Culto ao nazismo influencia ataques a escolas; casos disparam pós pandemia
Um terço dos ataques a escolas registrados no país desde 2019 teve referências nazistas, segundo levantamento do UOL. A reportagem usou dados de estudo da Unicamp sobre esses casos, de fontes nas forças de segurança, das investigações e das redes sociais.
O que aconteceu nas escolas
Ao menos cinco dos 15 ataques tiveram referências nazistas, de acordo com análise de materiais apreendidos com os agressores e conteúdos nas redes sociais.
O massacre de Suzano (SP) influenciou ao menos outras quatro ações. Dez pessoas morreram e 11 ficaram feridas em um ataque na escola estadual Raul Brasil, em março de 2019. Os autores usavam máscara de caveira e colar com suástica nazista.
No Twitter, o adolescente de 13 anos que atacou uma escola de São Paulo na segunda-feira (27) usava o nome de um dos atiradores de Suzano. O agressor usava uma máscara de caveira na ação em que matou uma professora e feriu outras quatro pessoas na escola Thomazia Montoro, zona oeste da capital paulista.
Outros casos com referência nazista
Em Charqueadas (RS), um adolescente invadiu uma escola e feriu sete pessoas com golpes de machadinha. O ataque aconteceu em agosto de 2019, cinco meses após o massacre da Raul Brasil. O aluno afirmou à polícia que o caso o inspirou —foi o único ataque influenciado por Suzano com referência nazista antes da pandemia, de acordo com o levantamento do UOL.
O atirador de Aracruz (ES) tinha um livro de Hitler. O adolescente de 16 anos que matou quatro pessoas e feriu 12 em novembro de 2022 ganhou a obra escrita pelo ditador alemão de presente do próprio pai, segundo a polícia.
Em fevereiro deste ano, um ex-aluno de uma escola em Monte Mor (SP) usava uma suástica no braço ao tentar invadir a unidade de ensino. Ele tinha uma machadinha e jogou bombas caseiras na entrada da instituição antes de ser detido. Ninguém se feriu.
Mais ataques com a retomada das aulas após a pandemia
Foram ao menos 13 atentados nos últimos dois anos no país, segundo levantamento feito pelo UOL.
É o triplo dos casos registrados no mesmo intervalo nos dois anos que antecederam o período de isolamento social —que totalizou quatro ações do tipo no país.
O isolamento social foi importante para que ocorresse essa cooptação de jovens pela internet, que era a única forma de socialização com pessoas fora do convívio familiar, com propagação de discurso de ódio."
Letícia Oliveira, pesquisadora da extrema direita
Especialistas afirmam que autores de ataques participam de comunidades restritas nas redes sociais e de grupos de extrema direita na internet.
Agora é possível facilmente encontrar perfis que incentivam ataques. A radicalização de jovens tem acontecido cada vez mais cedo."
Telma Vinha, coordenadora de grupo de pesquisa do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp
Ao comentar o crescimento da participação de jovens em grupos nazistas, a professora da Unicamp ressalta a dificuldade de discutir o tema dentro da escola.
Vimos o fortalecimento de movimentos como Escola sem partido, uma censura e pressão para que professores não falem sobre determinados assuntos. O discurso de ódio passou a ser compreendido como um tema partidário e muitos desses temas ficaram fora da escola. Você tem jovens com discurso de ódio, mas não se pode falar sobre isso [na sala de aula]."
Telma Vinha
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