Tales: Boulos passou pano para Janones e esse será ponto fraco na eleição
Colaboração para o UOL, em São Paulo
12/07/2024 13h20
O pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) "passou pano" para André Janones (Avante-MG) ao justificar seu parecer contra a cassação do deputado por suspeita de "rachadinha", afirmou o colunista Tales Faria no UOL News da manhã desta sexta-feira (12).
Na sabatina UOL/Folha nesta sexta, Boulos justificou seu parecer no relatório do Conselho de Ética. "Tem uma jurisprudência que diz o seguinte: o que ocorre antes da atual legislatura, do atual mandato com o parlamentar, não pode ser julgado. O que pode ser julgado é o que ocorre neste mandato, ou um fato novo relevante neste mandato. Foi por isso que se absolveu", disse.
Ele passou pano e esse é e será um ponto fraco na campanha de Boulos. Ele não está sendo coerente. Se existe uma prática no Conselho de Ética de só tratar de casos de mandato e ele não pode seguir diferente, não é verdade.
Se ele disse que é contra essa decisão do Conselho de Ética em relação aos outros deputados, ele tinha que, no relatório, manifestar: 'Voto pela cassação porque sou contra valer só durante o mandato'. É isso que ele deveria ter feito, seria coerente.
Ele não foi coerente porque ele justifica o fato do presidente Lula ter pedido voto para ele no palanque, ignorando que a legislação é contrária. Se ele segue tanto a legislação no Conselho de Ética, ele deveria seguir a legislação no palanque. Se não segue no palanque, também não precisaria seguir no Conselho de Ética.
Acho que Boulos vai sofrer isso durante toda a campanha. Ele tem que armar um argumento melhor, esse não é coerente. Tales Faria, colunista do UOL
Arquivamento do processo
Em junho, o Conselho de Ética aprovou o relatório do deputado Boulos e arquivou o processo de cassação de André Janones (Avante-MG). O relatório de Boulos recomendava o arquivamento do caso.
Janones foi acusado por ex-assessores de seu gabinete de praticar "rachadinha". Ele foi gravado em 2019 pedindo que funcionários arcassem com suas despesas pessoais.
O pedido de cassação foi apresentado pelo PL. Em seu parecer preliminar, Boulos defendeu a rejeição do processo com o argumento de que as suspeitas são do período em que o deputado ainda não ocupava o cargo na Câmara.
A gravação que expôs a suspeita contradiz a tese de Boulos. O caso veio à tona após a divulgação de uma conversa de Janones com alguns funcionários em fevereiro de 2019, e não de 2016, como argumentou o deputado no relatório. No áudio, Janones afirmou que os funcionários com maiores salários devolveriam parte do valor a ele para reconstruir seu patrimônio.
Janones nega a prática de rachadinha e alega que os áudios foram tirados de contexto. "É a segunda vez que trazem esse assunto para tentar me ligar a crimes. Em 2022, já fizeram isso durante a campanha, também com áudios fora de contexto. Essas denúncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialidade. Não são verdades, e sim escândalos fabricados", disse em maio.
Se a Justiça concluir que, no caso do deputado André Janones, houve crime, que ele seja punido.
Guilherme Boulos, deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo
Tales: Na disputa entre padrinhos, Boulos tem mais armas contra Nunes
Tales disse também que a disputa eleitoral pela prefeitura de São Paulo reflete o clima de polarização nacional entre Lula e Jair Bolsonaro e, dentro deste cenário, Boulos conta com um aliado mais forte do que o de Ricardo Nunes (MDB).
Boulos foi o segundo entrevistado na série de sabatinas do UOL e do jornal Folha de S. Paulo com os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo. Ele disse que a polarização com Nunes "é inevitável" e que "o apoio de Lula dá voto".
Boulos está um pouco mais livre, mas os dois são muito ligados aos seus padrinhos. A vantagem do Nunes com Bolsonaro é trazer um eleitorado conservador e do qual está atrás. A desvantagem é que Bolsonaro está desmilinguindo com denúncias de corrupção e Nunes não pode falar nada. Terá que pisar em ovos nesse ponto.
Para o Boulos, a desvantagem de estar ao lado do Lula são os antipetistas e aqueles mais arraigados, que não pretendem votar no PT de jeito nenhum. A vantagem, especialmente em São Paulo, é que a esquerda tem historicamente uma situação bem melhor do que no resto do Estado.
Boulos está mais preparado e tem mais armas para usar contra Nunes nesse caso do que vice-versa. Tales Faria, colunista do UOL
Josias: Nunes é refém de Bolsonaro, mas Boulos é 'lulodependente'
Guilherme Boulos acerta ao dizer que Ricardo Nunes (MDB) é refém de Jair Bolsonaro, mas o pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL também precisa do apoio de Lula nas eleições municipais, afirmou o colunista Josias de Souza.
Boulos faz uma provocação e, na prática, Nunes tem se revelado um refém do bolsonarismo porque não consegue se dissociar do Bolsonaro. O que lhe dá a característica de um refém é que ele atende a todos os caprichos do Bolsonaro; entre eles, o de acomodar como vice em sua chapa um ex-coronel da Rota [Ricardo Mello Araújo], imposto pelo Bolsonaro.
Nunes não o queria como vice, mas essa característica de refém fez com que ele o digerisse. Ele também não tem conseguido reagir adequadamente às denúncias que surgem contra o Bolsonaro, algumas delas convertidas em indiciamentos. Nunes não consegue se desvencilhar do Bolsonaro ao ponto de analisar adequadamente o drama criminal que assedia o ex-presidente.
Boulos tem razão ao dizer que Nunes é refém do Bolsonaro. Mas embora não seja refém do Lula, ele também aceitou a vice indicada pelo Lula [Marta Suplicy] e está insistindo para que o presidente interfira a ponto de mobilizar o PT para sua campanha.
Ele também tem um vínculo muito forte com o Lula e precisa dele. É preciso recordar que Lula venceu Bolsonaro na cidade de São Paulo. Boulos não pode se dizer um candidato independente do Lula; ele é 'lulodependente'. Josias de Souza, colunista do UOL
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