AL: Colapso de mina pode causar morte de animais e desequilíbrio de lagoa

O possivel colapso da mina 18 da Braskem, no bairro do Mutange, em Maceió, pode causar um impacto ambiental imprevisível a médio prazo, segundo especialistas consultados pelo UOL. No entanto, a facilidade de dissolução do sal na água deve reduzir os problemas a longo prazo.

O que aconteceu

O possível desabamento da mina de sal-gema resultaria no vazamento de salmoura na lagoa Mundaú, que fica na região. A mina fica às margens da lagoa e, segundo a Defesa Civil de Maceió, o solo chegou a afundar mais de 50 cm por dia nesta semana.

Com 60% da área da mina abaixo na lagoa Mundaú, que tem 24 km de extensão, o vazamento deve causar impactos ambientais que só serão dimensionados após meses de estudo, avalia o engenheiro ambiental Alder Flores. Os piores resultados não devem aparecer de imediato.

A engenheira geóloga Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas, alerta para o desequilíbrio no ecossistema da região. "Quando rompemos esse equilíbrio ecológico, quebramos a cadeia alimentar", explica.

A professora cita ainda que é impossível prever o tempo para recuperação da lagoa e para o meio ambiente no entorno — ainda que a dissolução do sal deva ser rápida. "A natureza trabalha no seu tempo."

A água que vai descer para a lagoa é uma água salobra que contém sal. Em excesso, isso causará um desequilíbrio no sistema [...] Mas, pelo que tenho acompanhado, esse volume que vai ser despejado não vai ser um volume que vá causar grandes problemas ambientais a longo prazo tendo em vista a alta capacidade do local diluir o sal.
Alder Flores, engenheiro ambiental

Com o impacto tanto terrestre quanto lagunar teremos perda da biodiversidade na região [..] Teremos mortandade de espécies e até prejuízo na manutenção de outras.
Regla Toujaguez, engenheira geóloga

O que diz a Braskem

A Braskem trabalha com dois cenários possíveis para resolver o problema, segundo nota divulgada ontem. A empresa prevê uma "acomodação gradual até a estabilização" ou uma "possível acomodação abrupta" — ou seja, um colapso.

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A Braskem usa equipamentos de alta tecnologia para monitorar a situação em tempo real, junto de autoridades.

A empresa mantém atividades de mineração sob a superfície de Maceió desde a década de 1970. Ao todo, são 35 minas de sal-gema na área urbana da cidade. O produto é usado na produção de PVC e soda cáustica.

Como são as minas da Braskem

O sistema usado pela Braskem para explorar a mina é feito por um poço cavado, que injeta água para a camada de sal, gerando assim a salmoura. A solução então vai ser retirada dessas minas para a superfície — depois, elas são preenchidas com material líquido para dar estabilidade no solo. Em Maceió, esse processou durou de 1979 a 2019.

Entretanto, parte dessas minas teve vazamento do líquido ao longo desses mais de 40 anos de exploração — o que causou instabilidade no solo, gerando buracos como essa cavidade da mina 18. Ao todo são 35 minas na área urbana, que estão sendo preenchidas novamente.

Esse processo levou ao afundamento de solo em cinco bairros e ao deslocamento de quase 60 mil pessoas ao longo dos últimos cinco anos.

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Na quinta (30), a área de risco foi ampliada por determinação judicial, incluindo 1.700 lotes que agora exigem a retirada dos moradores. Cada lote abriga, no mínimo, uma residência.

A Braskem informou que "acompanha de forma ininterrupta os dados de monitoramento, que são compartilhados em tempo real com a Defesa Civil Municipal".

Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros
Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros Imagem: Divulgação/Defesa Civil de Maceio


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