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Rosto paralisado e pânico, ela foi baleada na cabeça por um bombeiro

Jully da Gama Carvalho foi baleada na cabeça por bombeiro do DF Imagem: Arquivo Pessoal

Jéssica Nascimento

Colaboração para UOL

07/03/2024 04h00

Jully da Gama Carvalho, de 30 anos, se recupera em casa após ter visto a morte de perto. A maquiadora estava com o marido e o casal de cunhados em um bar, na região de Alto Paraíso (GO), na Chapada dos Veadeiros, quando foi baleada na cabeça por Andrey Suanno Butkewitsch, sargento do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.

O militar está preso e foi indiciado pela Polícia Civil de Goiás por tentativa de homicídio qualificado contra quatro pessoas.

O militar, de maneira voluntária e consciente, efetuou quatro disparos na direção do veículo na intenção de ceifar a vida dessas pessoas. Por isso, está sendo indiciado pela tentativa de homicídio de Jully, o marido e o casal de cunhados, José Antônio Sena, delegado responsável pelo caso.

O UOL não conseguiu contato com o advogado do suspeito. O espaço segue aberto para manifestação.

O que aconteceu

O crime aconteceu no dia 29 de janeiro. Segundo a maquiadora, ela, o marido e um casal de cunhados estavam no caixa do bar para pagar a conta, quando Butkewitsch teria olhado para ela. "Meu marido apenas pediu para que ele se afastasse", conta.

As câmeras de segurança registraram o crime. Nas imagens, é possível ver o momento em que o bombeiro deixa um copo de bebida em cima do balcão e empurra o marido da vítima. July tenta separar a briga e puxar o marido.

De acordo com testemunhas, o casal tenta sair do local, mas o bombeiro vai atrás e faz os disparos em direção ao carro deles. Um dos tiros acertou a cabeça da maquiadora.

Com sangramentos na cabeça, a maquiadora recebeu os primeiros socorros e foi levada em estado grave para hospital Imagem: Arquivo Pessoal

"Não lembro de nada depois que entrei no carro"

O marido e os cunhados só perceberam que Jully foi atingida após chegarem na casa onde estavam hospedados. Com sangramentos na cabeça, a maquiadora recebeu os primeiros socorros em Alto Paraíso, a cerca de 230 km de Brasília, e, em seguida, foi levada em estado grave para o Hospital de Base, na capital.

O tiro, por sorte, pegou de raspão. Mesmo assim, precisei fazer uma cirurgia bem delicada para retirar alguns fragmentos da bala que ficaram alojados. Não consigo lembrar de nada depois que saímos do bar. Ficou um apagão na minha memória.

A maquiadora está com um lado do rosto paralisado e tem crises de pânico e ansiedade. Ela conta que não consegue dormir direito e não voltou ao trabalho. O marido está desempregado e a família sobrevive atualmente de doações.

Bombeiro não prestou apoio

Choro o tempo todo. Eu tinha uma rotina que não parava, sabe? Cuidava dos meus três filhos, tinha muitos clientes. Meu marido precisou largar o emprego para cuidar de mim. Nem consigo ir ao banheiro sozinha. Me culpo pela viagem e só fico pensando que eu não poderia ter saído dessa. Foi muita sorte, um milagre, eu estar viva.

Segundo Jully, o bombeiro e nem a defesa dele entraram em contato para prestar alguma ajuda à família. Ela entrou na Justiça para receber alguma indenização ou ajuda financeira.

Preciso fazer fisioterapia para recuperar os movimentos, os medicamentos também são caros. Minha vida virou do avesso. Ele não tinha esse direito. Não fizemos nada contra ele. Uma pessoa que deveria guardar e cuidar da população, quase nos matou.

Investigação

Quando atirou na maquiadora, o bombeiro estava lotado na Presidência da República e também fazia parte do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). De acordo com o Portal da Transparência, o militar atuava desde 2019 no órgão do governo federal responsável pela segurança do presidente da República.

Em nota, o Corpo de Bombeiros do DF informou que o processo criminal está em andamento, correndo paralelamente ao processo administrativo. "Neste contexto, é assegurado ao militar envolvido o direito ao contraditório e ampla defesa, em conformidade com os princípios legais que garantem esses direitos a todo cidadão brasileiro", diz a nota.

Questionada sobre a continuidade de Butkewitsch no quadro de servidores, a corregedoria informou que a lei de exoneração militar, em caso de crime, está sendo observada no devido processo, garantindo a devida aplicação da Justiça. A nota também informa que o bombeiro ainda pertence aos quadros do CBMDF e no momento se encontra sob custódia do sistema prisional do estado de Goiás.

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