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Pode transar sem casar? É pecado? O que pensam as religiões sobre sexo 

Em muitas religiões, o sexo antes do casamento é proibido. - iStock
Em muitas religiões, o sexo antes do casamento é proibido. Imagem: iStock

Luiz Fernando Figliagi

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

05/06/2023 04h00

Recentemente, o papa Francisco falou abertamente sobre temas considerados "tabus" pela Igreja Católica com um grupo de jovens. Questionado sobre sexo, quando um dos jovens lhe pergunta sobre masturbação, Francisco disse que "o sexo é um dos dons mais bonitos que Deus deu à pessoa humana".

"Expressar-se sexualmente é uma riqueza. Portanto, qualquer coisa que menospreze a real expressão sexual também menospreza você, e empobrece essa riqueza em você. O sexo tem sua própria dinâmica; tem sua própria razão de ser. A expressão do amor é provavelmente o ponto central da atividade sexual", acrescenta segundo o portal católico "Vatican News".

Ao longo de sua resposta, o líder católico ainda admite que a catequese da Igreja Católica é "fraca" em relação ao tema e que, muitas vezes, os cristãos não têm uma postura madura para falar sobre isso.

A fala do papa surpreendeu os fiéis. Afinal, falar sobre sexo e prazer não é tão comum nas igrejas. Inclusive, em muitas religiões, o sexo antes do casamento é proibido.

O UOL procurou líderes religiosos para falar sobre o assunto


Católicos

Conforme o professor de ética e padre da igreja São Paulo Apóstolo na Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP), Elviro Pinheiro, a Igreja Católica entende que a sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana.

Para os católicos, o sexo está relacionado à capacidade de amar e procriar, criando assim uma comunhão com o outro. E, por isso, a relação sexual deve acontecer somente quando os dois estiverem unidos perante a doutrina.

Segundo Pinheiro, a Igreja Católica entende que o sexo antes do casamento é pecado. O matrimônio é o sacramento que regulariza o ato.

"Ao homem e à mulher cabe reconhecer e aceitar a sua identidade sexual. São complemento um na vida do outro, seja físico, moral e espiritual."

Evangélicos

Para o pastor e teólogo manauara Caio Fábio, do ponto de vista histórico, o sexo é algo que foi abordado durante os séculos como um gerador de culpa.

O ato sempre foi acompanhado de terror, e o sexo apenas para procriação está na doutrina da Igreja Católica.

Quando Jesus vem, segundo o teólogo, a relação é tratada de outra forma.

A única realidade que não é natural para Jesus é a traição e a infidelidade."

O cristianismo não foi fundado como religião, mas em um caminho de consciência de verdade e vida, e transformou-se a partir do protestantismo.

O especialista vê que as igrejas evangélicas neopentecostais são atrasadas em diálogos que envolvem sexualidade e não possuem uma visão saudável sobre o tema.

O escritor conta que as igrejas não praticam a nova lei (novo testamento) para dar espaço ao velho, porque sabem que o texto vai de encontro às práticas deles. Com isso, o sexo, que deveria ser tratado como algo bom, é encarado como pecado.

Espiritismo

No espiritismo todos são almas em essência, ou seja, não delimitados ou definidos pelas questões morfológicas, sendo assim, os espíritos não têm sexo.

O corpo físico é encarado como uma ferramenta primordial onde a reencarnação encara o feminino e o masculino como grandes laboratórios para esse espírito que vem, consiga manifestar seus potenciais divinos.

Temos uma visão do compromisso, porque todo processo de conexão íntima gera responsabilidade nas trocas vibratórias. Nós estabelecemos vínculos", Médica pediatra e conselheira da UEM (União Espírita Mineira), Lenici Aparecida de Souza Alves.

Do ponto de vista do sexo enquanto experiência física, Alves afirma que ele deve ser visto de maneira livre com responsabilidade e aproximação, pois, assim, os casais podem ficar juntos.

Umbanda

Na Umbanda, abordam-se os aspectos de gênero e a prática natural. A religião não concebe na filosofia o pecado.

O sacerdote e teólogo Pai Silnei Farkas, membro da FNAB (Associação Nacional das Religiões Afro-Brasileiras), em São Paulo, aponta que a Umbanda acredita que não houve, não há e não haverá qualquer ruptura do homem com Deus, Nzambi, o Criador.

Na religião, não se encara o sexo como questão moral, embora o sincretismo religioso presente, as doutrinas do catolicismo não são adotadas. Com isso, é possível a relação antes ou após o casamento.

O corpo humano não é tabu na Umbanda. Acreditamos e louvamos Deus como Pai e Mãe, logo, recebemos Dele o amor paterno e materno para entendermos que o sexo deve ser colocado em nossas vidas com amor."