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Cidade em que prefeito não para no cargo vai ter eleição 1 ano após pleito

O Theatro Municipal de Paulínia (SP), cidade no interior paulista - Thiago Varella/UOL
O Theatro Municipal de Paulínia (SP), cidade no interior paulista Imagem: Thiago Varella/UOL

Thiago Varella

Colaboração para o UOL, em Paulínia (SP)

10/10/2020 04h00

Desde 2009, Paulínia, cidade a 130 km de São Paulo e que fica na região metropolitana de Campinas, não consegue ter um prefeito que complete os quatro anos no cargo. Já houve diversas trocas na cadeira do Executivo municipal, com direito a uma eleição suplementar em setembro do ano passado para que alguém ocupasse um mandato tampão de pouco mais de um ano.

Com tanta crise política, a cidade, que tem o maior PIB (Produto Interno Bruto) per capita do país, nem parece ser tão rica. Endividado, o município sofre problemas na saúde, tem um parque cinematográfico abandonado e muitas incertezas.

Em 15 de novembro, os eleitores da cidade voltarão às urnas com a esperança de que, desta vez, o mandatário consiga ficar quatro anos inteiros sem sair do poder. São seis candidatos: o atual prefeito, Du Cazellato (PL), a segunda colocada no pleito do ano passado, Nani Moura (MDB), Robert Paiva (Rede), Renato Cardoso (PDT), Edson do PT (PT) e Dr. Gustavo Yatecola (Patriota).

Paulínia é polo petrolífero

A cidade é de médio porte, com pouco mais de 100 mil habitantes, e uma alta arrecadação, puxada pelas empresas petroquímicas que se instalaram por lá, como Rhodia, Shell e, principalmente, Replan, a maior refinaria de petróleo do país, comandada pela Petrobras.

Segundo os dados mais recentes, de 2017, Paulínia tem o maior PIB per capita entre todos os municípios do país: R$ 345 mil por pessoa. Esse valor é a soma de todos os bens e serviços produzidos pela cidade e divididos em partes iguais para todos os seus habitantes.

"Além da alta arrecadação, Paulínia também é uma área estratégica, de segurança, por causa da Petrobras. É um lugar que atrai diversos interesses", afirma Victor Barletta Machado, cientista político e professor da PUC-Campinas.

Paulínia, no interior de São Paulo, é considerada a Hollywood brasileira - Thiago Varella/UOL - Thiago Varella/UOL
Paulínia, no interior de São Paulo, é considerada a Hollywood brasileira
Imagem: Thiago Varella/UOL

O que gera muita briga pelo poder. Desde o começo da década de 1980, três famílias se revezaram no comando da cidade, muitas vezes como rivais e outras se apoiando. Representantes desses três grupos políticos foram também cassados, levando Paulínia a uma situação de grande instabilidade política.

Uma prefeitura e 12 prefeitos

A crise começa em 2009, quando o então prefeito, José Pavan Junior, filho do ex-prefeito José Pavan —governante da cidade de 1983 até 1985—, foi cassado por compra de votos. Ele ficou fora do cargo por apenas dois dias e participou do pleito de 2012.

Essa eleição foi marcada por outra crise. O ex-prefeito Edson Moura teve a candidatura negada pela Lei da Ficha Limpa, já que havia sido condenado também por compra de votos. Um dia antes da eleição, Moura renunciou e foi substituído pelo próprio filho, Edson Moura Junior, que acabou eleito.

A pedido do Ministério Público Eleitoral, um juiz impugnou o registro do prefeito eleito, pois entendeu que houve uma manobra ilegal às vésperas da eleição para enganar o eleitor. A foto que apareceu na urna eletrônica, por exemplo, foi a de Edson Moura, e não do filho, já que não houve tempo hábil para a mudança. Assim, o segundo colocado no pleito, José Pavan Junior, acabou assumindo.

Pavan Junior ficou somente seis meses no cargo. Moura Junior recorreu da decisão judicial e acabou vencendo a batalha jurídica na última instância, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Desde então, a cidade viu 12 trocas na chefia do Executivo.

Em abril do ano seguinte, Moura Junior foi afastado por decisão judicial. O presidente da Câmara, Marquinhos Fiorella, assumiu a prefeitura. A mudança durou quatro dias. Moura Junior ainda deixaria e voltaria ao cargo de prefeito mais quatro vezes, até ser definitivamente cassado, em fevereiro de 2015.

Paulínia (SP) já teve várias trocas de prefeito - Thiago Varella/UOL - Thiago Varella/UOL
Paulínia (SP) já teve várias trocas de prefeito
Imagem: Thiago Varella/UOL

No ano seguinte, Dixon Carvalho, filho do ex-prefeito Benedito Dias de Carvalho, foi eleito com pouco mais de 34% dos votos. Mas acabou sendo cassado em 2018, assim como seu vice, Sandro Caprino, depois que as prestações de contas das campanhas foram reprovadas pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

No ano passado, Du Cazellato foi eleito prefeito em um mandato que dura até o fim deste ano.

Quem está na disputa

Na eleição do próximo dia 15 de novembro, Cazellatop vai tentar a reeleição. Para o professor Vitor Barlettap, o fato de ter vencido uma eleição há tão pouco tempo pode ser favorável ao atual mandatário.p

"A impressão é que, na última eleição, as pessoas queriam resolver logo o problema político da cidade. As esperanças estavam bem pequenas. Agora, a população não teve tempo de esfriar e já vai ter uma nova alteração. Talvez isso acabe favorecendo quem já está no poder, para continuar por um pouco mais de tempo", disse.

Cazellato terá como uma das rivais Nani Moura, segunda colocada no pleito do ano passado e atual mulher do ex-prefeito Edson Moura pai.

Há outros quatro candidatos. Robert Paiva (Rede) já tentou ser vereador. Neste ano, tenta o Executivo municipal após liderar um movimento anticorrupção na cidade. Edson do PT entrou em sua primeira aventura política. Renato Cardoso (PDT) é empresário e participou do governo de Dixon Carvalho. Já o médico Gustavo Yatecola foi vereador e agora tenta ser prefeito.