Desenho de TV pública é acusado de LGBTfobia e risco à liberdade de crença

Um desenho cristão que estreou na programação da Rede Minas na segunda-feira (22) tem sido alvo de denúncias em Minas Gerais.

O que aconteceu

Desenho foi criado por pastora. A animação infantil "Danizinha Protetora" foi criada pela vice-presidente da Igreja Batista Getsêmani Daniela Linhares.

Animação entrou na grade de TV pública. O desenho entrou na grade da Rede Minas, de segunda à sexta, às 8h. A rede de televisão é pública e pertence à EMC (Empresa Mineira de Comunicação), órgão do governo estadual.

Desenho é sobre garota que quer proteger crianças de ameaças. A emissora descreveu a atração como a história de uma garotinha e sua turma, que têm como propósito "proteger as crianças contra as ameaças que podem tirá-las da sua infância".

Defensora de valores cristãos. A protagonista é defensora dos valores cristãos e ensina a importância da confiança em Deus.

Contra "ideologia de gênero". Há publicações contra "ideologia de gênero" para "proteger crianças das artimanhas do maligno" na página do desenho no Instagram.

A pastora Daniela Linhares é a criadora do desenho "Danizinha Protetora"
A pastora Daniela Linhares é a criadora do desenho "Danizinha Protetora" Imagem: Reprodução/Instagram

Denúncias pedem que animação saia do ar

Deputada do PT pediu retirada do desenho do ar. A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) pediu a retirada do desenho do ar ao MPMG (Ministério Público do Estado de Minas Gerais) e à Secom (Secretaria de Estado de Comunicação Social). Segundo a denúncia, a animação propaga discriminação de gêneros, "adotando tão somente o critério biológico, em detrimento a todos indivíduos que se identifiquem de forma diversa, associando todos estes ao 'maligno', em notório discurso de intolerância."

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Beatriz Cerqueira (PT) diz que governo de Romeu Zema (Novo) deve ser investigado. Cerqueira afirmou que o governo estadual de Zema deve ser investigado por mau uso da máquina pública. "A Rede Minas e a Empresa Mineira de Comunicação são veículos estatais e não podem ser utilizados num viés além de partidário ideológico. Dentro desse jogo de poder que o Zema está fazendo com vistas à disputa de 2026, a Rede Minas coloca uma programação que fomenta o discurso de ódio e a invisibilidade de grupos sociais, de pessoas que existem", afirmou a deputada.

Governo de Zema transferiu a EMC da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Comunicação. Durante a reforma administrativa no estado, sancionada em maio de 2023, o governo de Zema transferiu a EMC da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Comunicação, criada naquele momento. "Fomos contrários porque avaliamos que os interesses de uma Secretaria de Comunicação ficaria vinculado à agenda política do governador, o que é diferente dos interesses de uma comunicação pública e estatal", disse a deputada.

Conedh (Conselho Estadual de Defesa de Direitos Humanos) também pediu investigação. O conselho argumenta que a animação possui elementos que podem gerar risco à liberdade de crença. O Conedh pede que o Ministério Público investigue se há preservação da laicidade do Estado e do interesse público em detrimento do privado.

Direitos autorais é da rede pública, mas produção seria privada. Daniela Linhares teria cedido os direitos autorais da animação "Danizinha Protetora" à Rede Minas, e a produção seria um investimento da iniciativa privada.

Rede Minas afirma que parcerias são seladas por meio de Termo de Cessão Não-Onerosa. Em nota, a emissora afirma que a grade de sua programação adota diretrizes de interesse do cidadão e que novos programas ou parcerias sem ônus são avaliados por curadoria com representantes da sociedade civil, da empresa e do governo.

O UOL também entrou em cintato com a Igreja Getsêmani, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

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