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Josmar Jozino

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Reportagem

Guardas-civis criam milícia na 'cracolândia' e se aliam ao PCC, diz MP-SP

A Justiça mandou prender preventivamente quatro guardas-civis-metropolitanos acusados de atuarem como milícia na "cracolândia" para extorquirem dinheiro de comerciantes do centro de São Paulo em troca de proteção. Além disso, os agentes vendiam armas para criminosos do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Leonardo Monteiro Moja (o Léo do Moinho, tido como integrante do PCC) já foi preso na operação. Além dele, Janaína da Conceição Cerqueira (apontada como parceira dele) e o cinegrafista amador Valdecy Messias de Souza também foram presos preventivamente. Além deles, uma outra pessoa foi presa em flagrante e outros dois apreendidos para averiguação.

Além dos mandados de prisões, a Justiça expediu mais de 200 mandados de buscas e apreensões em endereços ligados a guardas-civis; hospedarias; comércios de ferro-velho e reciclagem; empresas envolvidas em receptação de telefones celulares furtados e roubados - todos da região da "cracolândia" - e de alvos da comunidade do Moinho investigados por tráfico de drogas.

A operação Salus et Dignitas (saúde e dignidade em latim) para desarticular todo o esquema, foi deflagrada na manhã de hoje e mobilizou ao menos 1200 policiais militares, civis, policiais rodoviários federais e equipes das Receitas Federal e Estadual.

Segundo as investigações, os GCMs Elisson de Assis, Antônio Carlos Amorim Oliveira e Renata Oliva de Freitas Scorsafava vendiam serviços de segurança para comerciantes da região da "cracolândia" para protegê-los de ações de crimes patrimoniais praticados por dependentes químicos.

Já o GCM aposentado Rubens Alexandre Bezerra - diz, o MP-SP -, era o chefe da milícia instalada na região central, integrada também por outros colegas de farda. As investigações apuraram que ele abastecia ladrões e traficantes de drogas com armas - especialmente fuzis e pistolas - e munição.

Mais de 50 locais já foram patrulhados e foram apreendidos 65 aparelhos celulares, cinco computadores, HDs e UBS, e 40 veículos foram removidos.

Lavagem de dinheiro

Um procedimento investigativo instaurado pelo MP-SP analisou relatórios de inteligência produzidos pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e apontou diversas operações bancárias atípicas envolvendo os guardas-civis metropolitanos.

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Os relatórios mostram que Elisson, integrante de um grupo de elite da GCM, montou empresas de segurança com a mulher dele. Ela era beneficiada com o Auxílio Brasil, mas recebeu na conta do pai R$ 603.303,81 em 21 de julho de 2023, valores estes incompatíveis com o perfil de beneficiária.

Elisson recebeu 18 transações via Pix no valor total de R$ 22.194,50 de uma mulher ligada a outro GCM, cuja conta bancária registrou a movimentação de R$ 106.166,12 em 53 transações via Pix realizadas por ela. Esse casal declarou os mesmos endereços comerciais, comprovando que havia um vínculo.

O MP-SP apurou ainda que Elisson manteve relações financeiras com o Antônio Carlos Amorim de Oliveira, que também integra a GCM. Ele atuava na região da rua 25 de Março e, ainda segundo o MP-SP, cobrava "taxa de proteção" de comerciantes da área central da cidade.

Antônio Carlos é acusado de integrar um grupo de guardas-civis que vinha atuando como milícia para extorquir dinheiro dos comerciantes. No período compreendido entre 30/10/2020 e 30/04/2021, ele recebeu o total de créditos de R$ 103.019,00 e enviou o total de débitos de R$ 106.266,21.

Entre 08/06/2021 e 09/12/2021 recebeu créditos de R$ 3.269.782,48 e enviou o total de débitos de R$ 3.461.436,00. Nesse último período, foram creditados R$ 702.870,00 na conta por meio de 181 depósitos em espécie, sendo a maioria de empresas de estados distantes de São Paulo, "em clara atividade de lavagem de capitais", afirma o MP-SP.

Ele também remeteu para si próprio, em contas de outras instituições, a quantia de R$ 875 mil. Além disso, no período compreendido entre 24/07/2020 e 19/07/2021, recebeu e remeteu algumas transações de outros guardas-civis metropolitanos de São Paulo.

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Os fatos se repetiram em dezembro de 2021 e maio de 2022, "sugerindo que Antônio Carlos atuava no comando da milícia e que os GCMs repassavam a ele o dinheiro em espécie dos comerciantes e depois recebiam os pagamentos de volta pela 'proteção' dada aos comerciantes", diz o MP. Foram feitos também depósitos para policiais militares e civis envolvidos no esquema. Todos estão sob investigação.

Chefe da milícia

O MP-SP chegou aos nomes dos guardas-civis metropolitanos após a apreensão do telefone celular do GCM aposentado Rubens Alexandre Bezerra durante a operação Corta Giro, deflagrada no centro de São Paulo em março do ano passado.

