Ele perdeu esposa após parto: 'A vida me deu dois minutos em família'
Uma complicação após o parto resultou na morte de Lilian Poloni Corrêa da Silva, esposa do professor Ugledson de Carvalho Faria da Silva, ambos de 37 anos.
Lilian sofreu uma hemorragia após a cesariana e morreu no dia seguinte ao nascimento dos filhos Luiza e Rafael, na cidade de Iturama (MG). O casal tentava engravidar havia mais de dez anos.
Ela disse que o nosso sonho havia sido realizado, tiramos uma foto e começaram as complicações. Infelizmente, a vida me deu apenas dois minutos em família.
Ugledson de Carvalho
O início da história de amor
Ugledson conheceu Lilian no trabalho: no mercado do pai dela. A paquera demorou um ano até eles darem o primeiro beijo, no dia 16 de janeiro de 2003, aos 16 anos. Após 8 anos de namoro, eles se casaram no dia 15 de janeiro de 2011 e permaneceram juntos por 13 anos, até a morte de Lilian.
No total, vivemos juntos por 21 anos, sempre com muito companheirismo, amor e dedicação um ao outro. Éramos um casal diferente, pois vivíamos em função um do outro e tínhamos um amor incrível.
'Choro e satisfação'
Lilian, que também era professora, tinha o sonho de ser mãe de gêmeos. As tentativas começaram em 2013. Após dois anos sem sucesso, o casal decidiu procurar um médico, mas nada foi descoberto. Em 2022, os exames foram retomados e o casal descobriu que as trompas de Lilian tinham uma distorção, dificultando tanto a gravidez natural quanto a inseminação.
"Foi um processo muito doloroso emocionalmente e financeiramente. Juntamos dinheiro por dois anos para fazer o tratamento, lembrando que poderia dar errado, como aconteceu na primeira tentativa. Mas a segunda tentativa foi muito eficaz: conseguimos gerar 12 embriões, o que era muito para a idade dela. Foram dias de luta e ela, como sempre, foi perfeita em todas as etapas."
Em 27 de maio de 2023, foram implantados dois embriões em Lilian. No final de junho, veio a grande notícia: Lilian estava grávida de gêmeos.
No momento em que fizemos o teste, houve muito choro, de satisfação pelo dever cumprido até aquele momento. Parecia que tínhamos tirado toneladas e toneladas das costas, pois sabíamos que tínhamos a chance real de sermos pais. Dali para frente, era o que Deus permitisse.
Quando Lilian fez um teste de sangue, a médica falou com quase 100% de certeza que era uma gravidez gemelar. "Ficamos muito orgulhosos, pois só eu e ela sabíamos dos nossos choros. Ninguém além de nós dois entendia o que tudo aquilo significava."
Ugledson conta que a gravidez de Lilian foi extremamente tranquila, tirando os vômitos no início da gestação e o inchaço dos pés. Ela se preveniu de várias formas, desde o pré-natal até a alimentação.
"Ela só recebia elogios da equipe médica e elogios meus também. Não comeu doces pensando no futuro das crianças."
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Quero receber'Começou a luta pela vida'
O parto de Lilian foi no dia 20 de janeiro. Segundo Ugledson, tudo ocorreu de forma tranquila e planejada.
No momento do nascimento, foi uma explosão de alegria, eu só ria, sabe? Lilian pegou os gêmeos nos braços por aproximadamente dois minutos e falou algumas coisas para mim. Uma frase que me marcou foi: 'Obrigada, nosso sonho foi realizado.' Ela estava sorrindo e chorando de alegria ao mesmo. A beijei e falei que logo eu a encontraria no quarto.
O professor lembra que, após o parto, Lilian foi para a sala de observação. Pouco tempo depois, os médicos comunicaram que a mulher havia tido uma pequena hemorragia, contida com sucesso, mas, caso ela voltasse a ter o problema, seria necessário retirar o útero.
A equipe temia que Lilian pudesse ter uma atonia uterina —condição que envolve a incapacidade do útero de se contrair adequadamente após o parto. Essa condição, se não controlada adequadamente, pode levar a um quadro de hemorragia pós-parto.
"Poucas horas depois, por volta de 14h, o médico me liga dizendo que precisaria retirar o útero de Lilian urgentemente, pois havia um risco de morte. Foi assim que começou a luta dela pela vida, e minha angústia e dor", diz ele.
Só Deus sabe o que passei naquele hospital nas primeiras horas após o parto dela. Às 16 horas, o médico chega correndo no meu quarto dizendo que o caso dela era gravíssimo e que, com mais de 23 anos de profissão, nunca tinha visto aquilo. Nesse momento, eu tinha certeza que a Lilian estava indo embora.
'Meu coração doía'
Lilian morreu no dia seguinte após dar à luz, às 6h30. Segundo o marido, diversas situações levaram à morte: além da atonia uterina, os médicos também encontraram uma fístula arteriovenosa, condição rara que provocou uma hemorragia interna.
Mesmo após receber por 16 horas uma transfusão de sangue, a professora não reagiu.
"Eu senti que ela foi embora por volta das 6 e pouco da manhã. Meu corpo tremeu e meu coração retorcia e doía demais, parecia que estava sendo arrancado. Meus braços também retorciam e os bebês começaram a chorar. Nesse momento, eu senti que ela estava se despedindo da gente", diz ele.
"Por volta de 6h45, o médico chega ao quarto acompanhado de uma enfermeira, passa pelos pais dela e para na minha frente. Eu apenas olhei para ele e disse: 'Doutor, ela foi embora?' Ele responde apenas mexendo a cabeça confirmando a partida dela", conta Ugledson.
Comecei a gritar, a pedir para Deus me levar também, a questionar Deus por que ela não merecia uma chance. Pedi desculpas aos pais da Lilian, por eu entregar ela a eles em um caixão. Sinceramente, eu não existia naquele momento, para mim tudo acabou, eu não via sentido nenhum em viver e se Deus me levasse naquele momento eu estaria com dever cumprido nessa Terra.
'Meus filhos me salvaram'
Ugledson conta que os quatro primeiros meses sem a esposa foram extremamente difíceis. Ele lembra que gritava à noite ao deitar na cama e sentia a esposa o abraçando. Em determinados momentos, até escutou Lilian dar conselhos e pedir que o marido aguentasse as pontas e seguisse a vida como planejaram.
Tive noites de acordar com o travesseiro molhado de tanto chorar. Foram quatro meses em que achei que ia morrer, cheguei a pensar em fazer besteiras com minha vida, mas Deus e meus filhos me seguraram, me salvaram. Hoje, seis meses depois, choro muito por ela não estar aproveitando a vida que ela planejou com os filhos. Eu me sinto melhor, mas não curado. Acredito que isso não tenha cura, mas o tempo ameniza a dor. Conheci pessoas nas redes sociais que têm vidas mais difíceis que a minha, conheci pessoas que me estenderam a mão para me ajudar no meu processo. Assim vou seguindo.
Hoje, o professor usa as redes sociais para compartilhar sua rotina com os gêmeos. Luiza e Rafael vão para a escola em tempo integral, enquanto Ugledson trabalha. "Foi uma escolha minha, eu precisava ser pai presente e assumir o que eu sonhei também, e estou vencendo, tenho certeza que ela me ajuda ainda, em outro plano."
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