Voluntária no RS: 'A gente já está perdendo um pouco da esperança'
A volta das chuvas, o frio e a falta de perspectiva de voltar para casa de forma definitiva vêm minando a esperança das pessoas que buscaram abrigo após as enchentes que no Rio Grande do Sul, contou a voluntária Adrissa Bender, moradora de São Leopoldo ao UOL News de hoje (16).
A gente já tá perdendo um pouco da esperança assim [de melhora]. Vejo pelo pessoal que tá aqui que eles foram perdendo o brilho. No começo eles pensavam que na outra semana iam voltar para suas casas, mas não é o que está acontecendo.
Abrimos as portas do abrigo sem nada. Fomos conseguindo doação cada um com o que pode. A gente não tem água também, temos luz, mas não temos água. Mais de 15 dias sem água. A gente vai se virando como a gente pode, mas está muito complicada nossa situação aqui, voltou a chover de novo. Está muito frio.
Os moradores não só se espantaram com a velocidade da chuva no início da tragédia, mas também com a impossibilidade de permanecer em casa após o breve período em que o sol voltou a aparecer.
A gente teve dois dias lindos de sol, agora voltou a chover hoje de novo, amanhã é para chover mais forte do que foi hoje. Teve pessoas que já estavam voltando para suas casas, começaram a limpar, e nesse meio da limpeza tiveram que voltar para os abrigos de novo porque novamente água na casa deles.
Vi gente que saiu sem nada de casa. Teve gente que conseguiu juntar os animais só e ir saindo, porque não tinha o que fazerem. Não deu tempo deles saírem antes. Era um lugar que a gente nunca imaginou que ia entrar água. Moro aqui há 38 anos, na minha casa não entrou, mas tem bairros do lado de onde eu moro que eu nunca imaginei que ia vir água. Tenho vários amigos, parentes meus inclusive que perderam tudo. Adrissa Bender, professora e voluntária em São Leopoldo (RS)
Deputado: Corremos risco de ver criação de campo de refugiados climáticos
Também no UOL News, o deputado estadual Matheus Gomes (PSOL-RS) afirmou que as cidades provisórias propostas para abrigar as vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul correm o risco de se transformarem em um campo de refugiados climáticos.
O governo gaúcho planeja contratar uma empresa para construção destas cidades temporárias em Porto Alegre, Canoas, Guaíba e São Leopoldo. Objetivo é abrigar 77 mil desabrigados. Já são 151 mortos pela tragédia e mais de 800 feridos em todo estado.
Penso que as cidades provisórias estão surgindo como alternativa de forma desorganizada e isso me preocupa muito. Porque o Estado já não tinha planejamento para lidar com uma evacuação de centenas de milhares de pessoas, e agora [estão] improvisando de forma destrambelhada.
O presidente Lula apresentou uma série de políticas para lidar com o problema da moradia a curto, médio e longo prazo. Então é mais viável a gente trabalhar a partir dessa perspectiva do que correr um risco de criar um grave problema social.
A gente corre sim um grande risco aqui de ter um novo problema social na cidade de Porto Alegre: que é a criação de um campo de refugiados climáticos. O que não nos parece adequado diante de da possibilidade de dar uma moradia digna, mesmo que temporária, às pessoas que estão nessa situação. Matheus Gomes, deputado estadual (PSOL-RS)
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