Boulos diz que é inevitável polarizar com Nunes e que apoio de Lula dá voto

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, avaliou que é "inevitável" que a disputa seja afetada pela polarização nacional. Em sabatina do UOL e do jornal Folha de S.Paulo, na manhã de hoje (12), ele atacou a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e listou moradia, saúde e emprego na periferia como prioridades em caso de vitória nas urnas.

A sabatina

O pré-candidato saiu em defesa do presidente Lula (PT) sobre ato de no Dia do Trabalhador. Ele foi questionado sobre o petista ter pedido voto para ele, Boulos, no feriado de 1º de maio, mas afirmou que o presidente "não errou". A Justiça Eleitoral considerou que houve propaganda eleitoral antecipada e multou Boulos e Lula no final de junho.

Para Boulos, a eleição de São Paulo deve priorizar os temas da cidade, mas com "impacto nacional". Segundo ele, a polarização acentuada nos últimos anos vai levar o cidadão a se perguntar "quem apoia quem".

Eu quero discutir os temas da cidade, mas é inevitável, ainda mais num país polarizado, em tudo que a gente viveu nos últimos anos, a gente saber quem apoia quem. A gente saber que o atual prefeito, por exemplo, botou um vice indicado pelo Jair Bolsonaro que acha que a polícia tem que tratar diferente quem mora nos jardins e quem mora na periferia.

Boulos chegou ao estúdio do UOL com sua equipe de assessores e com o deputado federal Rui Falcão (PT). O parlamentar tem sido o principal integrante do partido em auxiliar o psolista na pré-candidatura. Ele foi o responsável por costurar a aliança para chegada da pré-candidata a vice Marta Suplicy (PT).

Desvantagem com eleitorado de baixa renda

Boulos minimizou o fato de estar atrás de Nunes, nas pesquisas, entre as faixas de renda mais baixa. Ele afirmou que o eleitor que ganha até 2 salários mínimos é, em geral, o último a decidir em quem votar, e afirma estar "tranquilo" de que crescerá junto a este público no decorrer da campanha.

O pré-candidato do PSOL projeta que Nunes terá rejeição por ter apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Uma pesquisa Datafolha de julho apontou que 65% dos eleitores paulistanos rejeitam votar em candidato apoiado por Bolsonaro, enquanto a rejeição a um nome indicado por Lula (PT) é de 45%.

Boulos avalia que a polarização com Nunes é 'inevitável'. Segundo o psolista, a campanha deve ser centrada em temas que interessam á cidade de São Paulo, mas estão envoltas em um "pacto nacional".

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A maior parte do público de zero a dois salários mínimos, que está nas periferias sofrendo as consequências, não sabe que o Ricardo é apoiado pelo Bolsonaro, não sabe que eu sou apoiado pelo Lula, não conhece ainda o xadrez eleitoral de São Paulo e não conhece as propostas de cada um dos candidatos. Esse público ainda vai saber. Esse é o público que eu não tenho a menor dúvida que vou crescer.

Caso Janones

Boulos negou ter "passado pano" para o deputado André Janones (Avante-MG). O pré-candidato foi relator do caso que apurou as suspeitas de "rachadinha" de Janones no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, no início de junho, e votou para arquivar o processo de cassação contra o colega.

Para defender-se, Boulos repetiu um argumento focado apenas na jurisprudência do Conselho de Ética. Segundo essa regra, um deputado só pode ser punido no colegiado por um crime cometido naquela mesma legislatura. Como a suposta rachadinha de Janones ocorreu na legislatura passada (2019-22), ele não poderia ser punido no atual mandato, segundo Boulos.

Boulos afirmou que não poderia adotar "dois pesos e duas medidas". Segundo ele, a situação de Janones era semelhante à do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que também foi investigado por desvios de salário do gabinete quando era deputado estadual no Rio.

Eu acredito, independente de quem faça, que rachadinha é crime. Se for o Flávio Bolsonaro, é crime. Se for o Janones, é crime. Quem quer que seja, rachadinha para mim é crime. Agora, o que eu não posso é usar dois pesos e duas medidas

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Prefeitura poderá tomar prédios ociosos

Boulos afirmou que, se eleito, poderá tomar imóveis ociosos para fazer habitações de interesse social. Segundo ele, a ocupação irregular dos prédios costuma ocorrer porque a lei não é cumprida. "A lei diz que prédio que está abandonado tem que ser notificado. Não cumpriu função social, [tem que pagar] IPTU progressivo, e a prefeitura pode tomar para fazer habitação social. É isso que nós vamos fazer em relação a prédios abandonados", disse.

