Para fugir de ciclone, família se abriga em forro de casa: 'Perdemos tudo'
Famílias que tiveram que se abrigar no forro no teto para se salvar da força das águas, pessoas que perderam tudo e ainda tentam se recuperar em meio a um rastro de destruição. O UOL ouviu histórias de atingidos pelo ciclone que passou pelo Rio Grande do Sul. Até o momento, a tragédia já deixou 13 mortos e quatro pessoas estão desaparecidas, segundo a Defesa Civil estadual.
'Perdemos tudo'
O secretário de educação e morador de Caraá (RS), Marcelo Pacheco, 35, tenta recuperar o pouco que sobrou dos móveis da casa em que vivia com a mulher e o filho, de quase três anos. Com a passagem do ciclone extratropical que atingiu o estado, ele afirma que toda a família teve de se esconder no forro da casa para se proteger do volume de água.
Na estrutura, que fica logo abaixo do telhado, o casal acomodou o filho com água e um cobertor. "Ficamos com medo de ele ficar agitado, mas ficou tranquilo. Estávamos sem luz, o medo era grande. Com a lanterna do celular ajeitamos ele."
Pacheco afirma que o receio era de a água subir rapidamente. "A correnteza começou a vir e a água começou a bater e derrubou todas as cercas da casa. Nunca tinha entrado água em casa daquele jeito", diz.
Na parte de fora do imóvel, o secretário de educação do município relata que era possível ver as cercas destruídas e os carros boiando. "Chegaram a sair da garagem. A parte de trás dos carros levantou e o motor afundou."
Tentativa de reconstrução
Neste domingo, Pacheco e a mulher tentam recuperar móveis e a estrutura da casa. "Perdemos tudo em casa, dava para ver uns 15 centímetros só de lodo. Perdemos armários da cozinha e toda a parte de alimentação com a rapidez da água."
Pacheco diz que, após os estragos causados pelo ciclone, não pretende voltar a viver na mesma região. "Não vou investir mais nessa parte baixa da cidade. Deixa uma angústia muito grande. Perdemos tudo em minutos."
Ele, a mulher e o filho estão vivendo na casa de familiares em regiões mais altas da cidade. Contudo, segundo ele, todos estão sem energia elétrica até o momento.
A cidade também tem dificuldades logísticas, segundo ele. "Ficamos ilhados, pontes foram carregadas e se romperam. A população fica com uma sensação de tristeza. Por mais que todo mundo ajude com doações, as pessoas perderam tudo em minutos."
'Parecia que escutava os sons do fim do mundo'
Moradora do bairro Azenha, em Porto Alegre, Vivian Gisele Nunes Coitinho, de 42 anos ficou dois dias sem luz após uma árvore cair sobre a fiação da energia elétrica da rua onde mora, próximo a um hospital, que teve que ativar o gerador para que os pacientes.
Sem luz, ela contou que ficou assustada com os barulhos de vento, chuva, alarmes de carro e também da máquina que mantinha a luz na instituição. "Parecia o fim do mundo", afirma.
Brunno Mattos Silva, 25 anos, é membro do Comitê Popular de Luta da Vila Farrapos, também na capital gaúcha. Ele afirma que grande parte do local foi invadido pela água.
Em Porto Alegre, cerca de 12 mil pessoas estão sem energia elétrica. Por isso, Brunno e outros membros do comitê estão recolhendo doações de alimentos, material de higiene e roupas para que, aos poucos, as pessoas consigam retomar algo próximo da normalidade.
A família de Isadora Pisoni da Silva, de 18 anos, que é de Caraá, conseguiu sobreviver, mas perdeu parte dos bens. Os móveis ficaram danificados após a passagem do ciclone. A empresa do pai, destruída. A tia perdeu a casa toda. "Temos muitos desabrigados na cidade. Não sabemos por onde recomeçar, mas temos muito serviço pela frente e temos que apoiar um ao outro".
"Em alguns locais só é possível chegar de barco. Na comunidade Liberdade, muita gente perdeu tudo que tinha. Está um caos aqui e pouca coisa está sendo feita pela administração municipal, é só o povo ajudando o povo, nem as casas de bomba funcionaram."
Brunno Mattos Silva, membro do Comitê Popular de Luta da Vila Farrapos, em Porto Alegre
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