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'Aquilo acendeu um alerta': como paciente desmascarou falsa psicóloga em SP

Simone Machado

Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)

15/06/2023 04h00Atualizada em 15/06/2023 18h27

Ao receber uma mensagem nas redes sociais, a psicóloga Caroline Aparecida Costa Galvão, de 29 anos, moradora de São José dos Campos (SP), descobriu que seu registro no CRP (Conselho Regional de Psicologia) estava sendo usado irregularmente por outra profissional com nome semelhante — mas sem formação profissional. Um boletim de ocorrência de fraude e estelionato foi registrado pela vítima.

A descoberta foi há cerca de duas semanas, depois que advogada Daniela Padilha passou por duas consultas online com a suposta profissional, que atendia apenas por Caroline Costa.

A advogada relata que conheceu o trabalho da falsa psicóloga por uma página nas redes sociais. Em uma primeira consulta ela não desconfiou de nada. Mas, ao final da segunda sessão de terapia, percebeu que havia algo de estranho na forma com que o atendimento foi feito.

Eu percebi que a profissional usava muitos termos técnicos, misturava algumas técnicas de terapia e aquilo me acendeu um alerta. Eu pedi o número do CRP dela e ao consultar vi que o nome do registro não era o mesmo para o qual eu havia feito o pagamento da consulta. Apenas o primeiro nome e um dos sobrenomes eram iguais.

Ao notar que a mulher usava o cadastro de outra profissional, a advogada afirma que entrou em contato com a falsa psicóloga e pediu o ressarcimento do valor pago pelo atendimento, o que foi aceito pela mulher. Em seguida, ela procurou nas redes sociais a verdadeira psicóloga.

'A gente acha que nunca vai acontecer'

Psicóloga Caroline Costa - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Psicóloga Caroline Costa (foto) teve o CRP usado por outra pessoa, sem formação profissional para exercer a profissão
Imagem: Arquivo Pessoal

Caroline, a psicóloga dona do CRP, diz que desconfiou da mensagem de Daniela em um primeiro momento.

"Quando recebi a mensagem da Daniela na minha rede social imaginei que fosse um golpe. Que alguém iria me pedir dinheiro ou coisa assim. Nem dei muita atenção", recorda Caroline.

Apenas após alguns dias e ao conversar com diversas pessoas sobre o ocorrido, Caroline acreditou que seu registro profissional estava sendo usado de maneira irregular por uma pessoa desconhecida e procurou a polícia para registrar o caso. Além da Polícia Civil, ela também registrou a situação no Conselho Regional de Psicologia.

Fiquei bastante surpresa, é aquele tipo de situação que a gente nunca acha que vai acontecer, mas acontece. É muito estranho pensar que havia uma pessoa se passando por mim e fazendo atendimentos. Além da denúncia formal aos órgãos competentes, também fiz uma publicação nas minhas redes sociais como forma de alerta para todas as pessoas e também outros possíveis pacientes que podem ter sido vítimas.

Formada desde 2017 e atuando na área desde então, a psicóloga possui uma clínica particular em São José dos Campos, onde faz os atendimentos presenciais e também online.

O que diz o Conselho?

Em nota, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP), explicou que o número de inscrição de cada profissional da psicologia é único, pessoal e intransferível. Qualquer irregularidade deve ser denunciada à polícia e à Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) do Conselho Regional de Psicologia regional.

"Prestamos nossa solidariedade à psicóloga e reforçamos a atuação da psicologia ancorada no Código de Ética da profissão. Elucidamos a toda a sociedade que somente profissionais inscritas e inscritos nos Conselhos Regionais de Psicologia estão habilitados a atuarem como psicólogas e psicólogos."

O conselho também esclareceu que, por meio do Cadastro Nacional do Conselho Federal de Psicologia, "é possível verificar as psicólogas e os psicólogos habilitados à atuação profissional, seus números de inscrição, nome completo (incluindo todos os sobrenomes que houver) e região (Estado) de registro".

"Todas as denúncias, queixas, representações e processos éticos sob jurisdição do CRP-SP dizem respeito à atuação de psicólogas, psicólogos ou pessoas jurídicas inscritos neste Conselho e tramitam sob sigilo absoluto."

A reportagem do UOL também enviou mensagens nas redes sociais e WhatsApp da suspeita, que não respondeu às tentativas de contato e pode ter desativado os canais de comunicação.