Voluntária fala das doações em mau estado no RS: 'Calcinhas sujas'
Doações de roupas em mau estado têm chegado aos centros de recolhimento em Porto Alegre, conta a analista de marketing Milla Dellamora, 26, que trabalha como voluntária.
Entre os itens, há calcinhas sujas, roupas rasgadas, calçados sem cadarços e sem solado, além de objetos dispensáveis para a população neste momento, como sapatos de salto alto.
"A impressão que dá é que as pessoas queriam descartar objetos, não sabiam como e mandaram para as doações", contou em entrevista ao UOL. Milla atuou em duas unidades de recolhimento na capital do Rio Grande do Sul, durante o final de semana.
Me mandaram um pacote com quase 20 calcinhas sujas de menstruação. Ninguém vai querer colocar isso. É humilhante, insalubre. A intenção da pessoa que doou isso realmente foi ajudar? Milla Dellamora, voluntária em centros de recolhimento de doações em Porto Alegre
"As pessoas estão precisando de coisas básicas, mas emergentes. Tivemos doações de salto alto, sapatos de bico fino e garrafas de vidros, que podem cortar voluntários que fazem a triagem dos materiais", conta a analista de marketing.
O que doar e como?
Mais de 200 mil pessoas estão fora de casa no Rio Grande do Sul. As doações são preferencialmente para:
Itens de higiene pessoal;
Roupas femininas, masculinas e infantis;
Peças íntimas (novas);
Fraldas infantis e geriátricas;
Remédios, inclusive devido ao risco de leptospirose após o contato com a água das enchentes;
Água potável;
Cobertores;
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Organizar as doações ao fazê-las é essencial para otimizar a separação nos centros de recolhimento. Algumas dicas são:
Sempre mande peças em bom estado e já higienizadas;
Envie os calçados com os cadarços já colocados e presos um ao outro;
Envie os pares de meias juntos;
Coloque objetos de categorias diferentes em sacolas separadas, como: roupas de cama, itens de higiene pessoal, produtos de limpeza e roupas.
"Não é todo mundo que tem a possibilidade de doar coisas em perfeito estado, mas a questão é pensar: este item é usável?", destaca Milla. "Temos que pensar na dignidade de quem vai receber essas doações. As pessoas já perderam tudo e ainda vão receber um trapo rasgado, com cheiro ruim, às vezes com manchas duvidosas. Tem que ter bom senso de qual material estamos enviando."
'Resgatamos pessoas com colchão inflável'
Milla também participa dos resgates de moradores em Porto Alegre. "Toda a zona costeira e algumas partes internas da cidade estão debaixo d'água. O problema não é só a água dos rios invadindo a cidade, mas a parte subterrânea estar cheia. Então tá subindo água pelos bueiros", conta. Isso é um risco para surtos de doenças, como a leptospirose —cenário, inclusive, já alertado pela SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
A gente sente que não está recebendo ajuda efetiva do Estado. Boa parte dos resgates é feita por civis. Somos nós por nós. Milla Dellamora
A maioria dos resgates acontece de forma improvisada, pois não há barcos suficientes para todos nem roupas especiais, segundo a voluntária. "Resgatamos pessoas com colchão inflável. Tudo o que boia colocamos na água."
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