'Avião ficou sem freios, foram 8 minutos eternos e peguei trauma de voar'

Viajar de avião é uma experiência tranquila para muitos, mas pode ser traumática para outros. A empresária Nathália Sacchetin, 30, lembra o dia em que estava voltando de Alter do Chão, no Pará, em 2022, quando o piloto do voo comercial informou que a aeronave estava "sem freios" após uma pane.

Ele falou para os passageiros não se preocuparem porque a equipe estava preparada para a situação. Depois, o piloto avisou que o pouso [em Belém, a escala] seria mais brusco e que a tripulação passaria as orientações.

Fiquei em choque e, para piorar, eu e o Leandro [marido] estávamos na saída de emergência, então recebemos orientações diferentes. A própria tripulação parecia estar assustada. Quando os comissários começaram a falar de destroços, riscos de incêndio, eu 'buguei'. Não conseguia mais pensar em nada. O avião ficou em um silêncio absurdo, todos em choque.

Nathália conta que estava na saída de emergência e recebeu orientações diferentes
Nathália conta que estava na saída de emergência e recebeu orientações diferentes Imagem: Arquivo pessoal

Oito minutos eternos

Nathália conta que o avião já sobrevoava o aeroporto do destino, em Belém. "As pessoas ficaram perguntando se iríamos pousar no aeroporto mesmo, e confirmaram."

O comandante avisou que pousaríamos em oito minutos. Aí são aqueles oito minutos eternos. Passa tudo pela sua cabeça. Pensava: 'Não é possível que isso está acontecendo, que eu vou morrer hoje'. Sou muito nova para isso. É um situação que foge do nosso controle.

A empresária lembra ainda do silêncio dos passageiros dentro da aeronave: "Era um silêncio diferente. Uma sensação esquisita e muito ruim."

Assim que pousou, Nathália disse que o avião não deu "aquela freada" de sempre. "Ele bateu no chão e ficou como se estivesse 'bambo'. Ficou andando na pista e, uma hora, parou."

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Todo mundo começou a bater palma, aquela coisa toda. Chorei muito porque fiquei muito nervosa, tive até dor de barriga.

A maioria dos detalhes do voo foi contada pelo marido, Leandro, após o pouso, pois Nathália esqueceu de quase tudo assim que o piloto informou do ocorrido. Umas das lembranças mais vívidas é de uma luz vermelha que se acendeu perto dos banheiros e da cabine do piloto.

Trauma de voar

Depois disso, Nathália teve dificuldade de voltar a viajar de avião. "Agora, fico muito nervosa. Qualquer barulhinho, eu já estou atenta. (...) Já precisei tomar remédio para alguns voos."

A empresária, aliás, precisa conversar com a tripulação da aeronave devido ao medo de andar de avião que desenvolveu.

Eu conto para eles que tenho medo de voar, principalmente quando estou sozinha, e que fico nervosa com a situação. Explico tudo o que aconteceu. Hoje em dia, preciso ouvir música bem alta para não escutar nenhum barulho do avião.

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Nathália buscou ajuda na terapia e na psiquiatria. Às vezes, precisa de remédios que a deixam mais calma, o que nem sempre surte efeito, segundo ela. "Melhorou até agora, mas não consigo me sentir confortável. Foi um trauma mesmo. Acho que o medo, hoje, é de passar de novo por uma situação dessa, que é horrível."

Nathália e o marido Leandro em voo internacional
Nathália e o marido Leandro em voo internacional Imagem: Arquivo pessoal

Uma das formas de lidar com o problema é procurar um profissional de saúde mental, além de buscar terapias complementares —você pode ver mais dicas nesta reportagem.

Aviões são seguros e sempre têm plano B

Quando as aeronaves passam por problemas técnicos como o citado acima, os pilotos sempre contam com um "plano B", explica Michel Goya, piloto de avião formado no Aeroclube de São Paulo.

O avião no Brasil é muito seguro e nunca terá apenas um sistema para uma só funcionalidade, como os freios. Se um deles dá pane, há outros que farão seu papel para ter um pouso tranquilo.
Michel Goya

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Aeronaves que fazem voos comerciais contam com três sistemas de freios, explica o especialista: os discos que ficam em todas as rodas do avião; o freio aerodinâmico, que fica na asa; o freio reverso, que fica no motor e muda a direção do ar, o que ajuda a diminuir a velocidade do avião.

Quando há pane em algum dos sistemas, o piloto segue um protocolo de segurança. Ele pode avisar os passageiros antes ou depois do pouso, de acordo com Goya.

Quando ocorre uma pane, já existe um sistema eletrônico que avisa o piloto. (...) Ele começa a seguir uma sequência de protocolos que, em resumo, fazem com que o pouso aconteça com segurança. O trem de pouso é o principal, mas se ele der problema, o piloto usará os outros sistemas para isso.
Michel Goya

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