Empresário que atropelou mulher em SP com Porsche estava com CNH cassada
Um empresário investigado por atropelar e matar uma mulher em janeiro de 2023 com um Porsche estava com a carteira de motorista cassada.
O que aconteceu
A CNH de Fábio da Silva Oliveira estava cassada no dia do atropelamento que vitimou a auxiliar de limpeza Simone Ferreira dos Santos. A informação foi cedida pelo Detran de São Paulo após determinação judicial requerida pela defesa da família de Simone.
Carteira suspensa por dois anos. O documento encaminhado pelo Detran mostra que Fábio teve a habilitação cassada em 21 de dezembro de 2022. Ele só poderia voltar a dirigir no fim de 2024. A informação havia sido constatada, inicialmente, por Ricardo Caires, que atua no processo como perito junto ao corpo de defesa da vítima.
Atropelamento aconteceu em 18 de janeiro de 2023. A mulher, funcionária de um hospital, foi atropelada enquanto seguia para o trabalho. Fábio, que atua com vendas de carros de luxo, conduzia um Porsche 911 Carrera por volta das 22h na Avenida Abel Ferreira, zona leste de São Paulo, quando atropelou a mulher.
Simone teve politraumatismo e perdeu um braço no choque. Imagens anexadas ao inquérito mostram o vidro do carro destruído e marcas de sangue pelo veículo. Ela chegou a ser encaminhada a um hospital, mas já chegou morta à unidade.
Segundo laudo pericial, o empresário atrapalhou o procedimento de apuração. Em documento obtido pelo UOL, o médico legista narra que Fábio não quis ser fotografado, retirar a roupa para fazer exame físico e também não permitiu a coleta de sangue para análise de dosagem alcoólica. O laudo aponta, ainda, que o homem afirmou que bebeu três latas médias de cerveja poucas horas antes do atropelamento.
Empresário teria se recusado a fazer o teste do bafômetro. Uma agente que atendeu a ocorrência no dia do atropelamento narrou em ofício que o homem se negou a passar pelo teste etílico e afirmou que "naquela tarde teria ingerido pequena quantidade de álcool e que temia que o teste desse positivo para embriaguez".
Fábio contou outra versão à polícia. Meses após o atropelamento, em abril de 2023, o empresário disse que não consumiu bebida alcoólica e que não passou pelo bafômetro por estar "em choque".
Ocorrência foi investigada na mesma delegacia em que o caso do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho foi registrado. Fernando virou réu após conduzir um Porsche em alta velocidade, colidir e causar a morte de um motorista de aplicativo no fim de março deste ano em uma avenida da zona leste de São Paulo.
Ministério Púbico não se deu por satisfeito pela investigação da polícia no caso da auxiliar de limpeza. Após questionamentos do MP, o inquérito voltou para a autoridade policial algumas vezes. O órgão solicitou, em diferentes momentos, a identificação de uma testemunha - que teria fotografado o veículo de Fábio após o acidente, câmeras de segurança da via, laudo do Instituto de Criminalística e informações sobre a CNH do empresário.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) diz que a investigação já cumpriu com o que foi pedido. "O caso foi investigado pelo 30º Distrito Policial (Tatuapé) e o inquérito policial foi relatado à Justiça em abril de 2023. Posteriormente, a ocorrência foi devolvida à unidade para cumprimento de cotas, as quais foram concluídas no mesmo mês, sendo então remetida novamente ao Poder Judiciário", pontuou.
Em última movimentação processual, a Justiça determinou a confecção de um laudo pericial complementar junto ao Instituto de Criminalística.
Outro lado
A defesa de Fábio Oliveira nega que o empresário estava embriagado e diz que Simone atravessava fora da faixa no momento do atropelamento — o que é contestado pela família da vítima. Ao UOL, a defesa ainda apontou que a auxiliar foi "negligente" por tentar cruzar uma via movimentada fora do local correto, e que o empresário não fugiu.
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Quero receberPor fim, a defesa de Fábio ainda disse que a família da vítima está "forçando uma situação". Na fala, o advogado indica um possível interesse financeiro.
Irmã pede justiça
Sandra Godoy disse ao UOL que entrou em depressão após o falecimento da irmã. Ela relatou que tinha medo de falar sobre o caso em razão do poder aquisitivo de Fábio, mas decidiu pedir justiça após ver a repercussão do caso do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, morto após o condutor de um Porsche colidir contra o automóvel dele em 31 de março, também na zona leste de São Paulo.
Irmã da vítima diz que Fábio nunca procurou a família para falar sobre o atropelamento. "É isso que mais mata a gente. Não é o dinheiro, não é nada. A gente é pobre, humilde, mas a dor que a gente está sofrendo é pela impunidade. Porque minha irmã não vai voltar, nem que ele pague o dinheiro que ele quiser para gente, não vai trazer minha irmã de volta. A gente não quer dinheiro, a gente não quer coisa, queremos justiça", completou.
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