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Nunes promete recapear 10% de São Paulo, mas só 1/3 foi feito ou contratado

Trabalhadores recapeiam via em São Paulo; asfaltamento é uma das prioridades de Nunes  - Divulgação/Prefeitura de SP
Trabalhadores recapeiam via em São Paulo; asfaltamento é uma das prioridades de Nunes Imagem: Divulgação/Prefeitura de SP

Do UOL, em São Paulo

16/05/2023 04h00

Sem uma marca em sua gestão e em busca da reeleição, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), prometeu recapear 20 milhões de metros quadrados de vias até o ano que vem, o equivalente a 1.852 campos de futebol, mas concluiu menos de 1/3 da meta até agora. Mantido esse ritmo, a promessa não será cumprida.

Prefeito precisa de visibilidade

Nunes lançou um programa bilionário de recapeamento em junho de 2022. Cobrado por problemas de zeladoria, ele apresentou a maior ação de asfaltamento já feita na cidade e disse que faria tudo até o fim de 2024, quando termina seu mandato. A renovação do pavimento deverá custar R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos.

Asfaltamento recorde deve ser um dos carros-chefes do prefeito para eleição. A pouco mais de um ano do pleito, propostas como a da tarifa zero nos ônibus não avançaram. Por isso o emedebista, que assumiu o cargo em maio de 2021, após a morte de Bruno Covas (PSDB), busca um feito que lhe dê visibilidade e que o torne mais conhecido pelos paulistanos.

A gestão Nunes nega haver relação entre o programa e a eleição e diz que o recapeamento das vias é uma necessidade (leia mais abaixo).

Tempo curto para cumprir a meta. A meta é considerada ambiciosa porque, até o momento, 3,8 milhões de metros quadrados foram finalizados, o equivalente a 19% do total. Considerando as obras em execução, executadas ou com contrato já assinado, a gestão tem 6,6 milhões de metros quadrados, um terço dos 20 milhões prometidos.

Pouco mais de 2,5 milhões de metros quadrados foram feitos em 2022. Isso significa que a prefeitura terá que recapear 7 vezes mais vias neste ano e no próximo para cumprir a meta.

A cidade tem 196 milhões de metros quadrados de vias asfaltadas. O número equivale a 17 mil quilômetros, praticamente a distância entre Pequim e a capital paulista. A meta de Nunes representa o recapeamento de 10% das vias da cidade.

Ele não vai conseguir fazer, precisaria de uma força-tarefa e isso não é compatível com o funcionamento da cidade. É um mandato de quatro anos, precisa de dois para planejar? A impressão que dá - e é algo recorrente - é que o governo não gasta nos dois primeiros para gastar no terceiro e no quarto para ficar fresco na mente das pessoas. Acho que é uma estratégia bem arriscada, é um quantitativo monstruoso André Marques, coordenador executivo do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper

O programa de recape consta no Plano de Metas 2021-2024. Na entrega do balanço, no mês passado, o governo justificou que a demora na execução das metas de zeladoria e mobilidade se devia ao processo de mapeamento, planejamento e licitação, além de entraves identificados ao longo da execução das intervenções.

Aliados de Nunes admitem que o asfaltamento não é uma "bala de prata" para a eleição. Eles entendem, no entanto, que a iniciativa ajuda a melhorar a popularidade do prefeito. A zeladoria da cidade —categoria em que a pavimentação está inserida— era uma das áreas mais mal avaliadas pela população em pesquisas internas da gestão municipal.

[Recapeamento] não é algo que beneficia só a classe média se ele estiver fazendo isso pela cidade toda. A população mais pobre sente também os efeitos de um asfalto deteriorado, acaba que todo mundo é afetado pela qualidade do asfalto
Bruno Carazza, economista e professor da Fundação Dom Cabral

É de se esperar que um governante aperte o cinto nos primeiros anos de mandato, tome medidas mais duras no início, quando dispõe de uma popularidade maior, e deixe uma gordura para queimar no final do mandato justamente para aumentar as chances ou da sua própria reeleição, ou da eleição de um aliado
Bruno Carazza

Orçamento para asfalto salta

Recapeamento em São Paulo - Divulgação/Prefeitura de São Paulo - Divulgação/Prefeitura de São Paulo
São Paulo tem 196 milhões de metros quadrados de vias asfaltadas, o equivalente a 17 mil quilômetros
Imagem: Divulgação/Prefeitura de São Paulo

Sob Nunes, o orçamento para pavimentação de vias deu um salto. Quando comparado às últimas duas gestões, o programa de recapeamento em curso recuperou mais metros quadrados e fez investimentos financeiros maiores. Só neste ano, os valores são de R$ 1,7 bilhão empenhado (reservado no orçamento) e R$ 469 milhões liquidados (o que já foi usado).

Os números são superiores às gestões anteriores. Na gestão de Fernando Haddad (PT), de 2013 a 2016, foram recuperados 3,86 milhões metros quadrados, conforme a prefeitura. No governo de João Doria (então PSDB) e Covas, de 2017 a 2021, foram 9,87 milhões de metros quadrados.

O que dizem Nunes e a Prefeitura sobre o programa

19.jul.2022 - Ricardo Nunes vistoria uso da tecnologia nos serviços de recape da cidade - Divulgação/Prefeitura de SP - Divulgação/Prefeitura de SP
19.jul.2022 - Ricardo Nunes vistoria uso da tecnologia nos serviços de recape da cidade
Imagem: Divulgação/Prefeitura de SP

Por que a gente está fazendo esse tanto de recape? A gente tem uma malha muito grande, e evidentemente, o asfalto, como qualquer coisa, uma lâmpada, uma câmera, tem tempo de vida, uma hora ele perde capacidade de aderência, de liga, e com a água ele abre e vai se fazendo a questão dos buracos. No passado muito pouco foi feito com relação a recape
Ricardo Nunes, em entrevista à Jovem Pan, em 17 de abril de 2023

Prefeitura diz que programa beneficia todas as regiões da cidade. Em nota, a Secretaria Municipal das Subprefeituras diz que o programa beneficia as 32 subprefeituras da capital. As vias elencadas respondem a critérios como volume de tráfego, deterioração do pavimento existente de demanda de transporte coletivo e da comunidade. Hoje, as vias em recape somam 74 trechos em andamento, com frentes de trabalho simultâneas.

Serviço acontece à noite para não prejudicar trânsito. Os recapeamentos acontecem, preferencialmente, depois das 23 horas, segundo a pasta, e não pararam nenhum dia desde junho, com frentes de trabalho simultâneas. Nunes tem dito em entrevistas que só não faz mais intervenções porque o material disponível já está contratado.

Fonte: Sillas Cezar, professor de Economia da Faap