Ela quebrou vértebras e perdeu o movimento do corpo na aula de acroyoga

A fotógrafa e praticante de yoga Lindalva Firme Guedes, de 32 anos, sofreu um acidente enquanto fazia um movimento na aula de Acroyoga, em Vitória (ES). Ela caiu de uma altura de quase dois metros e quebrou duas vértebras, o que a deixou tetraplégica.

"Ela achou que ia morrer", revelou irmã

Lindalva foi convidada para uma oficina que mistura a prática de yoga e movimentos de acrobacias. Na manhã do dia 24 de janeiro, ela deu início aos exercícios de sustentação com outra aluna. Houve um desequilíbrio e ela caiu.

O movimento era em dupla. A professora deu as orientações e elas foram fazer. Primeiro, ela sustentou a colega ficando embaixo. Depois, inverteram as posições e ela caiu de uma altura de um metro e meio. Assim que caiu, ela quebrou as duas vértebras do pescoço e ficou sem movimento algum. Ela só se movimentava do pescoço pra cima. Cíntia Firme Guedes, irmã de Lindalva

Equipes do Samu foram acionadas para fazer o socorro da aluna e foi levada para um hospital estadual em estado grave.

Assim que ela bateu com a cabeça, perdeu os movimentos, foi instantâneo. Ela teve muita dificuldade para respirar. Ela tentava se manter lúcida o tempo todo, mantendo a técnica de respiração que aprendeu no yoga. Ela tinha medo de morrer, de desmaiar e não aguentar. Levaram ela para o hospital. O psicológico dela estava e ainda está muito abalado. Ela chorava muito, teve crises de pânico, crise de ansiedade, por estar completamente imobilizada.

Movimentos exigem a participação de três pessoas

A acroyoga é a mistura de acrobacias com as posturas do yoga, como força, concentração e flexibilidade. Segundo a instrutora, Morgana Resende, essa prática chegou no Brasil há 15 anos. Não existe uma limitação de peso, altura que impossibilita a prática da atividade. Em alguns casos, a acroyoga é indicada como exercício de força e para aliviar dores.

Pessoas com pressão alta descompensada, glaucoma —devido à pressão nos olhos—, que têm labirintite e aquelas com mobilidade reduzida não podem fazer o exercício. A professora e também fisioterapeuta explicou que as pessoas não começam a prática já com movimentos elaborados e sim do início, com exercícios mais leves para conseguir entender o equilíbrio do corpo.

Qualquer tipo de peso e altura são acolhidos. Existem três posições para a prática: a pessoa que fica embaixo é a base, a que fica em cima é o voador. Geralmente, as pessoas mais pesadas e altas ficam embaixo e usam esse peso e altura como benefício. O terceiro elemento é o anjo e não precisa ser o instrutor. Quando ensinamos o aluno, ele aprende a função dos três. Como qualquer outra atividade, existe o risco de queda, não é só no Acroyoga que isso pode acontecer. Morgana Resende, instrutora de acroyoga, ao UOL

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A fotógrafa passou por duas cirurgias para a fixação das vértebras C5 e C6.
A fotógrafa passou por duas cirurgias para a fixação das vértebras C5 e C6. Imagem: Arquivo Pessoal

Lesão pode ser tratada em até três anos

A fotógrafa passou por duas cirurgias para a fixação das vértebras C5 e C6. Devido à lesão neurológica, hoje, ela só tem movimento de flexão de ombros e levanta o braço, mas não consegue estender o cotovelo, também não consegue flexionar os dedos e não há controle do tronco e das pernas.

O fisioterapeuta que lidera o tratamento de Lindalva explicou que ela teve uma fratura na coluna cervical grave.

Por causa dessa lesão, a pessoa perde o controle dos movimentos e a sensibilidade. Quando é no nível cervical, chamamos de tetraplegia ou tetraparesia. Esse tipo de lesão não é rara, acontece com uma certa frequência e acaba tendo diferentes tipos. No caso dela, foi uma lesão grave. Lucas Brino, fisioterapeuta neurofuncional.

Lindalva faz fisioterapia pelo menos cinco vezes por semana. O profissional estipulou que é necessário que o tratamento, que ocorre com uma equipe multidisciplinar, se prolongue por alguns anos. "É um tratamento longo, de até três anos".

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Futuro incerto

Os movimentos podem voltar, sim, uma vez que a lesão dela não foi completa. Ela tem sensibilidade, sente umas partes do corpo menos que o normal, chamada de hipoestesia. Conforme a medula vai desinchando, os movimentos podem aparecer, se não houver uma lesão direta em um daqueles fios que passam na medula. Para a gente saber o que foi lesionado ou não, temos que esperar o edema da medula diminuir, Lucas Brino.

Lindalva tem um longo processo pela frente, hoje ela ainda tem pouca força nos braços e nas mãos, por isso não consegue se alimentar sozinha. A curto prazo, o fisioterapeuta espera que ela consiga ao menos ter independência na cama.

Cada um tem uma forma de responder ao tratamento. É muito complicado traçar prognósticos, a gente estipula metas, objetivos, a curto, médio e longo prazo.

Vakinha para ajudar tratamento de R$ 170 mil

A família se uniu para ajudar nos cuidados com Lindalva. A mãe da fotógrafa é uma pessoa debilitada, por ter uma doença degenerativa e hoje demanda cuidados das filhas. Para cuidar da fotógrafa foi preciso contratar um fisioterapeuta com uma equipe multidisciplinar, além dos gastos com remédios e outros procedimentos durante o tratamento.

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Fizemos uma planilha até dezembro com todos os cuidados que ela precisa de neurologista, fisioterapeuta, fisioterapeuta pélvico, psiquiatra, psicólogo e recebemos deles alguns orçamentos. Ela precisa também de um cuidador, porque hoje estamos nos revezando, mas precisamos correr atrás de documentos e liberações do INSS. Diante disso, resolvemos fazer essa vaquinha e é o que tem ajudado até o momento. Cíntia Firme Guedes, irmã de Lindalva

A família acredita na recuperação total da praticante de yoga. "Temos fé que ela vai se recuperar e vai dar tudo certo", disse a irmã.

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