'Fui único a assumir a banca': quem é o bicheiro de 94 anos que vai a júri

Membro mais antigo da cúpula do jogo do bicho, José Caruzzo Escafura, o Piruinha, será julgado pelo 3º Tribunal do Júri pelo homicídio do comerciante de carros Natalino José do Nascimento Espínola, o Neto.

Quem é Piruinha?

Um dos bicheiros de destaque da série "Vale o Escrito", do Globoplay, Piruinha tem 94 anos e é pai de 19 filhos.

Ele ingressou na contravenção na década de 1950, quando começou a gerenciar bancas na região da Abolição, Inhaúma e Piedade, no Rio de Janeiro.

A partir da década de 1970, já era considerado um dos principais bicheiros da cidade, tendo sob seu domínio também os bairros de Madureira, Cascadura e Maria da Graça. Atualmente, afirma contar com mais de 250 pontos de jogo sob seu comando.

Antes de iniciar sua vida no jogo do bicho, o jovem José Caruzzo foi motorista de lotação, e por isso ganhou o apelido de Piruinha.

Por volta de 1970, segundo relatos do documentário "Vale o Escrito", ajudou a fundar a cúpula do jogo do bicho, composta por ele, Castor de Andrade, Anísio, Miro Garcia e Capitão Guimarães. A cúpula, que foi ideia de Piruinha, consiste na partilha dos territórios da cidade do Rio de Janeiro para divisão e organização do comando do jogo.

"Eu vivo de jogo há 80 anos, desde moleque. Tudo o que eu tenho na minha vida: hotel, cavalo - sou criador. Mas já fui jornaleiro, já vendi muita bala no trem, engraxei muito sapato na Praça 24 de Maio, fui trocador e motorista de ônibus, trabalhei na praça no tempo da guerra? Ganhei muito dinheiro. Sou o único banqueiro de bicho [a assumir]. Já tive mais de cem mulheres. Eu tive 19 filhos, porque muitas mulheres tiveram juízo e não quiseram ter filho", contou em entrevista ao documentário do Globoplay.

Em 1993, junto com outros 14 banqueiros, foi preso e condenado a 6 anos por formação de quadrilha. Os contraventores também eram acusados de tráfico de drogas e tortura, mas não havia provas suficientes sobre estes crimes.

Diferentemente de seus contemporâneos, Piruinha nunca foi líder de uma escola de samba e ganhou menos fama que seus pares. Seus negócios incluem motéis na zona oeste do Rio.

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Ele também já foi ligado a uma quadrilha de abortos clandestinos. Seu nome aparecia em gravações feitas pela polícia.

Em 2017, seu filho Haylton Carlos Gomes Escafura, 37, foi assassinado junto com a soldado da PM Franciene de Souza, em um hotel na Barra da Tijuca. O motivo, conforme apontam as investigações, seria uma disputa por pontos de máquinas caça-níqueis na cidade.

"Eu tenho um orgulho na minha vida dentro da contravenção: a minha área é a mais limpa do Rio. Nunca matou ninguém, nunca mandei matar ninguém, nem fazia sacanagem com ninguém pra tomar áreas", afirmou na entrevista ao documentário.

Um mês depois, em 2022, foi preso, acusado de encomendar a morte de Natalino José do Nascimento Espínola, conhecido como Neto. O comerciante de carros e neto de Natal Portela, patrono da escola de mesmo nome, teria uma dívida não quitada com a filha de Piruinha, Monalliza Neves Escafura. O homem foi morto a tiros em uma emboscada em julho de 2021.

No fim do ano passado, o bicheiro sofreu uma queda no banheiro do presídio, que resultou em uma fratura no fêmur. Por sua idade avançada e problemas de saúde, agora cumpre pena domiciliar.

"Muitas das coisas que aprendi na vida, não tenho vergonha de dizer, foi na cadeia. Porque se eu não quisesse ir pra cadeia, eu não tinha a vida que eu tenho. Ninguém vai preso à toa, pode estar certo disso", afirmou no documentário em 2022.

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