Caso Marielle: Lessa disse que foi a motel abandonado para testar arma
O ex-PM Ronnie Lessa afirmou à Polícia Federal que foi a um motel abandonado na zona oeste do Rio de Janeiro para testar a arma que seria usada para matar a vereadora Marielle Franco.
O que aconteceu
Lessa teria disparado uma "pequena rajada de cinco a seis tiros" em um barranco onde novas suítes do motel seriam construídas, diz relatório da Polícia Federal. O estabelecimento fica na Estrada do Catonho, na zona oeste do Rio.
A PF afirmou que chegou a ir até o local citado por Lessa para encontrar "fragmentos balísticos". O administrador do local disse aos agentes, entretanto, que devido ao crescimento da vegetação e da queda de terras do barranco, o motel contratou um trator para fazer a limpeza da área entre 2018 e 2019.
Na delação, Lessa também disse que a arma usada no assassinato estava na comunidade de Rio das Pedras. O ex-PM afirmou que Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, foi quem tirou o armamento na região.
Foi Macalé quem procurou inicialmente o ex-PM para matar a vereadora, afirmou Lessa em sua delação. Em contrapartida, eles "ganhariam um loteamento a ser levantado nas imediações da rua Comandante Luís Souto, Tanque, no Rio de Janeiro", cita a PF.
Além da arma, Lessa recebeu dois carregadores e a exigência de devolver a arma depois do assassinato. "Quando Ronnie começa a discorrer sobre as características da arma se depreende o motivo da referida exigência. Certamente se tratava de arma apreendida ou vinculada ao arsenal de alguma força de segurança pública, ante o caráter restrito do armamento", afirma o relatório da PF.
Em sua delação, o ex-PM Élcio de Queiroz afirmou à polícia que a arma usada no crime era do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais). No relatório final da operação a PF afirmou que não conseguiu identificar a arma, nem a origem das munições usadas por Lessa.
A delação de Lessa foi homologada na semana passada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Ontem, a PF prendeu três suspeitos de serem os mandantes do caso Marielle — os irmãos Brazão, o deputado Chiquinho e o conselheiro do TCE-RJ Domingos. O ex-chefe da Polícia Civil do Rio também foi preso por suspeita de obstruir as investigações.
Armas descartadas
Lessa afirmou à Polícia Federal que a arma foi descartada em um córrego. Após uma reunião em abril de 2018 com os irmãos Brazão, ele e Macalé teriam se encontrado com o assessor pessoal de Domingos, Robson Calixto Fonseca, conhecida como Peixão, e Marcus Vinicius Reis dos Santos, vulgo Fininho.
Agentes da PF foram até o local citado por Lessa. "Para nossa surpresa constatou-se que, em vez de um córrego, havia um rio no local", diz o relatório. Moradores ouvidos pela polícia afirmam que a prefeitura realizou obras de desassoreamento do córrego, "ampliando curso da água".
A equipe, entretanto, observou que existia uma cerca separando o córrego — conforme relatado por Lessa.
Ao interagir com Fininho e Peixão, Macalé entregou a bolsa ao segundo que a deixou no banco do carona, sacou os carregadores e se dirigiu a um córrego a dois metros dali, momento no qual se debruçou sobre uma cerca e dispensou as munições sobressalentes na água.
Operação da PF
A PF prendeu os irmãos Brazão e Rivaldo no domingo porque os suspeitos apresentavam risco de fuga. Eles foram transferidos para Brasília por volta das 16h de ontem.
12 de mandados de busca e apreensão foram cumpridos — todos na cidade do Rio de Janeiro. A investigação confirmou buscas contra o ex-titular da Delegacia de Homicídios Giniton Lages, além de Marcos Antônio de Barros Pinto e Erika de Andrade de Almeida Araújo, mulher do delegado Rivaldo Barbosa.
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Quero receberIrmãos Brazão negam envolvimento com o caso. O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, disse que tem "certeza que ele é inocente. Ele não tem ligação com a Marielle, não conhecia".
A defesa do delegado Rivaldo havia dito que ainda não teve acesso aos autos nem à decisão que decretou a prisão. Portanto, não vai se manifestar. O espaço segue aberto.
O caso Marielle completou seis anos em 14 de março. A vereadora e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados na região central do Rio. Eles voltavam de um evento em que a vereadora palestrou quando um Cobalt prata emboscou o carro em que estavam e 14 tiros foram disparados.
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