'Tenho medo de andar sozinha na rua', diz mulher que acusa médico de ameaça

Uma advogada de 30 anos disse ao UOL que passou a ter medo até de caminhar sozinha pela rua de casa até o local de trabalho após ter sido ameaçada pelo médico Bruno D'Angelo Cozzolino. Ela afirmou o episódio ocorreu após um desentendimento relacionado à locação de um imóvel em São Paulo — o caso foi encaminhado à Justiça.

A reportagem entrou em contato por telefone, email e WhatsApp com o médico flagrado em imagens de câmeras de vigilância agredindo funcionários de um prédio num bairro de classe alta da cidade, mas não obteve resposta. À TV Globo a defesa do médico disse que não iria se manifestar sobre as acusações contra ele.

O que aconteceu

Com o fim da locação do apartamento para Bruno D'Angelo Cozzolino em abril deste ano, a advogada contou ao UOL que reteve o depósito caução dele e fez exigências de reparos após receber o laudo da vistoria. "O imóvel [que fica no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo] foi entregue em perfeitas condições de uso, mas havia pendências quando o contrato foi encerrado. Faltava pintura, higienização de colchão, do sofá e faxina."

"Mas ele queria que o depósito caução fosse devolvido antes do reparo desses itens", conta. A advogada, que pediu para não ser identificada, disse que esse posicionamento foi dado pelo próprio médico ao ligar diretamente para o celular dela.

"Ele disse que queria a devolução do dinheiro naquele dia. Eu expliquei a situação. Aí, ele disse apenas: 'A gente se esbarra por aí' e desligou a ligação. Logo em seguida, disse sido contatada pela corretora que administrava a locação do imóvel.

"A corretora disse que ele estava bem alterado, me chamando de 'puta' e dizendo que iria mandar gente atrás de mim." No processo, D'Angelo é acusado de ter voltado a exigir a devolução imediata do dinheiro, ter ordenado que a corretora repassasse o endereço da advogada e dito que iria "cruzar com ela um dia."

Depois disso, a advogada registrou ocorrência por ameaça junto à Polícia Civil. Ela disse que faz intermediação de locação de outros imóveis e que sempre teve boa relação com os inquilinos.

O caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal no dia 21 deste mês. "Ele foi intimado, mas não foi encontrado. Agora, vai ser novamente procurado para uma audiência de conciliação", explicou o advogado Eduardo do Vale Costa, do escritório Lopes Domingues Advogados, que representa a vítima.

Fiquei bem assustada na época. Antes, tinha dias em que eu saía de casa a pé e ia até o escritório onde trabalho. Depois, passei a ter medo de andar sozinha na rua. Isso causa um dano psicológico. Quando ouvi os relatos das vítimas, voltei a sentir medo e pensei: 'Poderia ter sido comigo.'
Advogada que acusa Bruno D'Angelo por ameaça

Continua após a publicidade
Médico agrediu zelador e síndico do prédio onde mora por causa de vaga na garagem
Médico agrediu zelador e síndico do prédio onde mora por causa de vaga na garagem Imagem: Reprodução TV Globo

'Ele não gosta de pretas e gordas'

Duas mulheres que trabalharam com o médico relataram ao UOL que foram perseguidas, ofendidas, discriminadas e ameaçadas por ele em 2022. Segundo elas, D'Angelo as ofendeu com expressões como "vão tomar no cu", "putinhas gordas", "vadias gordas" e "hipopótamos".

"Ele não gostava de pessoas pretas e gordas", afirmou Nayane Jane Rodrigues de Queiroz, em entrevista à reportagem. Ela e Joyce Nato Alves fizeram um boletim de ocorrência contra D'Angelo em outubro por injúria, calúnia e ameaça.

As ofensas e a tentativa de agressão ocorreram após as recepcionistas terem se negado a acionar a polícia, a pedido do médico. Ele exigia que elas tomassem uma atitude para que um rapaz em situação de rua fosse retirado das imediações.

Era na calçada ao lado. Mas como ele não estava nas dependências do prédio, eu achei que não fazia sentido.
Joyce Nato Alves, funcionária ofendida pelo médico

Continua após a publicidade

"Ele dizia que tínhamos a obrigação de chamar a polícia. Quando negamos, começou a gritaria", relatam no BO. "Ele quebrou a câmera de identificação e começou a gritar 'suas gordas, hipopótamos'".

'Me escondia dele', diz zelador

O zelador de um dos prédios onde o médico morou disse que D'Angelo atacou a cabine onde ele trabalhava com golpes de martelo e que o local só não foi destruído porque era blindado. Ele testemunhou um caso de injúria contra outro funcionário. Em dezembro de 2019, o médico se dirigiu a um vigilante do prédio e, segundo ele, disse: "Lugar de macaco é no zoológico".

"Uma vez, ele [D'Angelo] desceu do apartamento com uma faca, dizendo que queria matar alguém. Aí, um segurança tirou a faca da mão dele. Depois disso, o condomínio registrou uma ocorrência. Como eu fui na delegacia como testemunha, ele começou a pegar no meu pé. E só não me abordava diretamente porque eu me escondia dele quando via pelas câmeras que ele estava descendo no elevador", conta.

O zelador detalhou como foi um ataque de fúria de D'Angelo. Segundo ele, o pai do médico pediu ao zelador que ligasse para o seu apartamento. Ele aparentava medo e queria saber se o filho ainda estava lá, conforme relatou o funcionário do condomínio.

"Ele [D'Angelo] atendeu, escutou a minha voz e perguntou: 'O que você quer?'. Eu respondi dizendo que queria falar com a mãe dele. Ele perguntou se o pai dele estava comigo, mas eu não respondi. Aí, ele insistiu: 'Seu lixo! Fala comigo!'. Eu desliguei", lembra.

Continua após a publicidade

Ao ver o filho descendo pelo elevador, o pai dele teria pedido para permanecer na cabine, segundo relatou o zelador. "Ele está muito nervoso", teria justificado o pai do médico, ainda de acordo com o funcionário do condomínio.

Ele pegou um martelo e bateu duas vezes. O vidro da cabine ficou trincado e só não quebrou porque era blindado. Foi aí que o condomínio proibiu que ele entrasse no prédio, porque ele estava colocando funcionários, moradores e crianças em risco. Depois disso, os funcionários do condomínio foram orientados a chamar a polícia sempre que ele aparecesse.

Quem é o médico

D'Angelo se formou em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos em 2008, segundo o site de sua clínica. No mesmo portal, ele cita que é pós-graduado em dermatologia, medicina estética e medicina do esporte pela Fundação Souza Marques.

Fundou em 2022 o Instituto D'Angelo "para auxiliar pessoas a esculpirem seus corpos e fazerem deles a marca pela qual elas serão lembradas no mundo." O UOL não conseguiu contato com na clínica por telefone e email.

Em 2021, a defesa do médico apresentou um relatório psiquiátrico que apontava que ele sofria de transtorno de humor bipolar, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo grave. O documento foi apresentado após uma mulher com quem ele manteve relacionamento prestar queixa à polícia e afirmar que já teria sido enforcada e levado socos, chutes, empurrões e puxões de cabelo.

Deixe seu comentário

Só para assinantes