Dona de clínica sobre morte após peeling de fenol: 'Acabou com minha vida'
A influenciadora Natalia Fabiana de Freitas, que se identifica nas redes sociais como Natalia Becker, disse que a morte do seu cliente após passar por um procedimento estético feito por ela "acabou" com sua vida.
O que aconteceu
Natalia prestou depoimento nesta quarta-feira (5) e se manifestou à imprensa pela primeira vez. Ela começou falando que não estava foragida e que os últimos dias têm sido "muitos difíceis" para ela. Apesar de ter desaparecido após a morte, Natalia era considerada pela polícia como "procurada" para apresentar sua versão à Polícia Civil.
"Jamais quis prejudicar alguém", disse dona da clínica. A influenciadora também afirmou estar "muito triste" pela morte do cliente, o empresário Henrique Silva Chagas, de 27 anos.
Sinto muito pela família dele [Henrique] também. Está muito difícil, muito difícil. Acabou com a minha vida isso também e jamais tive intenção de prejudicá-lo.
Natalia Becker
A mulher foi indiciada por homicídio com dolo eventual. Segundo o delegado Eduardo Luis Ferreira, o homicídio com dolo eventual significa que, apesar de não querer a morte do cliente, Natalia assumiu, "por conta dos fatos e das circunstâncias que permearam os acontecimentos", esse resultado.
Para o responsável pela investigação, o peeling de fenol é um procedimento invasivo. Portanto, não poderia ser realizado por profissionais que não sejam médicos dermatologistas e deve ser feito em centro cirúrgico. "Mesmo porque na possibilidade de intercorrências, como de fato aconteceu e culminou na morte do Henrique, se fosse feito em centro cirúrgico por um médico, isso [o óbito] teria sido evitado."
Apesar do indiciamento, ela não foi presa. O delegado explicou que não pedirá a prisão de Natalia neste momento porque ela tem endereço fixo, se apresentou à polícia para depor e não tem antecedentes criminais, informou o SP2 (TV Globo). Apesar disso, os investigadores aguardam os laudos necroscópicos para ver se é possível relacionar diretamente o procedimento de peeling de fenol com a morte da vítima.
Nas redes sociais, ela se apresentava como esteticista. No entanto, a Anesco (Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos) informou que não há registro dela no banco de dados da instituição. "Nós não encontramos qualquer registro da mesma como profissional esteticista, nem mesmo como técnica em estética".
Associação diz que ela não pode ser considerada como esteticista. "Entramos em contato também com diversas instituições de ensino superior e de escolas técnicas de São Paulo. Todas as respostas que obtivemos foi uma negativa de inscrição ou de conclusão de curso superior por parte dessa profissional. Do ponto de vista prático, o que a gente conseguiu apurar nas nossas investigações, foi que ela não pode ser considerada esteticista nos termos do artigo 3º e 4º da lei 13.643 de 2018, devendo ser investigada pelo crime de exercício ilegal da profissão de esteticista", afirmou Frederico Carvalho, consultor jurídico na área de estética da Anesco.
Defesa diz que Natalia fez curso online
Natalia fez um curso online para poder aplicar o peeling de fenol. Segundo a advogada Tatiane Forte, o curso feito pela cliente era oferecido por uma farmacêutica. Ela não citou o nome da empresa. As aulas ocorriam em uma plataforma virtual. A declaração foi feita durante coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira (5).
A advogada explicou que o curso seria oferecido por uma farmacêutica. As aulas ocorriam em uma plataforma virtual. "É um curso livre, qualquer pessoa pode fazer, inclusive a farmacêutica que deu o curso traz no próprio curso, na apostila, as quantidades, como pode ser usado e como tem que ser usado [o fenol]. É um procedimento simples", disse.
Tatiane Forte declarou que a defesa acredita que o fenol não causou a morte do jovem. "Nós temos que aguardar o laudo para saber se o paciente tinha algum outro tipo de problema. É uma substância, embora vocês estejam falando 'ah, mas é tem que ser feito em centro médico', é bem superficial. Esse produto pode ser comprado na Shopee, Mercado Livre, na internet, de forma geral."
Sem apresentar provas, ela afirmou que o tipo de fenol utilizado é "mais leve". "A diferença é a concentração da medicação", argumentou.
Natalia oferecia esse tipo de procedimento desde dezembro de 2023, segundo a advogada. A dona da clínica atendia em média de dois a três clientes por semana para realizar o peeling de fenol.
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Quero receberO valor que Henrique Chagas pagou pelo procedimento foi R$ 4.500. Tatiane Forte argumentou ainda que não há legislação que proíba a profissional de realizar o procedimento. "Falaram que não pode, mas nenhuns deles [órgãos médicos] fundamentaram a declaração".
Vítima sofreu parada cardiorrespiratória
O empresário de 27 anos morreu na tarde de segunda-feira (3) após fazer o peeling de fenol. A clínica fica localizada na rua Doutor Jesuíno Maciel, no Campo Belo.
Henrique Silva Chagas teve parada cardiorrespiratória durante o procedimento. Na intervenção feita pelo rapaz, considerada invasiva e conhecida por estimular o rejuvenescimento da pele, o fenol penetra na epiderme (a camada mais superficial da pele), o que causa sua necrose e induz reação inflamatória controlada não só na epiderme como também na derme (camada localizada abaixo da epiderme).
Vítima veio do interior de São Paulo para fazer o procedimento estético na clínica. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado, mas constatou o óbito do jovem ainda no local.
Clínica é liderada por Natalia Becker. No Instagram, a conta de Natalia tinha mais de 233 mil seguidores. A mulher informava que é "criadora" de um protocolo de tratamento estético e "premiada especialista em melasma". Ela tem uma unidade da clínica em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. O perfil de Natalia na plataforma saiu do ar após a morte.
Clínica foi fechada e autuada pela Vigilância Sanitária municipal após o óbito. Autuação ocorreu porque estabelecimento "exercia procedimentos em desacordo com a legislação vigente", segundo a SMS (Secretaria Municipal da Saúde). A clínica tinha licença da SMS apenas para funcionar e realizar "atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza".
A Polícia Civil instaurou inquérito no 27ºDP para investigar o crime de homicídio. Foram solicitados exames necroscópico e toxicológico, cujos resultados são aguardados.
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