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Prefeitos ou ex-prefeitos disputam 2º turno em 36 cidades do país

Marcelo Crivella e Eduardo Paes, conhecidos do eleitor, disputam a Prefeitura do Rio de Janeiro - Reprodução de vídeo
Marcelo Crivella e Eduardo Paes, conhecidos do eleitor, disputam a Prefeitura do Rio de Janeiro Imagem: Reprodução de vídeo

Fernando Cymbaluk

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/11/2020 04h00

Prefeitos e ex-prefeitos estão na disputa do segundo turno das eleições em 36 municípios de todo o país. No total, 57 cidades terão a segunda rodada de votação.

Em oito municípios, o embate ocorre diretamente entre prefeito e ex-prefeito. É o caso de uma capital, Rio de Janeiro, onde Marcelo Crivella (Republicanos) disputa com seu antecessor no cargo, Eduardo Paes (DEM). O cenário se repete em Anápolis (GO), Blumenau (SC), Canoas (RS), Guarulhos (SP), Petrópolis (RJ), Santarém (PA) e Vitória da Conquista (BA).

São 26 atuais prefeitos buscando permanecer no cargo e 19 ex-prefeitos apostando em uma nova chance. Nas disputas também aparecem 12 vereadores, 11 deputados estaduais, 11 deputados federais, um senador, três vice-prefeitos e um ex-vice-prefeito.

Entre esses políticos tarimbados, estão ex-governadores como Amazonino Mendes (Podemos), que governou o Amazonas e tenta se eleger à Prefeitura de Manaus, e Maguito Vilela (MDB), que governou Goiás e está na disputa pela Prefeitura de Goiânia. Vilela concorre à vaga com Vanderlan Cardoso (PSD), que é senador.

Para o cientista político Humberto Dantas, coordenador de educação do CLP (Centro de Liderança Política), esse cenário com disputas tradicionais no segundo turno reflete um comportamento geral dos eleitores nessas eleições —de escolher candidatos conhecidos e evitar surpresas.

A pandemia fez com que eleitorado olhasse para quem está no poder. O eleitor se comportou como o agente de mercado que, diante da insegurança, aposta no que é mais seguro."

Já Maria do Socorro Braga, cientista política e coordenadora do programa de pós-graduação em Ciência Política da UFSCar, pondera que pandemia deixou o calendário eleitoral mais apertado e criou dificuldades para a realização de campanhas políticas devido às exigências de distanciamento social. Isso pode ter influenciado as estratégias dos partidos para emplacarem nomes no eleitorado.

"Há dificuldades para as lideranças em fazer atividades internas, estimular as pessoas a irem votar. Nesse cenário, uma estratégia adotada é a de focar em candidatos conhecidos, que tivessem razoável desempenho nas pesquisas qualitativas de opinião feitas pelas campanhas", afirma.

Ela lembra também que mudanças nas regras eleitorais podem ter tornado mais garantido para os partidos apostar em nomes conhecidos. A proibição de coligações partidárias para as eleições do legislativo municipal levou os partidos a apostarem em candidatos próprios a prefeito para dar visibilidade a seus vereadores. E o financiamento das campanhas com o uso de verbas do fundo eleitoral e das doações feitas apenas por pessoa física torna mais difícil o lançamento de novos nomes.

Os partidos apostaram que o eleitor iria preferir o político com bom desempenho nas pesquisas de opinião pública e mantiveram [nas chapas eleitorais] os atuais gestores onde podiam. Ou lançaram candidatos antigos para contornar o dispêndio que teriam para tornar um candidato conhecido."

Não à toa, muitos dos candidatos deste segundo turno que possuem curta trajetória política foram recentes campeões de votos em eleições municipais e estaduais. É o caso de Capitão Wagner (PROS), que disputa a Prefeitura de Fortaleza após ter sido o vereador mais votado na cidade em 2012 e o deputado estadual mais votado no Ceará em 2018. E de João Henrique Caldas, o JHC (PSB), deputado federal mais votado em Alagoas em 2014, que está concorrendo à Prefeitura de Maceió.

Sobrenomes conhecidos

A busca por nomes conhecidos também explica a presença nas disputas de filhos e netos de ex-governadores, que herdam a "bagagem política". É o caso da disputa no Recife entre João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos e neto de Miguel Arraes, e Marília Arraes (PT), neta de Miguel Arraes. Em Campos dos Goytacazes (RJ), Wladimir Garotinho (PSD), filho do ex-governador e ex-prefeito Anthony Garotinho (PROS), enfrenta Caio Vianna (PDT), filho do ex-prefeito de Campos Arnaldo Vianna (PDT)

"Não há mal nenhum não ter eleitos sem a cara do novo. Não é tudo que aparece como novidade que o eleitor irá acreditar", avalia Dantas.

Partidos tradicionais dominam 2º turno

A presença de nomes conhecidos do eleitorado também pode explicar o bom desempenho de partidos tradicionais que acabaram levando mais candidatos ao segundo turno. O PT continua na disputa em 15 prefeituras do país, seguido por PSDB em 14 cidades. O MDB está no segundo turno em 12 municípios e o PSD, em 10. O PSL, que em 2018 obteve desempenho surpreendente tendo como puxador de votos o presidente Jair Bolsonaro, está presente em apenas duas disputas.

No entanto, o embate entre PT e PSDB, que já dividiu o eleitorado, só ocorre em dois municípios: Caxias do Sul (RS) e Pelotas (RS). Na maioria dos municípios, PT e PSDB concorrem com partidos tradicionais do chamado centrão, como MDB, DEM e PL. Esses partidos também disputam entre si a cadeira de prefeito.

Dantas ressalta, entretanto, que a presença de PT, PSDB e MDB no segundo turno também não é sinal de força desses partidos. "Ainda que um ou outro conquistasse todas as vagas que ainda podem conquistar, terminarão com um menor número de prefeitos em comparação com o que elegeram em 2016", diz o cientista político.

O MDB, que em 2016 elegeu 1.028 prefeitos, teve 774 eleitos no primeiro turno deste ano. Já o PSDB decresceu de 793 em 2016 para 650 eleitos até agora. E o PT, que em 2016 já havia encolhido em 59,4% com os 256 prefeitos que elegeu, conta até agora com 178 eleitos.

Se grandes partidos encolhem, são siglas antes menores, mas também tradicionais, que crescem consideravelmente —como o PSD, que salta de 539 em 2016 para 650 prefeitos em 2020 e PP, que vai de 495 para 681. PSD e PP ainda podem garantir, respectivamente, mais 10 e cinco prefeitos no segundo turno destas eleições.

Destaque nas eleições estaduais e nacionais de 2018, o PSL não conseguiu resultados expressivos neste ano, estando presente em apenas duas disputas de segundo turno. Em Sorocaba (SP), a prefeita Jaqueline Coutinho (PSL) enfrenta candidato de outro partido do espectro da direita: o atual vereador Rodrigo Manga, do Republicanos.