chamando a atenção para a quantidade de chuvas previstas para a região da Barra do Sahy.

Da primeira mensagem recebida ao cenário de guerra que tomou conta da cidade, foram mais de 15 horas prestando ajuda às pessoas atingidas pela forte chuva que caiu no litoral norte de São Paulo.

"Estou numa tristeza infinita. Saber que vamos ter que lidar com essa tragédia que poderia ter sido evitada é muito revoltante"
Fernanda Carbonelli, advogada da ONG Instituto Verdescola.

Às 4h do domingo, Fernanda afirma que a ONG abriu as portas para começar a acolher famílias desabrigadas em decorrência das chuvas. Até as 21h do domingo, eram 18 mortos e 53 pessoas desaparecidas somente na região da Barra do Sahy, segundo ela.

A falta de comunicação dificultou a chegada de informações. "Não conseguimos contato com a população. As praias estão totalmente sem comunicação, pessoas estão ilhadas. O que temos conseguido fazer é cuidar dos feridos", diz Fernanda.

Atendimentos médicos e espaços de acolhimentos foram improvisados no espaço da ONG para receber desabrigados e desalojados. "Estamos com mais de 70 famílias em 40 salas de aula, que foram transformadas em hospitais. Conseguimos pegar medicação em um postinho, pessoas foram doando colchões."

Segundo Fernanda, tudo aconteceu muito rápido. "Depois da mensagem da Defesa Civil, o prefeito mandou mensagem pelo WhatsApp, uma funcionária da ONG disse que tinha desabado um pedaço de um morro e, de repente, tudo ficou incomunicável."

Os primeiros feridos começaram a chegar às 7h. "Era um cenário de guerra, eles perguntavam pelas famílias, mães não encontravam os filhos, era uma situação de desespero."

Em meio ao caos, a advogada relata que uma das cenas que mais a impressionou foi a chegada de uma mulher acompanhada dos filhos. "Ela disse que ao mesmo tempo tinha perdido tudo, mas ainda tinha tudo", diz Fernanda, sem conter o choro.

Ver cenas como essas é algo muito triste, saber que existem pessoas soterradas e não poder fazer nada. A gente avisou tanto os órgãos responsáveis que ali era uma área de risco e nada foi feito. Foram muitos anos de omissão."

A advogada diz que atendeu cerca de cem pessoas nas cerca de 12 horas que esteve na sede da ONG. "Agora estamos sem luz, mas ao menos conseguimos tratar dos feridos. Também transportamos as crianças de ônibus para a escola municipal Henrique Tavares", afirma.

Fernanda diz que, em fevereiro de 2019, a cidade foi muito castigada pela chuva, mas, segundo ela, nada comparado ao volume deste ano. "Dessa vez, o morro veio abaixo. Acredito que parte da costa sul vai ter que ser totalmente reconstruída."

O clima na cidade é de solidariedade. "Agora, temos que lutar para salvar mais vidas, para dar acolhimentos e para cobrar melhorias. As pessoas estão tentando se ajudar, oferendo as próprias casas para se ajudarem, veranistas cedendo as casas para se transformarem em abrigos."

Região mais afetada

A região mais afetada, segundo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi o bairro de Vila Sahy, também conhecido como Barra do Sahy, em São Sebastião. Ele informou que aeronaves do Exército chegaram na região para fazer transporte do efetivo do Corpo de Bombeiros e resgatar as pessoas ilhadas.

De acordo com o governador, três hospitais estão prontos para receber os feridos: Hospital de Caraguatatuba, no litoral norte, Hospital de São José dos Campos, no interior, e Hospital das Clínicas, na capital. O governo estadual irá destinar R$ 7 milhões para os municípios atingidos.

Com ruas cheias de lama, estradas interditadas, abastecimento de água comprometido e moradores ilhados, ainda não é possível saber o tamanho exato da tragédia provocada pelo temporal.