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Indígenas ficam ilhados após chuvas: 'Pedra gigante desceu rodando'

Famílias indígenas perderam tudo após as chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo - Arquivo pessoal
Famílias indígenas perderam tudo após as chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL*, em São Paulo

22/02/2023 19h36Atualizada em 23/02/2023 10h02

Membros da Terra Indígena Ribeirão Silveira, localizada entre Bertioga e São Sebastião, litoral norte de São Paulo, ficaram ilhados após as fortes chuvas que deixaram ao menos 48 pessoas mortas. O local é habitado por cerca de 500 famílias das etnias Guarani, Guarani Mbya e Guarani Ñandeva.

Ao UOL, o líder espiritual do núcleo Rio Pequeno, Sergio Macena, disse que muitas famílias perderam tudo e que há possibilidade de outros indígenas ainda estarem isolados.

"Eu levei um susto porque foi a primeira vez que vi uma chuva de tamanha proporção. Foram 12 horas de chuvas seguidas. Foi assustador. Algumas famílias ficaram sem nada e aqueles que moram mais para a Costa do Morro podem ainda estar isolados. E essa é a minha preocupação maior", disse ele.

A casa de Sérgio não ficou alagada e, por isso, ele está recebendo desabrigados. "As pessoas ficaram ilhadas, com a casa inundada. Elas foram para a minha casa em busca de abrigo e até agora tem uma família que está lá."

Ele diz que estava dormindo quando as chuvas começaram. "Era à noite, não dava para ver nada. Quando acordei de manhã, eu vi que não foi brincadeira. Vi que a água fez uma erosão muito grande na frente da minha casa. A água da cachoeira chegou na rua da minha filha e era lama pura. Caiu um pedaço da encosta e uma pedra gigante desceu rodando. Ainda bem que tinha uma árvore no caminho que segurou ela porque se não teria atingido uma das casas."

Apesar das dificuldades de acessar as aldeias, Sérgio afirma que as doações estão chegando, no entanto, ele diz estar preocupado se haverá mantimentos suficientes para todas as famílias. "Está chegando algumas cestas básicas, mas não sabemos até quando vamos ter. Precisamos de tudo: de colchão, de roupa, de comida."

Até o momento, não houve registro de feridos ou desaparecidos.

Na segunda-feira (20), a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) com a ArpinSudeste (Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste) pediu atenção de órgãos do governo federal ligados aos indígenas para que as famílias que vivem no local recebam todo o apoio necessário.

"Solicitamos atenção e a visita do Ministério dos Povos Indígenas, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas e da Secretaria Especial de Saúde Indígena para que as mais de 500 famílias que vivem na região não fiquem desatendidas neste momento de calamidade pública", diz o alerta.

Segundo o comunicado, as aldeias mais afetadas estão aceitando apoio via pix pelo CPF do cacique Adolfo Timotio: 133.346.368-52. O cacique reside na aldeia indígena Guarani Rio Silveiras. Além dele, as doações também podem ser feitas para o líder espiritual Sérgio Macedo, pelo pix (12) 98882-0419.

*Com informações da Agência Brasil