'Cracolândia' tem trabalho infantil e condição análoga à escravidão, diz MP
O comércio ilegal a serviço do PCC no fluxo da "cracolândia" no centro de São Paulo, revelado nesta terça-feira (6) em uma megaoperação com cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão, tem denúncias de condição análoga à escravidão, trabalho infantil e hotéis com exploração de prostituição, segundo o Ministério Público.
O que aconteceu
Promotor cita violação de Direitos Humanos. Em entrevista coletiva, Lincoln Gakiya citou casos identificados de trabalho análogo à escravidão, trabalho infantil, prostituição e exploração dos próprios usuários de drogas na "cracolândia" em meio a uma investigação iniciada há mais de um ano.
Constatamos a existência de trabalho análogo à escravidão e trabalho infantil. Onde há crime organizado, há violação de direitos humanos. A região central de São Paulo se transformou em um ecossistema de atividades criminosas de ações controladas pelo PCC, que também incluem o comércio de armas, o tráfico de drogas e hotéis com exploração de prostituição.
Lincoln Gakiya, promotor de Justiça de SP
O grande foco foi resgatar a vida daquelas pessoas em situação de vulnerabilidade, enquanto temos um ecossistema que abastecia toda aquela situação de ilegalidade e violação de Direitos Humanos. E recuperar o espaço público usado em ações ilegais.
Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, procurador-geral de Justiça de SP
Fluxo da "cracolândia" também tem receptação de celulares furtados, diz o MP. Ação investiga ainda o crime de lavagem de dinheiro em comércios usados a serviço da facção criminosa paulista.
Durante a coletiva, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), expressou desejo de que a megaoperação ajude a reduzir índice de roubos e furtos na região. Tarcisio afirmou que a "cracolândia" é a ponta do iceberg de atividades criminosas, como receptação e lavagem de dinheiro.
São empresas fechadas que atuavam na receptação, lavagem de dinheiro e abastecimento [de drogas] para pessoas que estão no fluxo.
Tarcísio de Freitas, governador do estado de São Paulo
Próximos passos serão ligados à reordenação urbana e à destinação de imóveis alvo da megaoperação, destacou o governador. "Foi uma forma diferente de abordar o tráfico procurando identificar canais logísticos e rede de apoio", informou o governador, que garantiu a investigação de servidores públicos envolvidos com o PCC e a eventual punição desses agentes.
A favela do Moinho tem sido usada como um bunker do crime organizado, onde a droga é chegada e distribuída.
Tarcísio de Freitas, governador de SP
Prefeito de SP rebate denúncia sobre milícia
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, rebate denúncia de existência de uma milícia armada aliada ao PCC na região. O grupo paramilitar foi identificado na investigação, que resultou na prisão de dois guardas civis metropolitanos e identificação de outros dois ex-agentes foragidos. Eles são suspeitos de prestar serviço de segurança armada ilegal a comerciantes, prática cometida por milicianos.
Desconheço a existência de milícia no centro de São Paulo. Temos guardas que dedicam as suas vidas para defender o cidadão. Há o caso de dois GCMs que já foram expulsos. Faço questão de defender a corporação.
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo
Após ação, foram abertas comunidades terapêuticas para atender usuários de drogas. Conforme o governador, há uma estrutura montada para os primeiros atendimentos, em ações que envolvem o governo estadual e a Prefeitura de São Paulo.
O que se sabe sobre o caso
Megaoperação ataca atuação de milícia aliada do PCC criada por GCM na "cracolândia" no centro de SP. A Justiça mandou prender preventivamente quatro agentes por suspeita de extorsão contra comerciantes em troca de proteção. Eles também são suspeitos de vender armas para membros da facção criminosa paulista.
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Quero receberGCM aposentado é acusado de chefiar o grupo paramilitar. Alvo de uma operação em março de 2023, Rubens Alexandre Bezerra tinha em seu celular mensagens contendo uma lista de pedidos de armas, segundo o MP. A investigação indica ainda que ele negociava dispositivos com traficantes para que eles pudessem interceptar a frequência do rádio da PM e se antecipar às ações policiais.
A investigação indica ainda que o armamento era repassado para grupos criminosos. Rubens atuou como GCM entre 2003 e 2019. O UOL não localizou a defesa dele.
Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificaram movimentações atípicas na conta de outro agente da GCM suspeito de integrar o esquema. A Prefeitura de São Paulo informa que o processo de exclusão do GCM Elisson de Assis está concluído. A reportagem não encontrou os representantes legais do suspeito.
Investigação mira crimes como receptação de celulares roubados, envolvendo ferros-velhos e redes de hotéis. Os envolvidos são suspeitos de explorar mão de obra de usuários de drogas em troca de drogas.
Foram cumpridos mais de 200 mandados de prisão, busca e apreensão, sequestro e bloqueio de bens e suspensão da atividade econômica. A operação contou com a participação de mais de 1,2 mil agentes, envolvendo PMs, policiais civis, agentes da PRF e equipes da Receita Federal.
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