Quem foi o visconde com 1280 escravizados, tataravô de mulher de bilionário

Se você é fã de podcast, provavelmente, já se deparou com as histórias contadas por Branca Vianna no podcast "Rádio Novelo Apresenta". Mas você sabia que ela é parente de um escravocrata?

A história foi contada no próprio canal no episódio "O Visconde". Nele, o podcast apresenta o Visconde do Rio Preto, o tataravô de Branca - que também é mulher do bilionário João Moreira Salles. Entre os graus de parentesco, o tataravô é o pai do trisavô — chamado por alguns de tetravô.

O nome do visconde, na verdade, era Domingos Custódio Guimarães. O título era dado a homens que agradavam ao império e também eram muito ricos.

Filho de fazendeiros, em São João del Rei, Minas Gerais, quando mais novo, fez fortuna vendendo "carne verde", também conhecida como carne fresca.

Com esse dinheiro, passou a comprar terrenos no Vale do Paraíba e também a adquirir escravizados para trabalhar em suas fazendas de café.

Sua morte, em 1868, deixou uma herança que incluía não apenas oito fazendas e sítios. Ele tinha 1280 escravizados que foram comprados e deixados para seus herdeiros.

Ele morreu na Fazenda do Paraíso, que seria a principal propriedade do visconde. Lá, ele tinha mais de 500 escravizados.

A herança do visconde perdurou por três gerações. Segundo Tina Vianna, prima de Branca, foi a avó delas quem acabou com os pertences do avô visconde. Ela teria queimado objetos e vendido joias, pratarias, entre outros.

A Fazenda Paraíso, também conhecida como a "Joia de Valença", deixou de pertencer à família em 1895 e, hoje, é propriedade de descendentes de Alexandre Belfort Arantes. Seu tataraneto, Paulo Roberto, que ironicamente é descendente tanto de escravocratas como escravizados, mantém o lugar o mais preservado possível e oferece tours guiados pelo local, onde, com sua esposa, contam a história do fazenda e, consequentemente, do Visconde.

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A busca pela origens

Após ter conhecimento do inventário do tataravô, com o espantoso número de escravizados, Branca Vianna, sua irmã Anna e a prima Tina decidiram saber mais sobre as origens do visconde e de sua família em busca de mais informações sobre a história da escravidão no Brasil.

Um dos pontos de partida para a pesquisa foi a lembrança que as três tinham de um livro com registro de escravizados que existia na antiga Fazenda Paraíso, local visitado por elas na infância.

O livro teria nomes e outras informações que poderiam fazer com que descendentes destas pessoas encontrassem suas origens. Mas infelizmente, o documento não foi encontrado durante os mais de três anos de estudos. O atual proprietário da fazenda afirma ter visto o material em algum momento, mas não sabe onde foi parar.

"Este acaba sendo um exemplo de outros documentos importantes que podem estar guardados esquecidos nas gavetas e baús das famílias", diz Branca durante o episódio do podcast. As descendentes do visconde fazem um apelo para que outras pessoas com famílias de origem escravocrata como a delas procurem em suas casas arquivos como esses e compartilhem, para que a história de outras pessoas possa ser esclarecida e traçada de forma linear como acontece com elas. "É uma parte da história que não podemos negar. A escravidão é uma brutalidade que não se pode repetir, colocando embaixo do tapete", conclui Tina.

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