Tabata abandona versão 'certinha', foca em Marçal e aposta em crescimento

A candidata Tabata Amaral (PSB) modificou a rota de sua campanha após ver crescimento tímido nas pesquisas, e agora investe em uma nova estética para movimentar as redes sociais e a disputa pela prefeitura.

O que aconteceu

Desde julho, Tabata mantém 8% das intenções de voto. Durante a pré-campanha, o principal obstáculo da candidata era a polarização: sem o apoio de nenhuma das duas figuras políticas que disputaram as eleições presidenciais em 2022, Tabata tem ao seu lado como nome forte o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD).

Para puxar votos, ela contava com a popularidade de Datena, mas ele abandonou a chapa. A parceria com o apresentador era uma das táticas da parlamentar para que seu nome se tornasse mais conhecido entre os eleitores. Quando o tucano decidiu encabeçar uma chapa no PSDB, boa parte desses eleitores migraram e a campanha também precisou mudar de direção.

Sem o PSDB, ela perdeu tempo de TV e está em busca de votos nas ruas e nas redes sociais. Mesmo que Tabata diga "eu não sou a Virgínia" [referência à influenciadora Virgínia Fonseca], ela precisou aprender a usar a estética do Instagram, enquanto viu os seus adversários crescerem nas pesquisas.

Contra um influenciador, ela se dispôs a usar as armas dele. No mesmo mês em que a ultrapassou nas pesquisas, Pablo Marçal (PRTB) acusou Tabata de abandonar o pai dependente químico e a responsabilizou pelo seu suicídio. Nos últimos dias ela investiu em vídeos produzidos para falar das supostas ligações do influenciador com o PCC.

No vídeo, Tabata se veste de preto e reúne fotos de aliados de Pablo como se estivesse desvendando um crime. É uma estética que remete aos programas policiais — com direito a manipulação de luz, som de fundo e efeitos especiais. "Gera um gatilho em todo mundo que já assistiu esse tipo de programa", diz a especialista em marketing político, Fernanda Santos.

Ela dá a entender que é a solução. Uma pessoa que resolve os crimes e consegue decifrar casos. Ela leva para as pessoas a mensagem de que Pablo Marçal é um bandido e que vai resolver isso.
Fernanda Santos

A equipe da candidata espera que vídeos melhorem o desempenho de Tabata nas pesquisas e vão continuar investindo no formato. "Vamos ler o cenário dia a dia", diz Pedro Simões, marqueteiro da campanha.

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As redes de Tabata continuarão tendo uma estética que acompanhe a velocidade exigida ao conteúdo digital. Tem que ter proposta, tem que ter meme engraçadinho? Mas principalmente estamos em busca de conteúdos que utilizem uma estética que chame a atenção. Não precisa ser uma estética sombria, ou de denúncia, mas que seja atrativa para as redes.
Pedro Simões, marqueteiro de Tabata

Em um segundo vídeo, ela veste jaqueta de couro e reúne recortes de reportagens e fotos. Mais uma vez Tabata usou a estética do cenário de um crime para falar do histórico do adversário. "P de Pablo, C de Coach, C de Criminoso", diz Tabata no vídeo, em referência à facção PCC. Novamente, ela dá a entender que vai revelar mistérios do candidato do PRTB.

A intenção da equipe é criar uma imagem de mulher corajosa e forte. "No dia a dia ela se veste com tons claros, é uma mulher pequena, pode passar uma imagem de inexperiência da qual Tabata quer se distanciar", diz Santos.

Para Santos, Tabata já tem vantagem em comparação com os outros candidatos na internet. Mesmo não sendo influenciadora, ela cresceu na política com a internet e sabe usar as redes sociais a seu favor, quando preciso. "Não é uma proposta apenas do marqueteiro, ela também quer fazer", diz Simões.

"Claro que esperamos que o desempenho dela nas pesquisas melhorem", diz Simões. "Mas temos a consciência de que o desafio de torná-la conhecida é muito grande e que parte das intenções de voto que a Tabata tinha durante a pré-campanha vinham da parceria com Datena — e que ele levou esses votos."

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Esperamos que o desempenho nas pesquisas melhor, mas com consciência de que parte das intenções de votos na pré-campanha fossem para o Datena e que ele levou
Pedro Simões

Manipulando o discurso

Tabata não é a única a se posicionar contra Marçal de forma mais agressiva. Boulos e Datena já fizeram os seus próprios vídeos contra o adversário influenciador na disputa pelo espaço das redes sociais.

"Acordo informal" entre candidatos. "Existe um acordo informal entre eles de que o Marçal não é um problema eleitoral. Ele se tornou um problema político", avalia Santos. "Eles também já perceberam que o campo que dominam são as suas próprias redes e perfis. Nesses ambientes, as edições só beneficiam Marçal quando ele consegue manipular o discurso."

O que vai pro canal do Marçal só mostra o momento em que ele não foi desmoralizado, o restante do debate é facilmente esquecível na segmentação das redes. Vence o debate quem faz a melhor repercussão dele. Ela vem de uma nova leva de políticos que está acostumada com uma comunicação segmentada. Quero ver o Datena fazer isso.
Fernanda Santos, especialista em marketing político digital

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