Promotores de Justiça apuraram que Rubens era o chefe da milícia instalada na região central, formada por GCMs, e que no aparelho dele havia vários contatos com Edno Sousa da Silva, condenado em abril de 2024 a nove anos e dois meses por tráfico de drogas e posse de armas.

Edno havia sido preso em janeiro deste ano, em um galpão em Guarulhos, na Grande São Paulo, após denúncia anônima. No local, funcionava um desmanche. Policiais encontraram sete armas, várias peças de motos furtadas e roubadas e 400g de maconha.

No telefone celular de Rubens, havia mensagens enviadas por Edno, contendo listas de pedidos de armas, a maioria revólveres e fuzis. O MP-SP diz que Rubens também abastecia outros criminosos com armamento - especialmente fuzis e pistolas - e munição.

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O armamento era negociado com ladrões de carga, residências e motos. Rubens foi GCM em São Paulo entre 2003 e 2019. Em um dos endereços dele, a polícia havia apreendido 47 módulos de motos sem origem lícita comprovada, armas e caixas de munição durante a operação Corta Giro.

Comando do tráfico na 'cracolândia'

Além das armas - continua o MP-SP, Rubens também negociava dispositivos utilizados por traficantes de drogas na "cracolândia" e Favela do Moinho para obter a frequência das comunicações da Polícia Militar e se antecipar às ações policiais.

Equipamentos com sinais de frequência da PM foram vendidos para quadrilha na "cracolândia", diz MP
Equipamentos com sinais de frequência da PM foram vendidos para quadrilha na "cracolândia", diz MP Imagem: Ministério Público do Estado de São Paulo

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Segundo as investigações, Leo do Moinho e Janaina comandavam o tráfico de drogas na "cracolândia", no centro da cidade, e usavam a Favela do Moinho como quartel-general. Valdecy, por sua vez, também é acusado de ter vendido à quadrilha equipamentos com sinais de frequência da PM.

Os agentes descobriram que os traficantes usaram os equipamentos para montar uma rede de comunicação na Comunidade do Moinho, com o auxílio de antenas, para acompanhar diariamente as atividades policiais nos rádios transmissores.

Ainda segundo o MP-SP, Leo do Moinho também é dono de dois estacionamentos e vários hotéis e hospedarias na região central, abertos em nome de laranjas e criminosos como forma de lavagem de dinheiro. Os locais são usados para o tráfico e consumo de drogas e outras atividades ilícitas.

Já o comércio de ferros-velhos e reciclagens exploram os dependentes químicos. Os usuários praticam furtos e roubos na "cracolândia" e, em troca dos objetos subtraídos repassados aos receptadores, são pagos com pequenas quantidades de cachaça e droga. Os receptadores de telefones celulares agem do mesmo modo e pagam de R$ 200,00 a R$ 500,00 por cada aparelho ilícito.

Léo do Moinho tem extensa ficha criminal. Foi condenado a 23 anos e nove meses por homicídio e tráfico de drogas. Já cumpriu pena em vários presídios dominados pelo PCC. Em junho do ano passado, a Justiça de SP o colocou em liberdade condicional e ele deixou a Penitenciária 2 de Mirandópolis.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos GCMs nem de Leonardo Monteiro Moja, Janaina da Conceição Cerqueira Xavier, Valdecy Messias de Souza e Edno Sousa da Silva. O espaço continua aberto para manifestações. O texto será atualizado em caso de manifestação.

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Prefeitura se posiciona sobre Elisson de Assis

Em nota, a prefeitura informou que pediu a expulsão de Elisson de Assis do quadro da Guarda Civil Metropolitana ainda em 2023, mas o pedido foi negado pela Justiça.

"A Prefeitura de São Paulo informa que, seguindo uma determinação do prefeito Ricardo Nunes, solicitou, em junho de 2023, ao Ministério Público a prisão preventiva do guarda civil metropolitano Elisson de Assis. O pedido constou de notícia-crime protocolada ao GAECO. O processo foi arquivado pelo Ministério Público em janeiro deste ano, mas a Prefeitura continuou apurando as denúncias envolvendo o agente. O processo de expulsão de Elisson de Assis está concluído.

Antônio Carlos Amorim Oliveira e Renata Oliva de Freitas Scorsafava já foram afastados e o processo de expulsão está em andamento. Rubens Alexandre Bezerra foi expulso da corporação em 31/07/2019".

Tarcísio diz que vai 'devolver o centro às pessoas'

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) comentou a operação e disse que vai "devolver o centro às pessoas". "São mais de 200 mandados de prisão, busca e apreensão, sequestro e bloqueio de bens e suspensão da atividade econômica para combate ao tráfico de drogas e desmobilização de estruturas usadas pelo crime organizado", escreveu.

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Reportagem

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