'Seus traíras': as últimas palavras de comerciante morto a facadas em SP
Colaboração para o UOL
27/11/2024 05h30
Igor Peretto, comerciante morto a facadas pelo cunhado em Praia Grande, litoral de São Paulo, protagonizou uma discussão acalorada antes do crime. Testemunhas relataram à polícia gritos, xingamentos e desabafos intensos que ecoaram pela madrugada.
O que aconteceu
A tragédia que culminou na morte de Igor Peretto começou quando ele percebeu uma ligação suspeita enquanto estava no carro de Mario Vitorino, seu cunhado e sócio. A tela da central multimídia do veículo exibiu o nome de Rafaela Costa, esposa de Igor, registrada como "Rafaela Cunhada". Essa ligação acendeu um alerta imediato, já que Igor passou a desconfiar de um relacionamento entre sua esposa e Mario.
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Conforme os relatos do inquérito, Igor ficou extremamente exaltado e começou a exigir explicações de Mario sobre o motivo da ligação. Mario tentou justificar, mas Igor insistiu que algo estava errado e, cada vez mais irritado, tentou ligar para Rafaela, sem sucesso. Nesse momento, Mario teria enviado uma mensagem para Marcelly, sua esposa e irmã de Igor, com os dizeres "deu merda", indicando que a situação havia saído de controle. A mensagem foi interceptada por Igor, que obrigou Mario a acompanhá-lo ao apartamento da irmã.
Testemunhas que moram no condomínio relataram desespero e gritaria durante a briga entre os três. Uma das testemunhas protegidas afirmou ter acordado por volta das 5h45 com o som de uma discussão que vinha de um dos apartamentos vizinhos. Inicialmente, achou que fosse um pai conversando com o filho, mas percebeu que a voz exaltada era de um homem adulto. Era Igor, que dizia: "Do que adiantou eu fazer tudo? Eu me esforço tanto. Seus traíras, porra".
Ao longo da discussão, a testemunha notou que havia outra voz masculina, identificada depois como a de Mario, e uma feminina (Marcelly), que parecia tentar intervir em alguns momentos. "A mulher gritou 'Ai, não, para' e logo depois veio um barulho forte, como de alguém batendo a cabeça na parede. Depois disso, o homem mais exaltado (Igor) gritou: 'Piranha, piranha, piranha'", relatou um dos vizinhos.
Outra testemunha relatou ter ouvido Igor dizer que amava Rafaela durante o bate-boca. Ele teria dito: "Vocês sabem quanto eu amo aquela mulher. Quanto sou louco por ela. Porra, meu, porra. Vocês tudo contra mim, tudo armando contra mim. Eu era o único que não sabia de nada". Essas falas, segundo a testemunha, foram ditas em tom "desesperado".
Sons e movimentação
As testemunhas também descreveram sons que acompanhavam a discussão. Uma delas afirmou ter ouvido pancadas rápidas e abafadas, como de socos em algo macio, seguidas de um estrondo mais forte. "Parecia que algo ou alguém tinha sido jogado contra a parede", disse.
Outra testemunha mencionou que, após os sons de pancadas, a mulher gritou novamente. "Sai pra rua, corre, desce pelas escadas!" Logo após, foi possível ouvir gavetas sendo abertas e portas batendo, sugerindo uma tentativa de rápida movimentação.
Os moradores relataram que a discussão durou cerca de 15 minutos. Na manhã seguinte, comentários em grupos de WhatsApp do condomínio começaram a ligar os sons da madrugada ao assassinato de Igor Peretto. Uma testemunha mencionou que só soube da identidade das pessoas envolvidas após ver as notícias e associar as vozes ao trio: Igor, Mario Vitorino e Marcelly Peretto. Nenhuma das testemunhas mencionou ter ouvido pedidos de socorro vindos de Marcelly durante o ocorrido, ao contrário do que ela mesma narrou à polícia.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) denunciou o trio pelo homicídio qualificado de Igor. A denúncia aponta que o trio premeditou o crime, considerando Igor um "empecilho no triângulo amoroso" que mantinham. Os três permanecem presos preventivamente.