Como pegada e tufo de cabelo podem ter solucionado morte de mãe e 3 filhas

Uma pegada de chinelo deixada sobre uma poça de sangue seco no chão foi a pista usada pela polícia para identificar Gilberto Rodrigues dos Anjos como o responsável pelas mortes de Cleici Calvi Cardoso, 46, e suas três filhas em Sorriso (MT). Miliane Calvi Cardoso tinha 19 anos, e as irmãs, 13 e 10 anos.

O caso foi dado como solucionado em menos de uma hora a partir do conhecimento do crime, tempo considerado recorde pelo delegado Bruno França Ferreira, responsável pelas investigações. O homem trabalhava na construção de uma residência ao lado da casa da família de Cleici, no condomínio Florais da Mata. Localizado nos fundos do Parque Ecológico Municipal, o residencial é considerado uma das regiões mais nobres da cidade.

"Após chegarmos ao local do crime, identificamos que ao lado da residência havia uma casa em construção. Fomos até lá para ouvir os trabalhadores e notamos que apenas um demonstrava comportamento diferente. Enquanto os demais estavam curiosos, ele tentava se esquivar das perguntas", afirmou Ferreira, ao UOL.

Na cena do crime, os agentes se depararam com objetos quebrados, móveis revirados, o que denotava ter havido luta corporal entre as vítimas e o autor, momentos antes do crime. Uma das irmãs mortas segurava na mão um tufo de cabelos. Ao lado dos corpos, o delegado notou as marcas de uma pegada de chinelo, deixadas sobre uma poça de sangue já seco.

Ao ser entrevistado pelos policiais, o suspeito ficou nervoso e alegou que não ter ouvido qualquer barulho na casa das vítimas durante o final de semana. Questionado sobre o local de seu descanso, ele mostrou onde dormia, no piso superior da obra, na parte da frente, e como documento apresentou apenas a cópia da identidade.

"Sem ele saber, fizemos uma pesquisa de antecedentes e descobrimos que ele tinha duas prisões em aberto. Uma pela comarca de Lucas do Rio Verde por crime sexual, e outro pela comarca de Mineiros, em Goiás, por latrocínio. O crime sexual, pela descrição, foi muito parecido com o que ele cometeu contra as mulheres aqui em Sorriso. A diferença é que a mulher em Lucas do Rio Verde sobreviveu", contou o delegado.

Em setembro deste ano, em Lucas do Rio Verde, o criminoso invadiu uma residência e cometeu abuso sexual contra uma mulher, que estava dormindo. Após o crime sexual, ele ainda tentou matar a vítima que conseguiu reagir, mas foi ferida com uma facada no pescoço. Outra vítima que também estava na casa tentou intervir e foi atingida por um soco no rosto pelo suspeito, causando lesões no olho direito. Após os crimes, ele fugiu em uma bicicleta.

Perícia nos chinelos

Ferreira afirma que, a partir daí, já sabia que Anjos tinha cometido os crimes contra Cleici e as filhas. A questão era: como provar?

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Os agentes pediram então ao suspeito que entregassem a ele o par de chinelos que ele costumava usar, para uma "averiguação". Após examinados pela perícia, que estava no local, descobriu-se que a "pegada" deixada na poça de sangue foi marcada pelo mesmo calçado.

Além disso, quando fui confrontá-lo notei que em sua cabeça havia uma falha nos cabelos, o que indicava que o tufo que encontramos na mão de uma das vítimas pertencia a ele. Foi quando ele decidiu confessar os crimes.
Bruno França Ferreira

"Ele justificou que estava sob efeito de drogas, mas acredito que o crime tenha sido premeditado. Ele estava morando na obra ao lado, ele devia saber, por exemplo, que o marido da vítima, caminhoneiro, estava viajando no dia do crime", disse o delegado.

Segundo Ferreira, o criminoso sabia que a residência vizinha tinha dois cães de guarda. Então, ao pular o muro, ele escolheu a área mais próxima da janela do banheiro, por onde conseguiria entrar na casa, e, assim, conseguiu escapar da investida dos animais.

Ao surpreender as vítimas, entrou em luta corporal e, munido de uma faca que encontrou na cozinha do imóvel, cortou as gargantas da mãe e das duas filhas mais velhas. Em seguida, enquanto agonizavam, as estuprou. "Depois ele disse que, como a menina mais nova gritava e chorava muito, ele a matou ao final da ação por esganadura", contou o delegado.

Após matar a família, ele narrou que saiu da casa pela mesma janela por onde entrou e voltou para a obra, onde retirou as roupas sujas de sangue e guardou em um contêiner. A Polícia Civil localizou as roupas e encaminhou para a perícia. Na sacola também havia uma peça de roupa íntima de uma das vítimas.

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Após ser preso e confessar os crimes, Anjos teve que ser transferido para a Penitenciária Dr. Osvaldo Florentino Leite Ferreira, em Sinop, em uma aeronave do Centro Integrado de Operações Aéreas. Os crimes causaram uma comoção entre os moradores da região, que queriam linchá-lo. O UOL tenta localizar a defesa do suspeito e atualizará a reportagem caso haja manifestação.

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