Peixe, Macalé, Orelha: quem é quem por trás do plano para matar Marielle
Colaboração para o UOL
25/03/2024 11h23Atualizada em 25/03/2024 11h24
A vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta em março de 2018 por atrapalhar os interesses dos irmãos Brazão, segundo a Polícia Federal. Relatório de investigações aponta essa como a motivação do crime, que também tirou vitimou o motorista Anderson Gomes.
Veja quem é quem no caso:
Ronnie Lessa
Autor dos disparos. Sargento da reserva da Polícia Militar, Ronnie Lessa foi o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Foi preso em 12 de março de 2019.
Expulso da PM em fevereiro de 2023. A ficha criminal do ex-PM inclui investigações do Ministério Público por suspeitas de ligação com o jogo do bicho —ele sofreu um atentado a bomba ao sair do batalhão. O crime, que levou o policial a perder uma das pernas, teria sido um acerto de contas entre bicheiros. Segundo a Polícia Civil, a investigação sobre o atentado está arquivada desde 2013.
A suspeita é que Lessa também atuava no ramo de tráfico de armas. Na casa de um amigo do sargento aposentado, policiais civis efetuaram a maior apreensão de fuzis da história do Rio de Janeiro. O ex-sargento foi condenado por tráfico internacional de acessórios de armas de fogo.
Ele foi apontado ainda como um dos chefes do grupo paramilitar atuante nas comunidades de Rio das Pedras e da Gardênia Azul, ambas na zona oeste da capital, dominadas pela milícia.
O ex-sargento também atuava em negócios de distribuição de galões de água, segundo as investigações. O sócio dele nesta empreitada seria um outro policial militar da ativa. Antes de ser preso, Lessa planejava expandir seu negócio de distribuição de água para áreas dominadas por traficantes de drogas do Rio.
Élcio Queiroz
Ex-sargento da Polícia Militar do RJ, corporação da qual foi expulso em 2015, Élcio Queiroz também foi preso em março de 2019, na Zona Norte do Rio de Janeiro, um ano após os assassinatos.
Em depoimento, ele admitiu ter sido o motorista do veículo utilizado no ataque contra Marielle, além de confirmar que os disparos que vitimaram a vereadora foram realizados por Lessa.
Domingos Brazão
Político carioca, Domingos Inácio Brazão foi assessor na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Depois, vereador, entre 1997 e 1999, pelos partidos PT do B (atual Avante) e PL.
Foi eleito deputado estadual em 1999 e ocupou o cargo até 2015. Posteriormente, virou conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado). O órgão é auxiliar do Poder Legislativo e tem como função fiscalizar a movimentação financeira do estado.
Reportagem do UOL, em 2019, revelou que ele era chefe de um clã cujo reduto eleitoral abrangia bairros da zona oeste do Rio dominados por milícias. Domingos nasceu na região, no bairro de Jacarepaguá.
Segundo a PF, Domingos é um dos mandantes do assassinato da vereadora. O conselheiro do TCE-RJ nega.
Chiquinho Brazão
Chiquinho Brazão (União-RJ) foi eleito pela primeira vez em 2018, meses antes dos assassinatos em 14 de março daquele ano. É deputado federal e tem uma atuação parlamentar discreta. Relatou somente oito projetos.
O setor mais presente na atuação parlamentar de Chiquinho é a economia. Há três projetos relativos ao tema que estão sob relatoria do deputado.
A PF aponta o deputado como mandante do assassinato, ao lado do irmão. A motivação teria sido uma disputa imobiliária e territorial - Marielle mantinha posição contra loteamentos de milícias no Rio, em áreas em que os Brazão tinham influência.
Rivaldo Barbosa
Ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa foi preso por suspeita de planejar o crime. Segundo relatório da Polícia Federal divulgado neste domingo (24), o delegado atrapalhou as investigações das mortes da vereadora e do motorista.
Também citado na delação de Lessa, Barbosa assumiu a chefia da Polícia Civil um dia antes do assassinato de Marielle e Anderson. Ele foi nomeado pelo então interventor, o general Braga Netto. Foi Rivaldo quem garantiu a impunidade do crime, segundo Lessa.
