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Moisés abriu o mar? O que especialistas dizem sobre os 'milagres' da Bíblia

Segundo Israel Azevedo, mestre em teologia e doutor em filosofia, é preciso crer para ver evidências. - Freepik
Segundo Israel Azevedo, mestre em teologia e doutor em filosofia, é preciso crer para ver evidências. Imagem: Freepik

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

22/05/2023 04h00Atualizada em 25/05/2023 11h55

As histórias contadas na Bíblia são marcadas por milagres e acontecimentos sobrenaturais que até hoje levantam diversos questionamentos sobre sua existência.

Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que existem indícios de que o grande dilúvio aconteceu e que há estudos que apontam que o Mar Vermelho pode ter sido dividido. Mas, para Israel Azevedo, mestre em teologia e doutor em filosofia, é preciso crer para ver evidências.

A relação entre ciência e fé deve ser vista como dois campos que andam juntos, eles não podem se encontrar e não podem se afastar. Para quem crê, há evidências, mas para quem não crê, nada disso existiu."

Êxodo

Chamados de "milagres do Êxodo", Azevedo explica que o historiador Michael Hunter, da Universidade de Londres, estudou sobre o tema e trouxe em suas obras explicações de como Moisés abriu o Mar Vermelho, por exemplo.

"São apenas hipóteses. A preocupação bíblica é de outra natureza e isso nunca será provado porque, o propósito não é esse, mas sim mostrar que podemos confiar em Deus por esses feitos. Hunter estudou o assunto e demonstrou que é possível que o vento sopre de tal maneira que impulsione as águas a um fluxo de maré, até que fique descoberto por certo período. Porém, não se sabe a rota do Êxodo depois que Moisés abriu o mar e o povo passou", explicou Azevedo.

O professor de Teologia da PUC-Rio Fabio Siqueira explica que existem textos antigos que falam sobre migrações no Antigo Oriente Próximo e cita um arqueólogo importante nessas pesquisas, chamado Israel Finkelstein, que aborda o tema em uma de suas obras.

"A arqueologia demonstra que houve, de fato, um crescimento demográfico expressivo nas montanhas centrais da Palestina no período em que se acredita ter ocorrido o êxodo do Egito. Temos um artefato egípcio, de uma época logo posterior ao período em que se considera que o Êxodo tenha ocorrido, a chamada Estela de Merneptá, que menciona o nome de Israel nessa mesma região montanhosa. Tais elementos corroboram para que se possa crer que o Êxodo tenha, de fato, ocorrido", diz Fabio Siqueira.

Dilúvio

A Arca de Noé, que segundo a Bíblia transportou um casal de cada espécie de animal e enfrentou um grande dilúvio por 150 dias, nunca foi encontrada, mas segundo Azevedo, existem comprovações que indicam a existência de um dilúvio em várias regiões.

"Estamos falando de algo que aconteceu há 20, 30 mil anos. A arca em si nunca foi e acho muito difícil de ser encontrada, mas todas as civilizações antigas indicam que de fato aconteceu um grande dilúvio naquela época", conta o professor.

Sol parou para Josué?

No livro de Josué mostra que, enquanto os soldados lutavam para conquistar o território de Gibeom, o sol parou no meio do céu por quase um dia inteiro e não se pôs após a oração de Josué.

Para Azevedo, não é possível parar o sistema solar, mas, através da fé, houve uma sensação de alívio imediato para o povo. "Estamos falando mais no sentido emocional do que no sentido astronômico. O sistema solar não para, mas na passagem diz que as pessoas sentiam que era como se o sol parasse", explica.

Já Siqueira acredita que possa ter acontecido um fenômeno natural. "É possível que tenha havido um fenômeno natural, que foi interpretado como tendo sido uma especial providência de Deus para que o povo vencesse uma batalha específica", afirma o teólogo.

Natal

A celebração do Natal também faz com que o próprio nascimento de Jesus seja evidenciado, segundo Azevedo. "Antigamente, não se comemoravam nascimentos, mas sim mortes, então a própria celebração do Natal testifica esse acontecimento".

Em uma viagem a Jerusalém, Siqueira conseguiu ir ao Santuário do Livro e ver uma réplica do livro do Profeta Isaías, encontrado em Qumran, um manuscrito muito antigo. Azevedo também viu esse manuscrito que quando se traduz, segundo ele, é exatamente o mesmo texto encontrado nas Bíblias atuais.

"Pergaminhos antigos mostram que os textos eram reescritos, reaproveitados, mas não era possível receber alterações. Vi o arquivo do livro de Isaías, que foi encontrado em uma caverna no museu de Israel, que mostra os manuscritos originais e quando se traduz, é o mesmo texto", explica.