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Heróis do Sahy são meninos que ajudaram bombeiros apontando corpos, diz ONG

População ajudou os Bombeiros em São Sebastião - Arquivo pessoal/Camila Guermandi
População ajudou os Bombeiros em São Sebastião Imagem: Arquivo pessoal/Camila Guermandi

Do UOL, em São Paulo

01/03/2023 04h00Atualizada em 01/03/2023 14h53

Nas primeiras 48 horas após o início das chuvas que devastaram o litoral norte de São Paulo, principalmente São Sebastião, a sede do Instituto Verdescola deixou de ser uma ONG para virar um centro de emergência contra a tragédia.

O instituto recebeu o alerta de Defesa Civil nas primeiras horas do domingo (19) de Carnaval. Os funcionários se mobilizaram para acolher "as famílias que estavam correndo pelas ruas desesperadas, para fugir da avalanche de lama", diz Fernanda Carbonelli, coordenadora de operações emergenciais da ONG.

Nos primeiros dias de mobilização, o instituto trabalhou com apenas seis funcionários, que moravam perto da sede e conseguiram chegar ao local.

A eles se juntaram mais de 150 voluntários, principalmente moradores da região, no início dos trabalhos. Desesperados, eles usaram até pás de brinquedos para realizar os resgates, segundo Carbonelli.

Do desastre até agora, mais de mil pessoas já foram voluntárias no Verdescola. O instituto atua há 15 anos na região, integrando educação, meio ambiente e apoio social.

Os heróis da Vila Sahy são meninos da comunidade que ficaram dias, com os bombeiros, apontando onde estavam os corpos."
Fernanda Carbonelli, coordenadora de operações emergências do Instituto Verdescola

Nos primeiros dias após a tragédia, a ONG trabalhou com quatro pilares:

  • Atendimento médico e acolhimento psicológico voluntário, encerrado no sábado (25);
  • Transformação das salas de aula em abrigos para mais de 400 famílias;
  • Centro de operação de resgate de corpos de vítimas;
  • Centro de distribuição de doações para a comunidade.

O atendimento médico foi remanejado na manhã do domingo (26) para a Unidade Básica de Saúde da Vila Sahy, localizada atrás do Instituto Verdescola.

Segundo a coordenadora, instituições de defesa animal também foram acionadas para resgatar os animais perdidos e machucados, que foram encaminhadas para esses locais.

Aqui também está acontecendo o cadastramento das famílias pela CDHU, para os desabrigados e para os desalojados de áreas de risco. Também estamos fazendo RGs, certidão de nascimento e óbito."

As buscas na Vila Sahy, área mais atingida em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, foram encerradas no último domingo (26). Segundo o governo estadual, foram confirmadas 65 mortes —64 em São Sebastião e uma em Ubatuba.

As buscas na Praia da Baleia ainda continuam. Ontem voltou a chover na região, e ocorreram enxurradas e deslocamento de grande quantidade de lama.

140 pessoas se abrigaram no instituto

Entre as pessoas que foram para o Verdescola está a dona de casa Lucília Cira da Silva, 62. Moradora há 30 anos no Morro da Barra do Sahy, ela vive com os filhos, de 6 anos e 35 anos. Foi o filho mais velho que a acordou na madrugada do domingo.

A sede da ONG chegou a abrigar 400 pessoas. Aos poucos, foram conseguindo abrigos em casas de familiares. Até essa quarta (1), 140 ainda permaneciam no local.

Ele me chamou e disse para sairmos pela janela porque pela porta já não dava mais. Colocou meu filho de 6 anos no braço e disse que iria nadando com ele. A água já batia no pescoço. Estava muito escuro, com muita chuva e muito vento."
Dona Lucília, abrigada no Verdescola

Seu filho caçula, Kailan, tem deficiência e é assistido pelos médicos da ONG desde os três anos. Ele também é aluno do instituto.

"Veio uma moça aqui e me disse que, quando forem nos tirar daqui, para as aulas voltarem, vão nos avisar três dias antes, mas não tem previsão", afirmou Lucília.

são sebastião - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lucília Cira da Silva, 62, moradora há 30 anos do Morro do Sahy, é uma das desabrigadas de São Sebastião
Imagem: Arquivo pessoal

A reportagem procurou a Prefeitura de São Sebastião e o governo de São Paulo, para saber quando e para onde as famílias serão realocadas.

Por e-mail, a Secretaria do Desenvolvimento Social, do governo estadual, disse que "está coordenando o trabalho de cadastramento e realocação provisória das famílias".