Suspeito de receber propina para obstruir investigações. Em relatório enviado ao Ministério Público em 2019, a Polícia Federal apontou Rivaldo como suspeito de receber R$ 400 mil para evitar o avanço das investigações sobre autoria. Na ocasião, ele negou o recebimento de propina e a obstrução do caso.
Giniton Lages
Giniton Lages foi um dos alvos dos 12 mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF neste domingo. O delegado é ex-titular da Delegacia de Homicídios.
Nomeado por Rivaldo. Um dia após a morte de Marielle, Giniton foi nomeado por Rivaldo como sucessor dele na Delegacia de Homicídios da Capital. Giniton passou a ser o responsável pela investigação do crime; antes disso, trabalhava na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense.
A partir disso, começaram algumas ações para tentar obstruir ou atrapalhar as investigações, segundo o relatório da PF. Ele seria o "operacionalizador" do esquema.
Giniton chegou a escrever um livro sobre Marielle Franco. Ele foi o primeiro a chefiar as investigações sobre a morte da vereadora, mas admitiu erros e foi trocado. A equipe chefiada por ele alegou ter tido problemas na obtenção de imagens para observar o caminho do veículo, o que ajudaria a refazer todo o trajeto e, eventualmente, chegar aos executores.
Marco Antônio de Barros Pinto
Comissário da Polícia Civil, Marco Antônio de Barros Pinto também teria atrapalhado as investigações. Segundo a PF, ele era o "agente de campo e intermediário com as pessoas de interesse e testemunhas."
Érika de Andrade Almeida Araújo
Esposa do delegado Rivaldo Barbosa, Érika Araújo era responsável pela parte financeira e "branqueamento de capitais", segundo a PF. Ela teria colaborado com o marido na lavagem de dinheiro de origem ilícita usando a própria empresa.
Robson Calixto Fonseca
Buscas também foram feitas na casa de Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe. Assessor do Tribunal de Contas do RJ, ele teria intermediado a primeira reunião entre Lessa e os irmãos Brazão.
Edmilson Oliveira da Silva
Ex-sargento da PM, Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, foi contratado para assassinar a vereadora. Ele foi morto a tiros em Bangu, zona oeste do Rio, em novembro de 2021, e era próximos dos irmãos Brazão desde o começo dos anos 2000.
Laerte Silva de Lima
Laerte Silva de Lima foi escolhido pelos irmãos Brazão para se infiltrar no PSOL, partido ao qual pertencia Marielle Franco. Cabia a ele monitorar os passos da vereadora que, àquela altura, já tivera a morte decretada.
Ele repassava informações para Macalé e Lessa. Segundo a PF, o delegado Rivaldo Barbosa tinha garantido a impunidade aos assassinos.
A participação de Laerte foi crucial para a morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes, segundo a PF. Ele contou aos irmãos Brazão que a vereadora seria contrária ao desejo deles de destinar uma área da cidade à exploração imobiliária. "[A infiltração] Resultou na indicação de que Marielle pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia", revela trecho do relatório de Moraes sobre o papel do infiltrado.
Marcus Vinicius Reis dos Santos
Após o encontro entre Lessa, Macalé e os irmãos Brazão, o crime começou a ser planejado. O ex-PM e miliciano Marcus Vinicius Reis dos Santos, o Fininho, ao lado de Peixe, teria cedido a arma do crime.
Maxwell Simões Corrêa
Ainda de acordo com o relatório da PF, o carro usado no crime foi cedido por Maxwell Simões Corrêa, o Suel. Preso, ele é acusado de monitorar os passos de Marielle e também de ajudar no desmanche do carro.
Edilson Barbosa dos Santos
Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, é dono do ferro velho que foi responsável pelo desmanche do veículo usado pelos assassinos da vereadora e do motorista.
Orelha foi denunciado pelo Ministério Público em agosto de 2023 por impedir e embaraçar as investigações do caso. Ele foi preso em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), em fevereiro deste ano.
*Com reportagem publicada em 24/03/2024