MC diz que foi agredida e teve cabelo puxado por agentes da CPTM; veja
Uma cantora e MC de batalha de rima, de 20 anos, denunciou ter sido agredida e teve o cabelo puxado durante abordagem de agentes da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na estação da Luz, no centro da capital paulista, na noite de domingo (10).
O que aconteceu
Caelaine Silva, conhecida como MC Kisha, diz que teve as tranças arrancadas pela raiz após segurança da CPTM puxar o seu cabelo. A MC, que já é conhecida por fazer rimas nos trens, relatou nas redes sociais que estava voltando de uma batalha de rima com amigas — todas negras —, quando elas começaram a fazer rimas de improviso dentro da composição. Ela alega que agentes da CPTM pediram para que elas parassem, o que foi feito, mas os vigilantes ainda teriam se irritado com a conversa das jovens no local.
Kisha afirma que ela e amigas se recusaram a descer do trem só por estarem conversando. Imagens registradas pelo grupo mostram uma amiga de Kisha, conhecida como "Pitanga", sendo empurrada, pelo braço, para fora da composição por um agente. As amigas tentam ajudar a rapper e são impedidas por outros seguranças, que também batem boca com alguns passageiros que tentaram intervir na situação.
Vídeo flagrou cabelo de Kisha sendo puxado. Depois, a MC mostra que teve as tranças arrancadas. Imagens divulgadas pela cantora nas redes sociais, onde ela tem mais de 99 mil seguidores, mostram a raiz do cabelo vermelha, sem cabelo na região onde as tranças teriam sido puxadas, o olho vermelho, os dedos machucados e marcas no pescoço.
Funcionária bateu no celular de uma das jovens para tentar evitar a gravação. "Eu não estou aqui para apanhar, para de me filmar e para de filmar a minha cara", diz a agente em um dos vídeos, acrescentando que teriam colocado a "mão na cara dela". Alguns dos vigilantes aparecem com o colete da CPTM e o símbolo da empresa de segurança terceirizada Gocil.
MC diz que já foi agredida anteriormente por fazer rimas nos trens. "Meu coração está partido. Demorou muito tempo para eu conseguir fazer o meu cabelo, sabe? Tô melhor, mas impossível dizer, com verdade, que eu estou bem. E é sobre isso. Não posso, não vou ou quero deixar isso barato de novo. Foi a sétima e última vez, CPTM", relatou.
Advogado da jovem diz que apresentará requerimento ao Ministério Público de São Paulo. O defensor Guilherme Macedo, do escritório Arêdes, Macedo e Mattuella Advogados, afirmou ao UOL que buscará a penalização dos funcionários e da empresa, além de solicitar "ações afirmativas necessárias, didáticas e efetivas para que esses atos não se repitam com outros jovens".
Dois dias após o Dia Internacional das Mulheres, uma jovem preta e periférica é agredida pelos seguranças do trem por estar rimando com suas amigas durante a viagem. (...) Caelaine é uma jovem talentosa, violentada no dia 10 de março, por seu talento, por ser preta e ser rapper.
Guilherme Macedo, advogado de Kisha, ao UOL
Polícia Civil investiga o caso
A SSP-SP confirmou o registro de boletim de ocorrência. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que uma mulher e uma segurança relataram ter sido agredidas na confusão.
O caso foi registrado como lesão corporal no 2º DP (Bom Retiro). Exames foram solicitados ao IML (Instituto Médico Legal). "As investigações prosseguem para esclarecer os fatos", acrescentou a pasta. O advogado de Kisha falou que o boletim também foi registrado pelos crimes resultantes de preconceito de raça e de cor (racismo).
Kisha fez o exame de corpo de delito nesta segunda-feira (11). O prazo é de 10 dias para o resultado, informou o advogado da MC.
CPTM diz que vai apurar abordagem
CPTM diz que vai apurar os fatos sobre a abordagem. Em nota ao UOL, a companhia disse que os vigilantes abordaram o grupo de mulheres "que estava tumultuando a viagem dos demais passageiros" e acrescentou que uma vigilante foi agredida por uma das jovens.
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Quero receberCompanhia se coloca à disposição das autoridades. A empresa ainda disse que pode disponibilizar as imagens do trem e da estação à polícia.
A companhia reitera que não tolera nenhum tipo de violência nos trens e estações, seja por parte de seus colaboradores ou passageiros que utilizam o sistema. Caso seja constatada irregularidade na atuação da equipe de segurança, serão adotadas medidas administrativas.
CPTM, em nota
Já a Gocil afirmou investir constantemente em treinamento dos funcionários. A empresa de segurança, que aparece no uniforme de alguns dos agentes envolvidos no caso, também completou dizendo que mantém "princípios rígidos de respeito à diversidade e inclusão". Questionada sobre a abertura de apuração interna sobre o caso, a assessoria comunicou que irá retornar posteriormente à reportagem.
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