Rompimento de mina em AL: grupo protesta contra a Braskem em voo; veja

Passageiros de um voo se uniram para se manifestar em defesa de Maceió, onde uma mina de exploração da Braskem se rompeu no último domingo (10).

O que aconteceu

Uma mulher foi gravada liderando um protesto contra a empresa petroquímica em um avião. Ela estava em pé no corredor da aeronave e segurava um papel com as frases "Maceió pede socorro" e "#BraskemCrimonosa".

Outros passageiros se juntaram à manifestação e completaram o coro de palavras de ordem. "Maceió pede socorro", "Braskem assassina" e "Fora Braskem" gritavam os manifestantes.

As imagens circulam pelas redes sociais. Não há detalhes sobre a data do registro, além do local de partida do avião e o destino do voo.

Ao UOL, a Braskem afirmou que, desde 2019, "desenvolve ações em Maceió com foco na segurança das pessoas e na implementação de medidas amplas e adequadas para mitigar, compensar ou reparar impactos decorrentes da desocupação de imóveis nos bairros de Bebedouro, Bom parto, Pinheiro, Mutange e Farol, em Maceió. Todas as ações são fiscalizadas pelos órgãos competentes".

Ainda segundo a empresa, "as iniciativas, acordadas com autoridades federais, estaduais e municipal, abrangem diversas medidas como a realocação preventiva e compensação financeira das famílias; ações sociourbanísticas e ambientais; apoio a animais; zeladoria nos bairros; monitoramento do solo e fechamento definitivo dos poços de sal".

Rompimento de mina

O rompimento da mina 18 da Braskem, no bairro do Mutange, em Maceió, ocorreu às 13h15 de domingo e foi percebido em um trecho da lagoa Mundaú, segundo imagens divulgadas pelas autoridades.

Outro movimento foi identificado às 13h45 após sensores apontarem tremores no solo, informou a Braskem. A empresa nomeou o ocorrido como "movimento atípico de água na lagoa Mundaú" e disse acompanhar a situação.

Na tarde de domingo, ao sobrevoar a região, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), mostrou impactos na lagoa: "Perspectiva de que esse diâmetro seja de 60 metros. Há um fluxo de lama que chega nessa parte, há uma tendência de estabilização. Os danos ambientais só podem ser medidos após o evento", disse.

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O rompimento foi concentrado, local. Sobrevoamos e vimos uma movimentação, um fluxo de lama, naquela região da mina 18, na região do Mutange. As pessoas de outras áreas podem ficar tranquilas. Não há nenhum estudo que aponte outro colapso dessa magnitude.
JHC durante coletiva para tratar da mina 18 da Braskem

Tendência é de "acomodação", diz coordenador da Defesa Civil

O coordenador da Defesa Civil de Alagoas disse que a tendência é de acomodação da mina. O coronel Moisés Melo afirmou que "a mina chegou à superfície em uma proporção 100 vezes menor do que o anunciado originalmente".

Houve tremor no subsolo da lagoa, mas por enquanto podemos dizer que esse é o colapso que estávamos esperando, nada parecido com o estádio do Maracanã como estavam divulgando.

O primeiro rompimento ocorreu a menos de 100 metros da margem da lagoa. Nas imagens, é possível ver bolhas se formando na superfície da água após o rompimento.

Mina da Braskem em Maceió começa a submergir após rompimento
Mina da Braskem em Maceió começa a submergir após rompimento Imagem: Divulgação/Secom
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"Início do processo de colapso", diz geóloga

O rompimento identificado não significa o colapso da mina, mas sim o começo do processo, afirmou ao UOL a engenheira geóloga Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas.

Um desabamento total poderia abrir uma cratera com 300 metros de diâmetro na capital do estado, estimou a Defesa Civil. A população foi orientada a não transitar pela região.

Ainda não é o colapso, mas esse rompimento é o início do processo. Para que o colapso aconteça de fato toda a circunferência deve ceder, algo que ainda não aconteceu, mas agora é preciso ficar em alerta.
Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas

Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros
Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros Imagem: Divulgação/Defesa Civil de Maceio

Danos ambientais serão dimensionados em meses

O possível desabamento da mina de sal-gema resultaria no vazamento de salmoura na lagoa Mundaú.

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Com 60% da área da mina abaixo na lagoa Mundaú, que tem 24 km de extensão, o vazamento deve causar impactos ambientais que só serão dimensionados após meses de estudo, avalia o engenheiro ambiental Alder Flores. Os piores resultados não devem aparecer de imediato.

A engenheira geóloga Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas, alerta para o desequilíbrio no ecossistema da região. "Quando rompemos esse equilíbrio ecológico, quebramos a cadeia alimentar", explica.

A professora cita ainda que é impossível prever o tempo para recuperação da lagoa e para o meio ambiente no entorno — ainda que a dissolução do sal deva ser rápida. "A natureza trabalha no seu tempo."

Entenda crise em Maceió

Décadas de exploração da Braskem do solo embaixo da capital alagoana deixaram o terreno instável. Pesquisadores alertam sobre o risco de desabamento desde 2010.

A empresa encerrou a extração em 2019 e começou a fechar as minas. Porém, ainda há minas que não foram preenchidas. Em nota, a empresa diz que toma "todas as medidas necessárias para mitigar, compensar ou reparar impactos" nos bairros sob risco.

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