'Beijo é mais gostoso', diz professora que aderiu à 'língua de cobra'

Andressa Urach, 36, causou polêmica ao realizar um procedimento de bifurcação da língua, conhecido como "língua de cobra", com o intuito de aumentar o prazer sexual e potencializar seus conteúdos em plataformas adultas.

Para entender melhor essa tendência, o UOL conversou com duas mulheres que também passaram pelo procedimento: Camila Brazolim Pavão, 33, professora de história e tatuadora em São Paulo, e Lavínia Mesquita, 26, tatuadora de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro. Ambas dizem que a mudança realmente pode contribuir para um incremento do prazer sexual, mas que essa não teria sido a motivação por trás da modificação.

Camila conta que a ideia de tornar a língua bifurcada nasceu de seu fascínio pela arte corporal. "Eu cresci acompanhando muitas referências do mundo da tatuagem e via mulheres com a língua bifurcada. Sempre achei muito bonito e quis trazer essa estética e individualidade para minha vida", diz.

Sobre a recuperação do procedimento, realizado há pouco mais de uma semana, Camila destaca a importância do planejamento. "Eu me preparei desde o começo do ano para coincidir com o recesso escolar, assim poderia descansar e me recuperar tranquilamente. Acompanhei o trabalho do profissional que fez o procedimento, e segui todas as recomendações para uma recuperação adequada."

Embora a principal motivação da professora tenha sido estética, ela ainda está avaliando os impactos na sensibilidade sexual. Ela conta que já se relacionou com uma pessoa que tinha bifurcação e diz que considerava interessante, algo diferente. "Aquilo me intrigava. O beijo ficava mais gostoso", garante.

Ainda não pude testar plenamente a questão do sexo oral, mas já notei uma maior sensibilidade em outros aspectos. Notei também durante os flertes que a língua bifurcada chama a atenção. Porém, para mim, a bifurcação foi mais uma expressão da minha individualidade e empoderamento. Camila Brazolim Pavão

Funcionalidade sexual como bônus

Lavínia conta que a decisão de bifurcar a língua foi motivada por um desejo estético de longa data. "Foi uma escolha estética, um sonho meu há anos. Preparei meu psicológico para lidar com o pós-operatório e finalmente tomei coragem."

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A recuperação, segundo a tatuadora de Rio das Ostras, foi desafiadora. "Durante o auge da dor e inchaço, é normal questionar a decisão, mas o sofrimento é temporário e a glória é eterna", diz.

Ela também ressalta que, embora a funcionalidade sexual possa ser um bônus, a modificação corporal não deve ser sexualizada. "Meu marido aprecia a mudança estética tanto quanto eu, e considera a sensação diferente como um bônus."

Lavínia não se arrepende de sua decisão, mas recomenda a preparação para o pós-operatório e para a opinião alheia. "Foi algo muito idealizado e bem pensado. Meu conselho para quem deseja fazer a bifurcação é se preparar bem para o pós-operatório e estar seguro da decisão. E, claro, blindar-se contra opiniões de quem não entende a modificação", diz.

Procedimento cultural

O modificador corporal e professional piercer Daniel Rodrigo confirma que as motivações para realizar a bifurcação da língua são variadas e pessoais. Ele foi o responsável pela bifurcação da língua de Andressa, Camila, Lavínia e outras 1.079 pessoas ao longo de 15 anos realizando o procedimento.

Cada pessoa busca o que acha melhor e o que vai tirar de melhor da escolha. A bifurcação de língua nunca teve a intenção original de aumentar o prazer sexual; é um procedimento cultural com significados diferentes em várias tribos modernas. Cada um busca seu próprio propósito na modificação corporal. Daniel Rodrigo

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Sobre as mudanças na experiência sexual após a bifurcação, Daniel destaca que a língua já é um órgão sexualizado, e a modificação pode, sim, alterar a sensibilidade. "No ato sexual, pode ser diferente", diz.

Ele não revelou o preço que cobra pelo procedimento, mas explicou que o valor varia de profissional para profissional e não é barato, pois exige "muito estudo e dedicação" para obter o melhor resultado. O candidato deve ser maior de idade e estar com a saúde mental e física preparada para a modificação corporal. Além disso, é essencial seguir os pré-requisitos de alimentação e repouso para uma boa recuperação.

Sobre os profissionais qualificados para realizar a bifurcação, Daniel explica que são chamados de modificadores corporais, com técnicas adaptadas das práticas milenares para os dias atuais.

E caso alguém se arrependa do procedimento, o profissional diz que é reversível.

O procedimento é reversível e totalmente seguro, e a reversão já foi realizada em algumas pessoas, mas em uma quantidade bem pequena. Quem ama a modificação não pensa em reverter jamais. Daniel Rodrigo

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