Eleitor deve trocar "nova política" por experiência em 2020
A onda conservadora, patriota e antissistema que levou ao voto "contra tudo que tá aí" deve sair de cena neste domingo. Especialistas, integrantes de campanhas municipais e políticos dizem acreditar que a população vai, majoritariamente, escolher nomes com experiência em administração pública.
Um exemplo marcante desta mudança é a eleição na cidade de São Paulo. Em 2016, João Doria (PSDB) se apresentou com um perfil diferente e alardeava: "Não sou político, sou gestor". Deu certo e ele venceu em primeiro turno de forma inédita.
Bruno Covas (PSDB) era vice na chapa de Doria, assumiu o cargo com a eleição do companheiro para o governo do Estado. O prefeito tenta a reeleição com um discurso completamente oposto.
Nas propagandas de rádio e TV, ele não só se apresentou como político, mas disse que gosta da função. O posicionamento foi gravado em documento. Em seu programa de governo Covas escreveu: "Sou um homem público, um ser político".
A estratégia tem dado resultado e ele aparece na liderança das pesquisas. O professor de Ciência política da FGV-SP Marco Teixeira menciona que nesta eleição a preferência por renovação será substituída pela experiência.
A avaliação explica o motivo de Belo Horizonte, Campo Grande, Natal, Curitiba e Florianópolis apresentarem tendência de reeleger prefeitos em primeiro turno. Em Salvador, há previsão de definição em turno único e o favorito é o nome indicado pelo atual prefeito.
Teixeira ressalta a situação do Rio de Janeiro, onde Marcelo Crivella (Republicanos), nome apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sofre imensa rejeição e corre risco de ficar fora de segundo turno. Na cidade, o líder nas pesquisas é Eduardo Paes (MDB), a encarnação do político tradicional no Rio de Janeiro.
Integrantes de campanhas municipais em São Paulo ouvidos pelo UOL interpretam que os nomes eleitos na onda da "nova política" não apresentaram resultados e protagonizaram muitas polêmicas improdutivas. A situação fez a população cansar e buscar pessoas com experiência.
Campanhas apostam na experiência
A experiência virou arma nesta eleição. Na campanha, Covas não escondeu que é político e mostrou sua relação com o avô, que foi governador e candidato a presidente. Ele adotou uma propaganda de rádio e TV tradicional, apresentando sua história política e realizações da gestão. A estratégia rendeu o primeiro lugar nas pesquisas.
Ao final do debate da TV Cultura, na quinta-feira, integrantes da equipe de campanha do PSDB justificaram a opção. Explicaram que o eleitorado queria saber quem foi o homem que comandou a cidade nos últimos anos.
Covas também passou a campanha ressaltando que é um político experimentado, citou crises ocorridas em sua gestão, que incluem a pandemia de covid-19. Em várias ocasiões, ele fez questão de mostrar a falta de experiência de seus rivais. Nestas situações, terminava dizendo que os adversários vendiam sonhos e ele, realidade.
O desejo de um perfil com rodagem também foi captado por Márcio França, candidato do PSB à Prefeitura de São Paulo. Sempre que tem oportunidade, ele repete que foi prefeito reeleito em São Vicente e governador de São Paulo. Ser o único dos rivais de Covas a chefiar cargos do Executivo é um dos pontos usados por sua equipe para dizer que é o nome com mais chances contra o PSDB no segundo turno.
Fórmula de 2018 não deve funcionar
Outra maneira de encarar a mudança de humor do eleitorado é verificar como estão os candidatos que usam o discurso que fez sucesso em 2018. Há semanas, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), dizia que a gritaria e hostilidade aos adversários não teria êxito desta vez. Ele previa um desempenho melhor de candidatos moderados.
A intenção de votos de nomes como Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota) na eleição de São Paulo confirmam a previsão de Casagrande. Joice foi eleita com deputada federal em 2018 com mais de 1 milhão de votos. Neste ano, ela aparece com 3% no Datafolha divulgado ontem.
Arthur do Val tem um desempenho melhor, 6%. Mas o candidato está longe do desempenho obtido na última eleição, quando fez quase 500 mil votos para a Assembleia Legislativa de São Paulo.
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