Massacre em Paraisópolis: testemunhas negam versão da PM sobre pisoteamento

Duas testemunhas contestaram na Justiça a versão de policiais militares de que as mortes de nove pessoas em Paraisópolis, durante operação da PM em 2019, ocorreram após pisoteamento.

O que aconteceu

"As análises não trazem uma dinâmica de pisoteamento", disse a biomédica Ana Paula de Souza Velloso. Ela é testemunha da acusação e foi questionada por um dos advogados. Ana Paula faz parte do Caaf (Centro de Antropologia e Arqueologia Forense) da Unifesp, que fez análises dos exames e dados da investigação a pedido da Defensoria Pública.

Ana Paula e a pesquisadora do Caaf Desirée Azevedo afirmaram que as vítimas morreram de asfixia mecânica. Os laudos produzidos à época também apontaram a mesma causa. Reportagem do UOL mostrou contradições dos depoimentos dos acusados e os áudios dos agentes gravados naquela noite.

Houve falha dos policiais ao pedir socorro, segundo as testemunhas. Desirée afirmou também que os policiais mentiram sobre os sinais vitais das vítimas ao dizerem que elas pediam socorro. Como os jovens estavam em parada cardiorrespiratória seria impossível estarem conscientes, de acordo com a pesquisadora.

A biomédica afirmou que os PMs deveriam ter informado a gravidade das vítimas para que o resgate chegasse mais rápido. Também disse que massagens para evitar paradas cardíacas poderiam ter sido feitas. "A partir de 15 minutos, no máximo 20 minutos, se nada é feito, essa pessoa vai evoluir para óbito."

A Justiça ouviu três testemunhas ontem. Além de Ana Paula e Desirée, uma testemunha protegida pela polícia falou sobre a operação da Polícia Militar que deixou 9 pessoas mortas em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, em dezembro de 2019.

A Secretaria de Segurança Pública afirmou que os inquéritos civil e militar foram encaminhados ao Poder Judiciário. Ao UOL, a pasta disse que um dos policiais não faz mais parte da corporação e os outros 12 seguem afastados das "atividades operacionais de policiamento até a conclusão do trabalho judicial".

Essa foi a segunda audiência de instrução. Nessa fase do processo, as testemunhas da acusação e da defesa são ouvidas e, por último, os réus. Ao final dessa etapa, o juiz decide se o caso vai ou não a júri popular.

A próxima sessão está marcada para 13 de maio, segundo o juiz Antonio Carlos Pontes de Souza, da 1ª Vara do Júri. Até agora, 13 pessoas foram ouvidas — faltam ao menos 40.

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Defesa cita uso de álcool

Os advogados dos réus também questionaram a biomédica se o uso de álcool e drogas pelas vítimas poderia ter aumentado o risco de elas não sobreviverem. "Trata-se da falta de oxigenação, não é uma questão cognitiva", disse Ana Paula Velloso.

Ao longo dos depoimentos, os advogados dos réus questionaram a validação do documento produzido pelo Caaf. Os policiais militares envolvidos no caso afirmam que as vítimas morreram após serem pisoteadas.

Desirée e Ana Paula prestaram seus depoimentos sem a presença dos réus. A biomédica chegou a ser questionada pela defesa sobre o motivo de não querer testemunhar na presença dos policiais.

Após apontar divergências entre as evidências apresentadas pela Defensoria e a versão dos PMs, Desirée foi questionada sobre sua formação. A defesa chegou a citar uma possível impugnação do depoimento dela, mas o juiz indeferiu. Os advogados também perguntaram sobre experiências pessoais, como se ela já tivesse passado por uma situação de tumulto — o que foi criticado pela Promotoria.

O uso de gás lacrimogêneo também foi citado por Ana Paula como um agravante no quadro de saúde das vítimas. A biomédica citou o caso recente da jovem que teve graves complicações após cheirar uma pimenta.

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Massacre em Paraisópolis - Linha do tempo
Massacre em Paraisópolis - Linha do tempo Imagem: Arte UOL

Errata:

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  • Diferentemente do informado, Desirée Azevedo é pesquisadora do Caaf e coordenadora do projeto de apoio técnico científico a Defensoria no caso Paraisópolis. O texto foi corrigido.

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