O pré-candidato afirmou que essa política começaria por prédios públicos. "A burocracia vem quando o prédio é privado e precisa de desapropriação judicial", afirmou, dizendo que pediu ao governo federal um levantamento de prédios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) abandonados no centro expandido da capital paulista. Segundo ele, há ao menos 30 imóveis nessa situação que poderiam ser usados.

São Paulo tem lei municipal que permite desapropriação de imóveis ociosos há 14 anos. De acordo com o Censo 2022, a cidade de São Paulo tem 588 mil imóveis vazios e quase 32 mil pessoas em situação de rua. Para ser desapropriado, imóvel precisa estar ocioso há cinco anos, no mínimo, e ter atingido o percentual máximo de IPTU progressivo, de 15%.

Em junho deste ano, Nunes anunciou intervenção em cinco imóveis na Sé, República e nos Campos Elíseos, todos no centro da cidade. Nunes tem tentado vincular sua gestão ao tema, com programas como o Pode Entrar e na aproximação com movimentos de moradia.

A lei diz que o prédio está abandonado, tem que ser notificado, não cumpriu função social, IPTU progressivo, e a prefeitura pode tomar para fazer habitação no interesse social. É isso que nós vamos fazer

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Ex-Rota na equipe de campanha

Boulos rejeitou comparações do ex-Rota que participa de sua pré-campanha com o indicado para vice de Nunes. "A atuação dele é historicamente buscar os direitos humanos", afirmou o psolista. Alexandre Gasparian ficou à frente da Rota por sete meses em 2015 — na época, ocorreu a chacina de Osasco, na Grande São Paulo.

O Gasparian ficou pouco tempo na Rota e quando ficou, atuou pela punição de policiais envolvidos em crime. Essa foi a atuação dele. Quando o Gasparian fez a primeira conversa comigo para entrar no nosso grupo de trabalho, o que é composto — é importante dizer — por ele, pelo Benedito Mariano que foi secretário de segurança de São Paulo, por gente da guarda, por gente da polícia civil, por organizações de direitos humanos, por gente do movimento negro

Quem é Guilherme Boulos

Guilherme Castro Boulos, 42, vai concorrer à Prefeitura de São Paulo pela segunda vez. Na primeira tentativa, em 2020, ele chegou ao segundo turno e teve mais de um milhão de votos, mas acabou derrotado por Bruno Covas (PSDB), morto no ano seguinte. Em 2022, foi eleito deputado federal por São Paulo com a maior votação para o cargo no estado.

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Filho de médicos, Boulos é formado em filosofia e mestre em psiquiatria, mas ficou conhecido pela atuação política. Ele começou sua militância no movimento estudantil e se tornou líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Em 2018, candidatou-se à Presidência da República e ficou em 10º lugar no primeiro turno, com pouco mais de 600 mil votos.

Boulos tem disputado a liderança nas pesquisas eleitorais com o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Na sondagem mais recente do Datafolha, divulgada na última segunda-feira (8), Nunes marcou 24% contra 23% de Boulos, um empate técnico — a margem de erro foi de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Próximas sabatinas

O UOL e o jornal Folha de S.Paulo promovem sabatinas com pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Pablo Marçal (PRTB) foi entrevistado no dia 10. No dia 15, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição, participa da sabatina às 10h. José Luiz Datena (PSDB) é o entrevistado do dia 16, também às 10h.

Ao todo, o UOL e a Folha vão promover sabatinas com candidatos à prefeitura de 17 cidades do país. Já aconteceram as sabatinas com Fuad Noman (PSD) e Rogério Correia (PT), em Belo Horizonte; Bruno Reis (União) e Kleber Rosa (PSOL), em Salvador; com João Campos (PSB), Gilson Machado (PL) e Daniel Coelho (PSD), no Recife.

Ainda acontecerão as sabatinas com candidatos a 13 prefeituras: Rio de Janeiro, Maceió, Manaus, Fortaleza, Curitiba, Guarulhos, São Bernardo, Santo André, Osasco, Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto e São José dos Campos.

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*Participaram dessa cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Caíque Alencar, Rafael Neves e Nathalia Florido (estagiária).

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